Comissão visitará áreas de extração vegetal para apurar denúncias

Mais uma vez em pauta na Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, o debate sobre as co...

26/04/2006 - 00:00
 

Comissão visitará áreas de extração vegetal para apurar denúncias

Mais uma vez em pauta na Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, o debate sobre as condições de trabalho de terceirizados que atuam em empresas de extração vegetal do Estado reuniu, nesta quarta-feira (26/4/06), sindicalistas e executivos, que lotaram o Auditório da ALMG. A audiência pública foi motivada por denúncias recebidas pela comissão, contendo documentos, fotos e fitas de vídeo. O presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), disse que serão agendadas visitas aos locais das denúncias e que vai sugerir a formação de uma câmara setorial, na Delegacia Regional do Trabalho (DRT-MG), com a participação de empresários e trabalhadores, para debater especificamente questões da relação de trabalho na silvicultura.

As denúncias de violação dos direitos humanos para trabalhadores do setor foram apresentadas pelo presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas de Minas Gerais, José Maria Soares. O sindicalista criticou o número de terceirizações no setor (caso de 90% dos trabalhadores, contou) e fez um relato sobre as condições de trabalho que têm sido observadas em várias empresas, como falta de normas de segurança do trabalho e de atendimento médico em casos de acidentes, o que chega a causar a morte. Ele pediu que a Comissão de Direitos Humanos apoie a reivindicação, feita ao governo federal, de ampliação do corpo técnico da Delegacia Regional do Trabalho. "Os casos acabam nem aparecendo nas estatísticas", cobrou.

"Nos vários segmentos econômicos, a terceirização, e agora até mesmo a quarteirização, tem trazido conseqüências bastante sérias, pois muitas empresas não cumprem a legislação trabalhista", afirmou o delegado da DRT-MG, Antônio Roberto Lambertucci. Ele lembrou que a orientação da Delegacia é fiscalizar o cumprimento da legislação, mas reforçou que é preciso um trabalho em conjunto entre empresas, trabalhadores, órgãos públicos e a sociedade, para buscar soluções que dignifiquem a situação desses trabalhadores, focando o trabalho na prevenção dos riscos.

O chefe da Seção de Segurança e Saúde do Trabalho da DRT-MG, Ricardo Ferreira, informou que os casos mais graves de acidentes de trabalho acontecem em empresas que usam a terceirização, muitas vezes com falta de carteira assinada, equipamentos de proteção e até mesmo saneamento básico. Para ele, a fiscalização esbarra em dois problemas: o Estado tem dificuldade em cobrar a multa e as empresas, às vezes, preferem pagá-la que organizar o trabalho de maneira adequada. A falta de uma legislação clara sobre a terceirização também foi apontada pela chefe da Seção de Fiscalização da DRT, Doralice Gomes Lisboa. Mas, segundo ela, mesmo com as dificuldades estruturais, a DRT tem tomado providências sobre todas as solicitações que chegam.

Associação afirma estar disposta ao diálogo

Um desenvolvimento do setor com sustentabilidade, que mantenha a geração de lucro, sem descartar a disposição ao diálogo com os trabalhadores, é o objetivo dos empresários do setor florestal, como afirmou, na reunião, o presidente da Associação Mineira da Silvicultura, Germano Aguiar Vieira. Ele fez uma exposição sobre a necessidade e o volume da plantação de florestas de rápido crescimento no Brasil, que já atinge 5 milhões de hectares, sendo 23% desse total em Minas.

Segundo ele, o setor que cresce 3% a cada ano e gera 4,1 milhões de empregos no Brasil, tem procurado, a partir dos instrumentos de certificação florestal, obter melhorias nos aspectos sociais e ambientais, como monitoramento de água, flora e fauna dos sistemas, trabalho de educação ambiental e parcerias com as comunidades agrícolas. "Estamos abertos à parceria com a Delegacia", completou. A certificação florestal, como explicou a auditora da SGS ICS Certificadora Ltda., Áurea Nardelli, é um mecanismo que visa atestar publicamente que uma organização segue os requisitos pré-determinados por ONGs, poder público e entidades privadas.

