Projeto federal que coíbe violência familiar é debatido em
comissão
Destinada originalmente a discutir projeto de lei
que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar, a
reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de
Minas Gerais, nesta segunda-feira (24/4/06), serviu também para
debater as agressões contra grupos desfavorecidos, especialmente as
mulheres. Entidades e órgãos públicos de defesa das mulheres
participaram da audiência pública que enfocou primordialmente o
Projeto de Lei 4.559/04, de autoria do Poder Executivo, já aprovado
pela Câmara dos Deputados, e que agora, no Senado Federal, recebeu a
nomenclatura de PLC 37/06.
Além de tratar do PL, a titular da Delegacia
Especializada de Crimes Contra a Mulher, Silvana Fiorilo Rocha
Resende, relatou problemas enfrentados pelo órgão e situações
envolvendo violência contra mulheres trazidos a ela. De acordo com
Silvana Rocha, para atender à Capital, atuam hoje apenas ela e mais
duas delegadas, sendo que foram desativadas as unidades de Venda
Nova e do Barreiro. Ela reclama ainda da falta de um legista na
própria delegacia para fazer o exame de corpo de delito nas vítimas.
Atualmente, todas elas são obrigadas a se deslocarem ao Instituto
Médico Legal (no bairro Nova Gameleira), o que só aumenta o
constrangimento.
Críticas - A morosidade da
Justiça também foi criticada pela delegada. "Se uma mulher for hoje
dar queixa de agressão, ela só vai ser ouvida daqui a um mês!" Nesse
sentido, ela achou importante a previsão no novo projeto de que o
juiz terá que se manifestar, em no máximo 48 horas após a queixa,
apesar de lembrar que os juizados só funcionam em esquema de plantão
nos fins de semana. Outra distorção, na opinião de Silvana Rocha, é
a tendência do Juizado Especial Criminal de tentar o acordo também
nos casos envolvendo violência contra a mulher, o que não seria
adequado, na visão dela. A delegada fez ainda um desabafo: "o que me
entristece é que todos acham que a solução desse tipo de problema é
com a Delegacia de Mulheres. Infelizmente não é assim. Está muito
mais nas mãos do Judiciário".
Defensor julga projeto ineficiente para mulher e
agressor
Analisando a lei do ponto do vista do ordenamento
jurídico, o defensor público Eduardo Cavalieri avaliou que o
projeto, da forma como está, mostra-se ineficiente para a defesa da
mulher e também do acusado. Ele cita o artigo 12, que trata das
providências que poderão ser tomadas pela Delegacia da Mulher: a lei
atual prevê o Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO),
substituindo o inquérito, quando se trata de violência contra a
mulher. Já o novo projeto tornou confusa a situação, ao acrescentar
providências que, a seu ver, seriam incompatíveis com o TCO. Quanto
ao prazo previsto para o juiz se pronunciar (de 48 horas), ele
julga-o insuficiente para um mínimo de segurança jurídica. Quanto à
possibilidade de decretar prisão preventiva do agressor, Cavalieri
pondera que "para aplicar qualquer penalidade é preciso o devido
processo legal". Ele defende que "não é razoável decretar prisão
preventiva quando outras medidas surtiriam efeito".
Desse último ponto levantado por Cavalieri discorda
o presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT). Para ele, em
muitos casos, há risco real de morte para a mulher, como em
tentativas de assassinato, torturas, em que a prisão preventiva
seria a única forma de garantir a vida dela. Ele também destacou que
já se fala num movimento no sentido de mudar o artigo 21 do texto do
projeto no Senado, que trata da prisão preventiva. Também
discordando do defensor público, a delegada Silvana Rocha ressalvou
que a autoridade policial pode pedir a preventiva, mas se o
Judiciário e o Ministério Público vetarem, a prisão não se
efetivará.
Aspra denuncia assédio moral em Valadares
Ainda na reunião, o presidente da Associação dos
Praças, Policiais, Bombeiros e Militares (Aspra), José Luiz Barbosa,
denunciou que a tenente Janine Gonçalves, do Corpo de Bombeiros de
Governador Valadares, vem sendo vítima de assédio moral por parte de
sua chefia. Tudo começou depois que ela denunciou a cobrança
irregular, por parte do comandante da corporação no município, de
taxa de segurança pública relativa a uma festa promovida na cidade.
Devido à denúncia, o Corpo de Bombeiros, em vez de punir o comando,
transferiu a tenente para Belo Horizonte. De acordo com Barbosa, a
Aspra ingressou com ação na Justiça e conseguiu anular o ato
administrativo, encaminhando a tenente de volta a Valadares. Só que
a partir daí, ela passou a ser pressionada e desacreditada frente a
seus colegas de corporação, segundo José Barbosa.
Medidas - Como medidas em
relação ao assunto tratado na reunião e à denúncia da Aspra, Durval
Ângelo informou que iria aprovar requerimentos solicitando
providências. Ele disse que o relato da denúncia envolvendo a
tenente seria passado para todas as entidades presentes para que se
manifestassem publicamente sobre o caso. O parlamentar anunciou
também que irá encaminhar ofício a todos os 81 senadores,
manifestando a posição da ALMG e da Comissão de Direitos Humanos
pela aprovação do PLC 37/06, na forma do Substitutivo aprovado na
Câmara dos Deputados.
Outro encaminhamento dado por Durval foi o de
mandar ofícios às 853 câmaras municipais do Estado, solicitando que
enviem moções pedindo a aprovação do projeto. Esse mesmo ofício
deverá também ser enviado aos três senadores mineiros - Eduardo
Azeredo (PSDB), Aelton de Freitas (PL) e Wellington Salgado (PMDB) e
ao presidente do Senado, Renan Calheiros. Por último, Durval disse
que irá pedir, por meio de ofício, ao chefe da Polícia Civil, Oto
Teixeira Filho, a reativação das delegacias de mulheres no Barreiro
e em Venda Nova.
Presenças - Participaram da
audiência, além do deputado Durval Ângelo (PT), presidente da
comissão; os seguintes convidados: a presidente interina do Conselho
Estadual da Mulher, Maria de Nazaré Barreto de Carvalho; a titular
da Delegacia da Mulher de Belo Horizonte, Silvana Fiorilo Rocha
Resende; a coordenadora Regional da Rede Feminina de Saúde, Neuza
Cardoso de Melo; o defensor público, Eduardo Cavalieri Pinheiro; e a
presidente do Conselho Municipal de Direitos da Mulher, Dirlene
Marques.
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