Crise provoca quebra na safra agrícola mineira

Mudanças climáticas, novas pragas agrícolas, desvalorização do dólar e aumento no preço dos insumos estão provocando ...

29/03/2006 - 00:00
 

Crise provoca quebra na safra agrícola mineira

Mudanças climáticas, novas pragas agrícolas, desvalorização do dólar e aumento no preço dos insumos estão provocando uma crise sem antecedentes na agricultura mineira. A reclamação é geral entre representantes de diversos setores produtivos que participaram de audiência pública da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa realizada nesta quarta-feira (29/3/06). "Há uma crise generalizada", admite o presidente da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais, Roberto Simões.

Com a combinação de preços em queda e custos de produção em alta, os produtores rurais já prevêem grandes prejuízos e quebra na safra 2005-2006, que está começando a ser colhida. No caso do milho, o custo de produção por hectare subiu de R$ 1.079 em 2002 para R$ 1.848 atualmente, de acordo com o presidente da comissão de grãos da Faemg em Uberaba, Miguel Ma Tien Min. "Tudo o que produtor ganhou quando a safra era boa foi reinvestido na produção. Agora que a crise veio, muitos não têm mais dinheiro em caixa", lamenta Min.

Pragas como mofo branco e ferrugem asiática obrigaram produtores de soja a fazerem até seis aplicações de fungicida nesta safra, o que fez os custos de produção dispararem. Segundo Min, o custo de produção da soja pode chegar a US$ 675 por hectare, contra o valor de mercado de US$ 317, o que representa prejuízo. "Em 2004 eu vendi minha soja a R$ 49 a saca. Nesta safra, o preço está em R$ 21, contra o custo de produção de R$ 26 por saca", reclama o presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), Irineu de Andrade.

Área plantada de algodão foi reduzida à metade

Na cotonicultura, a situação é ainda pior. O vice-presidente da Associação Mineira dos Produtores de Algodão, Norberto Gonçalves de Abreu, explica que o custo de produção chegou a R$ 4,5 mil por hectare no ano passado, o que acarretou prejuízos da ordem de R$ 900 para cada hectare plantado. Com isso, segundo Abreu, a área plantada foi reduzida de 54 mil hectares no ano passado para 27 mil hectares este ano. "O algodão praticamente sumiu do Pontal do Triângulo e do Norte de Minas este ano", lamenta. A previsão da safra 2005-2006 é de 30 mil toneladas de pluma, insuficiente para atender à demanda do parque têxtil mineiro (o terceiro maior do Brasil), que consome 150 mil toneladas anuais.

Os cafeicultores não escapam à crise, mesmo com a recente recuperação nos preços da saca de café. Segundo o presidente da Comissão Nacional do Café, José Roberto Puliti, há dois anos a cotação da saca chegou a seu nível mais baixo (US$ 37) e muitos produtores tiveram que contrair dívidas que estão sendo pagas até hoje. A previsão para a safra deste ano é de 43 milhões de toneladas, mas isso não deve aliviar o bolso dos cafeicultores, na avaliação de Puliti.

Diante de tantas dificuldades, os produtores rurais reivindicam do governo federal prazos maiores para pagamentos de dívidas contraídas nas últimas safras e a garantia de uma política de preço mínimo para impedir novos prejuízos com o aumento dos custos de produção. O documento com essas reivindicações foi entregue aos deputados e será levado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana que vem.

Deputados apóiam agricultores

Todos os deputados presentes manifestaram apoio às reivindicações apresentadas pelos produtores rurais. O deputado Paulo Piau (PPS), que pediu a realização da reunião, defende a busca de uma solução rápida para o problema que atinge vários setores da agricultura. "As dívidas têm que ser pagas e a próxima safra tem que ser plantada", disse o deputado, que defende ampliação do prazo de pagamento das dívidas contraídas com bancos e ampliação do crédito disponível.

Os deputados Antônio Carlos Arantes (PSC), Ana Maria Resende (PSDB), Luiz Humberto Carneiro (PSDB), Domingos Sávio (PSDB) e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) atribuíram a crise ao governo federal, que para eles não elaborou uma boa política agrícola. O presidente da comissão, deputado Padre João (PT), rebateu as críticas e lembrou que os recursos disponíveis para financiar a agricultura familiar aumentaram de R$ 2 bilhões em 2003 para R$ 9 bilhões na atual safra.

Requerimentos aprovados

Como desdobramento das discussões, foram aprovados os seguintes requerimentos:

* do deputado Domingos Sávio, solicitando às autoridades estaduais orientação para os produtores rurais preencherem os formulários de licenciamento ambiental; pedindo aos órgãos estaduais de agricultura a revogação de barreiras sanitárias para a exportação de carne bovina de algumas regiões do Estado; e encaminhando ao Ministério da Agricultura pedido de alongamento nos prazos das dívidas contraídas por agricultores;

* do deputado Paulo Piau, para encaminhar ao governo do Estado e ao Ministério da Agricultura o documento sobre a crise no campo elaborado pela Faemg.

Foram aprovados ainda dois pedidos de audiências públicas:

* do deputado Paulo Piau, para a realização de debate sobre o Projeto de Lei 67/03, da deputada Maria José Haueisen (PT), que cria um programa de seguro agrícola no Estado;

* do deputado Domingos Sávio, para discutir os riscos de uma epidemia de gripe aviária em Minas Gerais.

Presenças - Deputados Padre João (PT), presidente; Luiz Humberto Carneiro (PSDB), Domingos Sávio (PSDB), Paulo Piau (PPS), Antônio Carlos Arantes (PSC), Ana Maria Resende (PSDB) e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB). Também participaram da reunião o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Uberaba, Rivaldo Machado Borges Jr; o superintendente substituto do Ministério da Agricultura em Minas Gerais, Ronaldo Pedrosa Gomes; e o prefeito de São Sebastião do Paraíso, Mauro Lúcio da Cunha.

 

 

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715