Acesso à educação e ao transporte ainda é restrito para deficientes

O tema da Campanha da Fraternidade de 2006 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), "Fraternidade e pesso...

05/04/2006 - 00:01
 

Acesso à educação e ao transporte ainda é restrito para deficientes

O tema da Campanha da Fraternidade de 2006 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), "Fraternidade e pessoas com deficiência", motivou a realização de uma audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, nesta quarta-feira (4/4/06), no Barreiro de Cima, em Belo Horizonte. Centenas de pessoas, entre representantes de entidades que lidam com portadores de deficiência, pais e amigos daqueles que necessitam de cuidados especiais lotaram o Salão Paroquial da Igreja Cristo Redentor. De acordo com dados do IBGE, em 2000, havia em Minas Gerais 2,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência ou necessidade especial, cerca de 14% da população.

O deputado Durval Ângelo (PT) ressaltou a importância da defesa dos direitos do deficientes, lembrando a batalha mais recente, pelo cumprimento da lei que obrigava as empresas de ônibus a adaptarem os veículos. O subsecretário de Estado de Direitos Humanos, João Batista de Oliveira, presente à reunião, disse que não foi fácil conseguir que 25% dos ônibus da capital fossem adaptados, por causa da pressão que os donos das empresas exerceram sobre os vereadores de Belo Horizonte. "Com muito custo conseguimos os 25%, mas temos que continuar lutando para que haja 100% de adaptação", disse o subsecretário.

O deputado Paulo Cesar (PDT) elogiou o trabalho do subsecretário e da própria Comissão de Direitos Humanos e lembrou que há dois anos apresentou um projeto para obrigar as empresas a instalarem banheiros nos ônibus intermunicipais com trajeto acima de 80 quilômetros, o que também ajudaria muito os portadores de deficiência, mas não conseguiu aprová-lo.

Outro avanço, segundo João Batista, foi o direito ao passe livre para os acompanhantes. Mas isso também precisa ser revisto, de acordo com ele. "Só podemos ter acompanhante se vamos ao médico, não podemos passear, visitar um amigo ou parente. Só nos dão direito de sermos doentes!", desabafou. O coordenador da Coordenadoria Municipal de Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência de Belo Horizonte, José Carlos Dias Filho, confirmou que a prefeitura está fazendo uma revisão na questão dos passes livres, porque, segundo ele, havia muita gente com o passe indevido. Mas negou que essa revisão seja prejudicial para os usuários e garantiu que o Conselho Estadual de Defesa das Pessoas Portadoras de Deficiência está acompanhando todo o processo.

Escola ruim para todos, pior ainda para o deficiente

Grande parte das reclamações levadas à audiência foram sobre a dificuldade de inserção dos portadores de deficiência nas escolas regulares, principalmente os que têm algum tipo de problema mental. A vice-presidente da Associação dos Pais e Amigos dos Portadores de Necessidades Especiais (APAPNE-MG), Gilda Maria Silva, chamou a atenção para a situação dos autistas. Ela lembrou que a legislação vigente no País prevê que o Estado pague as despesas de uma escola particular, caso não haja uma escola pública para atendê-los. "O problema é que não há escolas preparadas para receber essas pessoas e ajudar no desenvolvimento delas, nem públicas, nem particulares", afirmou. O subsecretário João Batista de Oliveira lembrou que a defesa da chamada "escola inclusiva", pública e de boa qualidade, deve ser uma bandeira constante dos Direitos Humanos. "Se a escola está ruim para todos, pior ainda para o deficiente", ponderou João Batista.

O superintendente da Coordenadoria de Apoio e Assistência à Pessoa Portadora de Deficiência, Flávio Couto e Silva, que é cego, conclamou os presentes a se mobilizarem pela aprovação, no Congresso, do Projeto de Lei 6/2003, que contém o Estatuto dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência. Ele também pediu às pessoas que se organizem para viabilizar a formação de cursos de Braile e de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais) nas paróquias e centros comunitários, para facilitar a inclusão dos portadores de deficiência. Em resposta, o subsecretário João Batista disse que vai incluir Braile e Libras na grade de cursos de capacitação oferecidos pela Secretaria. Ele pediu às escolas, professores e pessoas interessadas, que formalizem o interesse junto à Subsecretaria de Direitos Humanos.

Durante a audiência, o subsecretário anunciou a criação do Escritório de Advocacia de Direitos Humanos, que funciona na rua Santa Catarina, 1.609. A novidade é que o Estado paga advogados para defender causas coletivas, muitas vezes contra o próprio Estado.

O pároco da igreja, Márcio Antônio Vidal de Negreiros, que solicitou ao deputado Durval Ângelo a realização da audiência, enfatizou a tradição de sua paróquia em defesa dos direitos sociais e da não-discriminação. De acordo com o padre, a Campanha da Fraternidade 2006 tem como lema a inclusão social e reflete os ensinamentos do próprio Jesus Cristo.

Direitos Humanos no Chile - Antes de iniciar a discussão sobre os direitos dos portadores de deficiência, o deputado Durval Ângelo falou sobre o sofrimento de Juana Calfunao Paillalef, uma chilena de 50 anos, mãe de 10 filhos, que está presa e vem sendo torturada há vários anos, por defender os direitos de um grande grupo de indígenas em seu país. Os Maputes, ou "povos originários", como são chamados, são atualmente cerca de 3 milhões de pessoas. A chilena foi liberada da prisão para vir ao Rio de Janeiro, onde recebeu a "Medalha Chico Mendes" de resistência, e veio a Belo Horizonte nesta quarta-feira. Juana estava presente na reunião da Comissão de Direitos Humanos. Chamada pelo deputado Durval Ângelo, foi até a frente e falou um pouco aos presentes sobre a história de luta e resistência de seu povo.

Mobilização na Praça Sete - O deputado Durval Ângelo anunciou, durante a reunião, que no dia 3 de maio próximo, às 14 horas, haverá uma concentração na Praça Sete de moradores e lideranças da região do Barreiro. De lá, seguirão para a prefeitura, onde entregarão um abaixo assinado ao prefeito Fernando Pimentel e ao secretário municipal de Saúde, Helvécio Miranda, reivindicando a ampliação de um posto de saúde na Vila Cemig, pleito antigo dos moradores. As 7.500 assinaturas que constam no abaixo assinado foram recolhidas após reunião dos conselhos de saúde da região do Barreiro.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente, e Paulo Cesar ( PDT).

 

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