Acidente ambiental ainda gera reclamações na Zona da Mata

O desastre ecológico decorrente do vazamento de uma barragem de rejeitos da Mineração Rio Pomba, em 1o de março deste...

06/04/2006 - 00:00
 

Acidente ambiental ainda gera reclamações na Zona da Mata

O desastre ecológico decorrente do vazamento de uma barragem de rejeitos da Mineração Rio Pomba, em 1o de março deste ano, na Zona da Mata, pode ter sido de grandes proporções ou insignificante, dependendo do interlocutor ou do ponto de vista. Na audiência pública conjunta das comissões de Meio Ambiente e Recursos Naturais, de Política Agropecuária e Agroindustrial e de Participação Popular da Assembléia Legislativa, realizada nesta quinta-feira (6/4/06) em Muriaé, o acidente ocorrido em Miraí foi considerado infração gravíssima pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), que aplicou multa de um milhão de reais no empreendedor.

Segundo Regina Maia Guimarães, da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), que sobrevoou a área no dia seguinte ao acidente, 400 mil metros cúbicos de lama de rejeitos de bauxita inundaram o Córrego Bom Jardim e o Rio Fubá, matando duas toneladas de peixe e poluindo as bacias dos rios Muriaé e Paraíba do Sul.

O coronel de bombeiros Douglas Paolich Jr., da Defesa Civil do Rio de Janeiro, foi dramático: "Um milhão de pessoas ficaram uma semana sem abastecimento de água. Os prejuízos para a ictiofauna são incalculáveis. O pior é que o Estado de Minas Gerais está ficando com fama de irresponsabilidade ambiental diante da opinião pública fluminense", disse o coronel, que considera o acidente atual mais grave que o da Companhia de Celulose Cataguazes-Leopoldina, ocorrido há três anos.

O empresário Carlos Gilberto Ferrini, da Mineração Rio Pomba, por sua vez, disse que não houve rompimento da barragem, mas apenas um vazamento medido de 130 mil metros cúbicos, dos quais 70 mil metros cúbicos eram água. Para ele, não cabem duas toneladas de peixe no estreito córrego, e a carga de sólidos não teria como chegar a Lages do Muriaé (RJ), a 60 km de distância. "A estação de tratamento de água deles é subdimensionada. Os problemas de abastecimento ali são crônicos", afirmou, acrescentando que nenhum sistema da Copasa teria sido afetado por não captar água do Rio Muriaé.

No entanto, o militar carioca sustenta que o índice de turbidez tolerável é de 100 partes por milhão (ppm), e que chegou a 31 mil ppm no dia seguinte ao acidente. "Há uma camada de 30 cm de lama no fundo do Rio Muriaé, destruindo o habitat dos peixes", afirmou.

Deputados questionam morosidade

Os deputados questionaram o tempo muito longo, de 17 horas, decorrido entre o vazamento e o comunicado às autoridade ambientais, e as outras sete horas que se passaram até que fosse acionada a Defesa Civil do Rio de Janeiro. Os deputados Laudelino Augusto e Padre João, ambos do PT, foram informados no mesmo dia e cobraram uma ação imediata do governo do Estado.

O secretário de Estado do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, e o presidente da Feam, Ilmar Bastos, deslocaram-se imediatamente para Miraí, traçando ações emergenciais em conjunto com a defesa civil dos dois estados. Para atendimento às cidades, foi montado um esquema de caminhões-pipa que envolveu as prefeituras, o governo do Rio e a própria empresa Rio Pomba. Esta também controlou o vazamento em seis dias, evitando que escoassem os 3,8 milhões de metros cúbicos armazenados na barragem, que tem 30 metros de altura.

Mesmo assim, o empreendimento foi interditado por resolução do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) em 6 de março. Além da barragem da Fazenda do Cruzeiro, em Miraí, foi interditada também a barragem da mina Sítio da Serra, em Mercês. A primeira foi liberada no dia 31 de março, provisoriamente. Mas a segunda ainda depende de laudo de auditoria técnica. A previsão é que volte a funcionar só no final do ano.

Tragédia anunciada - Eduardo Nascimento, da Federação dos Trabalhadores em Agricultura (Fetaemg) e do Copam, questionou a validade dos condicionantes estabelecidos pela Feam, que havia feito vistoria na barragem um mês antes do acidente, sem ver indícios de vazamento. Ele criticou também a liberação provisória do empreendimento com base em laudo particular. O prefeito de Miraí, Sérgio Luís Resende, lamenta o acidente e os transtornos causados aos cariocas, mas lembra que o município é pobre e não pode ficar sem os 180 empregos gerados pela mineração.

Na platéia, a maioria das pessoas tinha sido mobilizada pelas entidades de trabalhadores rurais e por organizações ambientais. No entanto, não há um cadastro de famílias atingidas, como comprovou o deputado Laudelino Augusto. A mineradora admite que prejudicou apenas quatro fazendas imediatamente abaixo da barragem.

Chorando sobre a lama derramada

O deputado Padre João criticou a assinatura de um termo de ajustamento de conduta entre o Ministério Público, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), a Feam e a empresa, sem a participação de representantes das comunidades atingidas pelo acidente. Já o deputado Laudelino Augusto cobrou a regulamentação da Lei 15.399. Originada de projeto de sua autoria, essa lei foi aprovada há dois anos, e exige relatório de risco ambiental para todos os empreendimentos potencialmente poluidores no Estado.

O deputado Biel Rocha (PT) lembrou que na audiência realizada em Rosário da Limeira em agosto do ano passado, o ambientalista Glauco Régis mostrou uma foto da barragem em Miraí e alertou que ela seria rompida. "Estamos chorando sobre a lama derramada", disse Biel. O deputado André Quintão (PT) informou que naquela mesma reunião, foram aprovados três requerimentos de sua autoria com pedidos de providências. Ele lembrou que a ALMG fez a sua parte, mas as autoridades ambientais não tomaram providências. "O acesso à documentação de impacto ambiental é direito de qualquer cidadão que possa se atingido por um acidente", defendeu.

Presenças - Deputados Laudelino Augusto (PT), que presidiu a reunião; André Quintão (PT), Doutor Ronaldo (PDT), Padre João (PT) e Biel Rocha (PT).

 

 

 

 

 

 

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