Comissão de Educação debate falsificação de diplomas

A falsificação de diplomas, tanto do ensino médio quanto do ensino superior, não é um problema de fácil solução. As d...

30/03/2006 - 00:00
 

Comissão de Educação debate falsificação de diplomas

A falsificação de diplomas, tanto do ensino médio quanto do ensino superior, não é um problema de fácil solução. As dificuldades vão desde a inexistência de padronização dos documentos expedidos por diferentes instituições até a falta de capacitação dos profissionais que trabalham com o registro dos diplomas para identificação das falsificações. Essa constatação unificou as opiniões dos participantes de audiência pública da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e Informática da Assembléia Legislativa, na manhã desta quinta-feira (30/3/06), convocada para debater a situação dos casos de falsificações de diplomas no Estado. A iniciativa foi do deputado Doutor Viana (PFL), presidente da comissão.

Ao lembrar as denúncias sobre o derrame de diplomas falsos no Estado, feitas em reportagens do jornal "Estado de Minas" no início do ano, Doutor Viana mostrou-se preocupado com a possibilidade de instituições sérias terem sua imagem comprometida com as falsificações; e indagou por que, com todos os recursos tecnológicos de que o mundo atual dispõe, ainda continuam a acontecer, sem que sejam detectadas, falsificações grosseiras de documentos.

Dificuldades na identificação das falsificações

A resposta à pergunta do deputado veio logo em seguida, nas falas dos convidados. "Não somos experts em falsificação, não somos treinados para isso", disse a diretora do Departamento de Registro e Controle Acadêmico (DRCA) da Universidade Federal de Minas Gerais, Ana Lúcia Ribeiro Diniz. Segundo ela, a falta de padronização de diplomas e históricos escolares facilita a falsificação e dificulta muito a identificação das fraudes. "Cada escola, cada curso, cada instituição usa nomenclatura e papéis diferentes, o que facilita demais as falsificações", analisou.

Suzana Oliveira Martins e Elci Pimenta Costa Santos, dirigentes das Superintendências Metropolitanas B e A, respectivamente, da Secretaria de Estado da Educação, também admitiram a dificuldade de se coibir as falsificações. Elas lembraram que recursos de informática, como o escaneamento de documentos, facilitam o trabalho dos falsificadores, que produzem documentos "perfeitos". "Se uma diretora tiver dúvida sobre um diploma, ela tem que pedir a um inspetor que vá à escola onde o aluno teria estudado para verificar a veracidade da matrícula e demais dados", afirmou Suzana Oliveira. Outra dificuldade é o despreparo da Polícia Civil para tratar desse tipo de crime. "Se foi detectado um diploma suspeito, o primeiro passo é fazer um boletim de ocorrência na delegacia, mas muitas vezes os delegados não sabem o que fazer", relatou Elci Pimenta.

Obstáculos no combate ao crime

O delegado Pedrinho Raimundo de Souza, da Delegacia de Falsificações e Defraudações do Departamento de Investigações da Polícia Civil, disse que as denúncias vêm sendo investigadas há meses, e confirmou que o número de casos no Estado é realmente grande. Recentemente, dois falsificadores foram presos, mas libertados dois dias depois por determinação judicial. "A legislação é fraca, favorece a impunidade e facilita a prática de crimes", protestou. Ele lembrou que até mesmo na própria Academia da Polícia Civil foi registrado caso de aluno com diploma falso, mas que não foi excluído e prosseguiu no curso por força de liminar. O delegado frisou, ainda, que o crime não é apenas de quem falsifica, mas também de quem compra o documento.

De acordo com o promotor Turíbio de Andrade, da Promotoria de Combate ao Crime Organizado, quando as notícias sobre os diplomas falsos foram publicadas, o Ministério Público optou por deixar as investigações a cargo da Polícia Civil, para evitar a duplicidade de esforços, uma vez que não havia indícios de que o caso era fruto da ação de uma organização criminosa, e não de ações isoladas. O papel do MP na questão, segundo ele, é mais repressivo que preventivo. "Assim que houver a remessa dos inquéritos em andamento, o Ministério Público vai propor ação penal e condenação dos culpados", ressaltou. A exemplo do delegado, o promotor também destacou que quem compra é co-autor do crime de falsificação.

Diplomas não reconhecidos leva à demissão de professores

Outro problema discutido na audiência, também relacionado à questão dos diplomas, foi a demissão de professores que apresentaram diplomas não reconhecidos pelo MEC. O deputado Leonídio Bouças (PSC) apresentou requerimento propondo debate sobre o assunto com a presença da auditora-geral do Estado, e disse que tem havido injustiça na demissão de profissionais que lecionam há mais de 20 anos na rede estadual e que não agiram de má-fé ao procurarem uma instituição de ensino superior para se qualificarem.

Na avaliação do presidente da Federação das Associações de Pais e Alunos de Escolas Públicas, Mário de Assis, mais de 30% dos professores estaduais usam diplomas duvidosos para se habilitarem ou conseguirem promoções, um problema que se arrasta desde o governo anterior, sem que haja adoção de providências para sanar as irregularidades. Mário de Assis criticou a atuação do Conselho Estadual de Educação (CEE) e da Secretaria de Educação e denunciou a proliferação de faculdades não credenciadas, muitas delas sediadas em outros estados, que "extorquem os professores".

José Januzzi, presidente da Câmara de Planos e Legislação e da Câmara do Ensino Médio do CEE, rebateu as críticas ao Conselho, que é um órgão normativo, e esclareceu que nos casos de diploma falso a orientação é dar ciência imediata à promotoria da localidade. Ele esclareceu as mudanças na legislação que alteraram o sistema de registro de diplomas e disse que as falsificações são fruto da ação de criminosos, uma vez que não há notícia de que alguma instituição de ensino tenha expedido um diploma falso.

Requerimentos aprovados

Na reunião, foram aprovados dois requerimentos. O primeiro, do deputado Leonídio Bouças (PSC), requer que seja realizada audiência pública da comissão, com a presença da auditora-geral do Estado, Maria Celeste Morais Guimarães, para discutir as demissões de professores da rede estadual, ocorridas em razão de terem apresentado diplomas de cursos não reconhecidos pelo Ministério da Educação. O segundo, do deputado Ivair Nogueira (PMDB), pede audiência pública da comissão com o objetivo de se apurar possíveis irregularidades que estariam sendo cometidas pelo atual Conselho Diretor da Fundação Educacional de Machado.

Foram aprovados, ainda, 17 requerimentos que dispensam apreciação do Plenário e pareceres favoráveis a dois projetos que tratam de declaração de utilidade pública.

Presenças - Deputados Doutor Viana (PFL), presidente da comissão, Leonídio Bouças (PSC), Weliton Prado (PT) e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB).

 

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