Direitos Humanos recebe denúncia de grilagem no Triângulo

A denúncia de grilagem de terra no município de Santa Vitória, no Triângulo Mineiro, dominou as atenções na reunião d...

06/04/2006 - 00:00
 

Direitos Humanos recebe denúncia de grilagem no Triângulo

A denúncia de grilagem de terra no município de Santa Vitória, no Triângulo Mineiro, dominou as atenções na reunião desta quinta-feira (6/4/06), da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa. O proprietário rural Juarez Távora Morais Lorena e seu filho, o empresário Fausto Borges Lorena, denunciaram à comissão que foram vítimas de um golpe no qual tentaram tomar deles a fazenda de propriedade da família desde 1929. Segundo as informações prestadas, o golpe teria sido cometido por uma empresa com sede no Estado de Goiás, contando com a ajuda da juíza e alguns servidores da comarca de Santa Vitória, além de integrantes da Polícia Militar local.

Fausto Borges contou que, em 1960, seu avô foi citado num processo de divisão da fazenda. De acordo com ele, a citação seria irregular, uma vez que seu avô estava de cama à época, vindo a falecer meses depois, não tendo, portanto, condições de receber tal citação. Só depois de 20 anos, conta o empresário, é que sua família foi surpreendida com a notícia de que um engenheiro havia "tomado posse" da propriedade, em conseqüência de decisão favorável no processo divisório. Fausto Borges questionou a posse concedida, uma vez que esse processo discutiria apenas limites e confrontações do terreno, não a sua posse.

Invasão - Continuando o relato, Borges lembrou que, em 2003, a juíza de Santa Vitória, Izabel Prudêncio de Freitas, excluiu o pai dele do processo. Estranhando a decisão, o empresário veio ao Tribunal de Justiça em Belo Horizonte, e conversou com o desembargador Reinaldo Ximenes, que tranqüilizou-o afirmando que a decisão não se sustentava. Mas para sua surpresa, em 2005, policiais e um oficial de Justiça identificado como Wilker, invadiram a propriedade e fizeram uma cerca em parte dela, alegando "imissão (tomada) de posse" de 190 hectares (de um total de 690 hectares). A autora da ação judicial foi a empresa Agropecuária Viana do Castelo, que, de acordo com Fausto, seria formada por conhecidos "demandeiros", que comprariam títulos prescritos para promover operações ilegais.

"A juíza rasgou a lei e a Constituição Federal, ao dar ordem para invasão de um propriedade de mais de 60 anos, com escritura e posse registradas e respeitada pelos vizinhos", indignou-se o empresário. Fausto reclamou ainda do fato de ele e seu pai terem sido punidos por um processo do qual haviam sido excluídos pela juíza. "Onde está o devido processo legal para nos tirar a posse da propriedade?", questionou.

No dia seguinte à invasão, o empresário se dirigiu ao fórum para conversar com a juíza, mas ela teria reagido com nervosismo afirmando que a família deveria ter feito acordo com a outra parte. Indignado, Juarez Távora Morais, pai de Fausto, respondeu que não faria acordo nenhum com relação à propriedade, que era sua por direito. Estranhamente, a juíza respondeu que estava sendo ofendida, segundo Fausto.

MP estranha decisões de juíza

Também presente à reunião, o procurador do Ministério Público Afonso Henrique de Miranda Teixeira afirmou estranhar algumas decisões da juíza Izabel de Freitas em outras situações. Ele se referia aos processos que investigam a formação de milícias para combater trabalhadores rurais sem-terra em fazendas em Santa Vitória e região. De acordo com Afonso Henrique, ela pediu a prisão temporária de dois comprovados organizadores dessas milícias, em outubro de 2005. E quatro meses depois, revogou o pedido de prisão temporária. O presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT) perguntou se a juíza não estaria descumprindo uma decisão do TJMG. O procurador respondeu que, para mudar a decisão do Tribunal, teria que haver fatos novos, o que não ocorreu, segundo ele.

Providências - Como providências da comissão, Durval Ângelo anunciou que iria solicitar investigações por parte da Corregedoria de Justiça do TJMG quanto à atuação da juíza, do oficial Wilker, do perito Edivaldo e de outro oficial de Justiça, todos envolvidos no caso. Para facilitar esse trabalho, a comissão vai encaminhar as notas taquigráficas, bem como as fitas de vídeo da reunião, além das fitas cassete, fotos e documentos encaminhados pelo empresário Fausto Borges.

Parecer - Na reunião foi também aprovado o parecer de 1º turno ao Projeto de Lei 1.987/04, do deputado Ricardo Duarte (PT), que estabelece diretrizes para as ações do Estado na prevenção e na redução de danos causados à saúde pelo uso constante de substâncias causadoras de dependência química. O parecer do relator, Durval Ângelo, foi pela aprovação na forma do substitutivo nº 1, da Comissão de Saúde.

Requerimentos aprovados

Foram aprovados os seguintes requerimentos dos deputados: André Quintão (PT) e Doutor Ronaldo (PDT), pedem audiência pública conjunta da comissão com a de Participação Popular para integrar as atividades do Dia de Luta dos Povos Indígenas; Biel Rocha (PT), solicita audiência pública para debater a situação de cinco cubanos encarcerados nos Estados Unidos desde 1998; Durval Ângelo, Paulo Cesar (PDT) e Gustavo Valadares (PFL) requerem envio de ofício ao comandante-geral da PMMG pedindo apuração da denúncia de invasão da residência de Antônio Barão, por policiais militares, no município de Itinga;

Sete requerimentos de Durval Ângelo também receberam aprovação, solicitando: que a reunião desta quinta-feira (6) seja destinada a debater possíveis violações de direitos humanos relacionados com conflitos agrários em Santa Vitória, e que seja ouvido também o procurador Afonso Henrique de Miranda Teixeira; visita da comissão com a Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude à Escola Municipal Professor Daniel Alvarenga para debater a defesa dos direitos da criança e do adolescente; participação da Consultoria da comissão no Fórum de Direitos Humanos, no próximo dia 10 de abril, às 15 horas, no Conselho Regional de Psicologia; envio de manifestação de aplauso ao provedor da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, Dr. Saulo Coelho, pelo apoio prestado à comissão; envio de ofício à Secretaria de Políticas Sociais de Belo Horizonte, para que estude a possibilidade de implantar um Centro de Referência Multidisciplinar para a pessoa com deficiência em cada Administração Regional, atendendo ao que foi deliberado pelas conferências Municipais da Criança e do Adolescente e da Assistência Social; e envio de correspondência à BHTrans para que estude a viabilidade de estender o benefício de gratuidade no transporte coletivo aos maiores de 18 anos com deficiência leve ou moderada.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Paulo Cesar (PDT) e Gustavo Valadares (PFL); e deputada Maria Olívia (PSDB).

 

 

 

 

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