Dom Luciano Mendes pede reforma agrária pacífica em
Minas
Bem ao seu estilo prudente e calmo, mas firme nos
objetivos, o arcebispo de Mariana, Dom Luciano Mendes de Almeida,
pediu, em nome da justiça social, uma reforma agrária capaz de
atender a todos os agricultores sem-terra. O pedido foi feito
durante a solenidade em que a Assembléia Legislativa comemorou os 30
anos da sagração episcopal de Dom Luciano e os 100 anos de elevação
da Diocese de Mariana a Arquidiocese.
"O que o povo pede é simples: autonomia, respeito,
direitos. Muitos deixam sua terra porque já não conseguem viver
dela. Se a reforma agrária começar de Minas, sem lutas, sem
confrontos, de maneira pacífica e fraterna, estou certo de que o
Brasil inteiro vai seguir", disse o arcebispo, que falou também
sobre os dois problemas principais que destaca no Brasil de hoje: "o
mau estado das estradas, que coloca tantas vidas em perigo, e a
falta de empregos. Parece que está havendo uma atrofia congênita dos
empregos", disse o religioso.
Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida tem 75 anos e
nasceu no Rio de Janeiro. Desde os seis anos, na primeira
Eucaristia, decidiu que seria padre. "Tive que enfrentar muitas
contradições em minha vida, mas jamais tive dúvida da minha
vocação", declarou. Jesuíta, foi bispo auxiliar de Dom Paulo
Evaristo Arns, em São Paulo, depois secretário e presidente da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Assumiu a
Arquidiocese de Mariana em 1988, e em 1990 sofreu um grave acidente
de automóvel, cujas seqüelas limitaram sua ascensão na hierarquia
eclesiástica.
O requerimento da homenagem partiu dos deputados
Padre João (PT) e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB). Ribeiro Silva destacou
que a vida de Dom Luciano foi integralmente dedicada à propagação do
Evangelho. "É difícil encontrar homens de tal têmpera, caráter,
retidão e carinho para com seus semelhantes", afirmou o parlamentar.
Padre João foi pároco subordinado à Arquidiocese de
Mariana. Iniciou seu discurso pedindo perdão a Dom Luciano por
enaltecer as virtudes de um homem cuja modéstia é lendária e por
retirá-lo, ainda que por uma noite, do seu trabalho pastoral.
Revelou que a Diocese de Mariana foi criada em 1748, e seu primeiro
bispo veio do Maranhão numa viagem de 14 meses a cavalo: "Em mais de
dois séculos, tivemos apenas oito bispos e quatro arcebispos, sendo
sete deles congregados e cinco seculares".
Dom Luciano recebe título de cidadão honorário de
Minas
O deputado destacou em Dom Luciano principalmente a
qualidade e a abrangência do trabalho pastoral e a proteção
específica que estendeu aos índios e aos quilombolas. "Fiquei
definitivamente marcado por uma frase que ele proferiu ao
estimular-nos ao trabalho pastoral. Dom Luciano disse que nenhuma
paróquia deveria se sentir confortável para celebrar a Eucaristia se
não tivesse um trabalho social profundo e coerente".
O 2º vice-presidente da Assembléia, deputado
Rogério Correia (PT), que presidiu a solenidade, destacou o grande
trabalho de solidariedade desenvolvido pela Arquidiocese de Mariana,
como a manutenção das santas casas de Misericórdia e a construção de
magníficas igrejas pelas ordens terceiras. Em Dom Luciano destacou a
educação do povo para o exercício responsável da cidadania, e sua
luta contra os ódios e os ressentimentos do período ditatorial.
O homenageado recebeu das mãos dos três deputados
uma placa comemorativa da data e do secretário de Estado de Governo,
Danilo de Castro, o título de cidadão honorário de Minas Gerais,
outorgado pelo governador Aécio Neves. Crianças atendidas pela
Pastoral da Criança de Mariana cantaram a canção "Vida é", predileta
do arcebispo. Dom Luciano revelou que a canção foi composta a partir
de depoimentos colhidos das crianças ao longo dos últimos 20
anos.
Participaram da homenagem os deputados Rogério
Correia, 2º vice-presidente; Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) e Padre João
(PT); secretário de Estado de Governo, Danilo de Castro; Padre
Marcelo Santiago, da Arquidiocese de Mariana; o bispo auxiliar de
Belo Horizonte, Dom Aluísio Vidal; o deputado federal César Medeiros
(PT-MG), e o procurador-geral do Estado, Jarbas Soares Jr.
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