Aplicação da Lei Antimanicomial é criticada na Assembléia

Críticas de familiares de deficientes mentais com relação às políticas públicas de atendimento aos portadores de defi...

04/04/2006 - 00:00
 

Aplicação da Lei Antimanicomial é criticada na Assembléia

Críticas de familiares de deficientes mentais com relação às políticas públicas de atendimento aos portadores de deficiência mental marcaram a reunião desta terça-feira (4/4/06) da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social. As principais divergências envolveram a política de implantação da Lei Antimanicomial, justificativa apresentada por representantes da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e pelo governo do Estado para adoção de medidas que levaram ao fechamento de algumas clínicas particulares dedicadas ao atendimento de pacientes com necessidades especiais, inclusive crianças autistas.

Um dos casos que mais causou protestos dos participantes da reunião envolveu o Hotel Crescer, clínica que hoje funciona com base em uma decisão liminar da Justiça em Nova Lima, após o governo do Estado ter pedido seu fechamento. Antes disso, a mesma instituição já havia sido fechada em 2005, quando ainda funcionava em Belo Horizonte, por determinação da prefeitura. De acordo com a presidente da Associação de Pais e Amigos de Portadores de Necessidades Especiais (Apape), Estela Mares de Souza, tanto a prefeitura quanto o Estado consideraram que o Hotel Crescer oferecia um tratamento inadequado aos pacientes, contrário à política para sua inclusão social, avaliação da qual ela discorda. "Eles fizeram essa avaliação baseados só nas fichas dos pacientes, sem ouvir os profissionais", afirmou Estela.

A coordenadora municipal de Saúde Mental de Belo Horizonte, Rosimeiri Silva, defendeu a política pública, inspirada na Lei Antimanicomial. "Hospício é um lugar de exceção. Ele nasce como um lugar de exclusão da diferença", afirmou. Segundo ela, a prefeitura oferece diversas alternativas aos portadores de deficiência mental e suas famílias, como os sete Centros de Referência em Saúde Mental (Cersams), 65 equipes de saúde mental e nove equipes para atendimento pediátrico.

As alternativas apresentadas pela prefeitura foram criticadas pelos familiares dos pacientes, que denunciaram deficiências de atendimento nos serviços municipais, inclusive maus tratos contra pacientes atendidos nos Cersams. Entre os problemas relatados, alguns deficientes mentais teriam sido dopados e deixados sem banho. Muitos se queixaram ainda que enfrentam acusações criminais de abandono de incapaz, por terem recorrido a instituições privadas.

Mãe de um portador de deficiência mental, Estela de Souza afirmou que a internação dos pacientes, em alguns casos, é necessária até mesmo para viabilizar sua inclusão social. "A distância momentânea deles nos causa muito sofrimento, mas sabemos que é necessária para sua socialização", afirmou. A psiquiatra e presidente da Associação dos Amigos Autistas (AMA), Maria Helena Roscoe, chamou atenção para o que considera um exagero da política antimanicomial: "Não há explicação para a omissão do Estado com relação aos autistas. Muitas vezes, a pretexto de fazer inclusão (dos pacientes), acaba-se fazendo exclusão", argumentou.

Deputados querem criar comissão para pedir providências

Para averiguar as denúncias feitas durante a reunião, o presidente da Comissão de Trabalho, da Previdência e da Ação Social, deputado Alencar da Silveira Jr. (PDT), afirmou que os deputados programarão uma visita às instalações municipais dedicadas ao atendimento dos portadores de deficiência mental. "Vamos criar uma comissão para pedir providências ao governo do Estado e à prefeitura. Vamos dar a eles um prazo de dez dias. Depois disso, vamos ao Ministério Público", afirmou o deputado Alencar da Silveira. O deputado Célio Moreira (PSDB), por sua vez, defendeu a criação de uma comissão especial para discutir o atendimento aos portadores de deficiência mental. "Tenho certeza que é possível instalar essa comissão já na próxima semana", avaliou o parlamentar.

Regulamentação - A presidente da Apape, Estela de Souza, pediu a ajuda dos deputados estaduais para organizar um amplo debate e investigação sobre as conseqüências da aplicação da Lei Antimanicomial sobre os usuários dos sistemas públicos de saúde e suas famílias. Outra reivindicação prioritária, segundo a dirigente, é a discussão e aprovação de uma lei que permita aos portadores de deficiência mental e seus familiares recorrerem às instituições privadas, de forma segura.

A deputada Elisa Costa (PT) defendeu a legislação antimanicomial, mas afirmou que é necessário um processo de transição em parceria com todas as associações de pais e amigos de deficientes mentais. "Não podemos construir manicômios, mas temos que avaliar quais são os portadores de necessidades especiais que têm como entrar em um processo de inclusão em escolas", afirmou a parlamentar.

A situação dos autistas recebeu uma atenção especial da deputada Jô Moraes (PCdoB). "É necessário aperfeiçoar a legislação para determinar quando, como e onde serão assistidos os pacientes de autismo. Não podemos cair no exagero de considerar hotéis e escolas como instituições de isolamento", disse a deputada. Ao final da reunião, os deputados que integram a Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social decidiram marcar nova audiência pública sobre o assunto, a fim de ouvir os representantes do governo do Estado.

Aprovado parecer a PL que cria criar Selo-Inclusão

Foi aprovado pela comissão, em 1º turno, parecer ao Projeto de Lei 2.204/05. O PL institui o Certificado-Inclusão e o Selo-Inclusão de Sociedade Inclusiva, a ser concedido à pessoa física ou jurídica que adaptar suas edificações e treinar seus funcionários, eliminando as barreiras arquitetônicas e sociais, a fim de garantir o acesso às pessoas com deficiência e idosas. O parecer, de autoria da Elisa Costa, recomenda a aprovação do projeto, na forma do parecer aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça.

Requerimentos - Foram também aprovados dois requerimentos, o primeiro deles de autoria do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), em que solicita a realização de audiência pública para discutir a situação dos aposentados e pensionistas do INSS e as suas reivindicações junto a este órgão; e o segundo da deputada Elisa Costa (PT), que solicita a realização de audiência pública para subsidiar a elaboração do parecer ao PL 2.236/05, que dispõe sobre a concessão de incentivos fiscais com o objetivo de estimular o apoio a projetos sociais no Estado.

Foram aprovados ainda, pela Comissão, 27 proposições que dispensam apreciação do Plenário, sendo 20 projetos de declarações de utilidade pública e sete requerimentos.

Presenças - Deputado Alencar da Silveira Jr. (PDT), presidente; deputados Célio Moreira (PSDB), Jô Moraes (PC do B), Elisa Costa (PT) e Maria Tereza Lara (PT). Além dos citados na matéria, também participou da reunião, entre outras autoridades, o juiz da 3ª Vara de Família da Comarca de Belo Horizonte, Reinaldo Portanova.

 

 

 

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