Cenibra - O secretário da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Vale do Aço e ex-deputado, João Paulo Pires Vasconcelos, mencionou nomes de várias empresas que receberam autuações por diversas ilegalidades. O advogado de uma delas, a Cenibra S.A, Ney José Campos, afirmou que todas as denúncias foram respondidas adequadamente. Segundo ele, a Cenibra quer colaborar com a questão e qualquer nova denúncia deve ser levada ao conhecimento da empresa, para apuração. Ele também disse que a empresa está aberta à visitação dos deputados.

Deputado defende diálogo

Além de incentivar a formação de uma comissão de trabalhadores, empresas e a DRT, o deputado Durval Angêlo (PT) afirmou que a ALMG deve promover um debate público para discutir os problemas da terceirização na silvicultura - setor que já foi tema de vários debates no Legislativo. O deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) apoiou a iniciativa que a comissão visite as áreas de extração e defendeu que os sindicatos e a delegacia tenham garantida a liberdade de fiscalização.

O deputado Gustavo Valadares (PFL) defendeu o papel do setor da extração no desenvolvimento de várias regiões de Minas e criticou o discurso de que a terceirização tem sido responsável por problemas de relações trabalhistas. "É preciso respeito ao empresariado da área de reflorestamento", cobrou. O deputado Paulo Piau (PPS) afirmou que o trabalho digno deve ser preservado e também defendeu a importância das empresas que trabalham legalmente e contribuem para a geração de emprego no País. O deputado Célio Moreira (PSDB) cobrou a apuração de todas as denúncias feitas pelo sindicato e a aplicação de medidas concretas.

Desdobramentos da reunião em Pouso Alegre

Ainda na reunião desta quarta-feira (26/4/06), a Comissão de Direitos Humanos aprovou vários requerimentos, incluindo diversas providências sobre a reunião realizada em Pouso Alegre, no dia 20/4, sobre denúncias de contaminação de metais pesados pela empresa MS Metais Indústria e Comércio Ltda. Acompanhe os autores e os requerimentos:

* dos deputados Durval Ângelo e Roberto Ramos, para pedir ao presidente da Feam a apuração de possível contaminação ambiental e em funcionários causada pela MS Metais Indústria e Comércio; pedir ao médico do Hospital das Clínicas cópias de históricos e laudos médicos que indiquem doenças profissionais ou teores de metais pesados em trabalhadores da empresa; enviar as notas taquigráficas da reunião do dia 20/4, que discutiu o tema, para vários órgãos públicos; e pedir à Copasa monitoramento para detecção de metais pesados nas águas do Rio Mandu e ao INSS a relação de funcionários da empresa que foram licenciados ou afastados do trabalho por motivo de saúde.

* do deputado Ricardo Duarte (PT), para que a comissão apure denúncias do Movimento Libertação dos Sem Terra sobre ameaças e agressões que integrantes do Assentamento Paulo Faria - Fazenda Taquara, no município de Prata (Triângulo Mineiro), estariam sofrendo.

* dos deputados Padre João, Rogério Correia, Laudelino Augusto e Ricardo Duarte, todos do PT, além das deputadas Elisa Costa (PT) e Jô Moraes (PCdoB), pedindo a realização de reunião conjunta com a Comissão de Participação Popular. O objetivo é apurar denúncias de violência, tortura e violação de direitos constitucionais que teriam acontecido durante o I Encontro dos Movimentos Sociais Mineiros, que aconteceu na ALMG no início de abril, em paralelo ao encontro do BID, na Capital.

* do deputado Durval Ângelo, entre eles: para que a comissão participe de um seminário sobre regulamentação fundiária em Pirapetinga, no dia 8 de maio; para envio de ofício à chefia da Polícia Civil pedindo a reativação das delegacias especializadas de crimes contra a mulher das regiões do Barreiro e Venda Nova; e para envio de ofício aos presidentes de todas as câmaras municipais mineiras, pedindo apoio ao PLC Federal 37/06, e aos senadores da República, informando sobre a apoio da comissão ao mesmo projeto.

* do deputado Durval Ângelo e outros, para envio de ofício ao juiz da 6ª Vara da Fazenda Pública Estadual da Comarca de Belo Horizonte, pedindo providências sobre o caso da tenente Janine Gonçalves Faria, que figura como vítima de descumprimento de ordem judicial.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PSDB), vice, Paulo Cesar (PDT), Paulo Piau(PPS), Célio Moreira (PSDB) e Gustavo Valadares (PFL).

 

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