Prefeitos reclamam de bloqueio de contas municipais pelo TJMG

Diversos prefeitos, de pequenas e grandes cidades mineiras, reclamam uma solução para o impasse criado após o seqüest...

29/03/2006 - 00:01
 

Prefeitos reclamam de bloqueio de contas municipais pelo TJMG

Diversos prefeitos, de pequenas e grandes cidades mineiras, reclamam uma solução para o impasse criado após o seqüestro de contas de prefeituras inadimplentes com o pagamento de precatórios judiciais. Eles sugeriram que haja uma suspensão temporária dos seqüestros, até que as prefeituras equacionem o problema, por meio de propostas de pagamentos parcelados ao Tribunal de Justiça. Os prefeitos participaram de audiência pública da Comissão de Assuntos Municipais da Assembléia Legislativa realizada nesta quarta-feira (29/3/06), convocada a pedido do deputado Rogério Correia (PT). O objetivo foi buscar uma solução para conciliar tanto os interesses dos credores dos precatórios, quanto dos municípios que tiveram seus orçamentos comprometidos com a decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

A tônica dos debates foi a sugestão de que o problema seja resolvido de imediato por meio de conciliações. Para tanto, foi sugerida, por representantes do TJMG, a implantação de "conciliações itinerantes", para atuar nas cidades-pólo do Estado. A idéia está em gestão no Tribunal de Justiça, após a experiência vitoriosa da central de conciliação que funciona na sede do órgão, que foi criada por sugestão da Secretaria de Estado da Fazenda e da Prefeitura de Belo Horizonte e que equacionou o problema dos dois entes, mediante o pagamento parcelado da dívida. Segundo o assessor para assuntos de precatórios da presidência do TJMG, Nassau Van Louwerens, além dessa medida, outra providência seria o compromisso de pagamentos parcelados em volume tal que indicasse o compromisso de se extinguir a dívida, e não mais de postergá-la. E que precatórios trabalhistas e alimentares fossem quitados mediante reposição em folha dos servidores, como aconteceu com a URV.

Montes Claros está sem dinheiro para honrar seus compromissos

Um dos casos mais graves é o de Montes Claros, quinta maior cidade do Estado. Segundo o prefeito Athos Avelino, a soma de precatórios vencidos do município é da ordem de R$ 7,4 milhões, valor superior a toda a arrecadação com IPTU de 2005, que foi de R$ 6 milhões. Como a prefeitura gasta cerca de 45% de tudo o que arrecada com o pagamento da folha de pessoal, o bloqueio do dinheiro representa menores investimentos em educação, saúde e outros serviços essenciais. "Qual município não teria seriamente abalada sua saúde financeira com recursos da ordem de R$ 7 milhões seqüestrados da noite para o dia?", questionou.

A prefeitura recorreu da decisão do TJMG, mas ainda não obteve uma liminar favorável à suspensão do seqüestro judicial. Como solução para o impasse, Athos Avelino pediu que a ALMG intervenha no sentido de pressionar a votação da reforma tributária no Congresso, que prevê o aumento de 1% nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Ele também defendeu que o pagamento de precatórios atenha-se ao limite de 2% dos orçamentos das prefeituras.

Em Contagem, o montante dessas dívidas está estimado em R$ 40 milhões, de acordo com a prefeita Marília Campos. Desse total, ela calcula que R$ 16 milhões já sofreram seqüestro judicial. "É uma situação que nos aflige muito. Esse não é um problema só dos credores, é dos municípios também", disse a prefeita. Segundo ela, o total da dívida fundada da prefeitura de Contagem equivale a uma vez e meia o orçamento anual do município.

AMM reivindica fim do bloqueio judicial

O presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), prefeito de Mariana, Celso Cota Neto, reclamou da decisão do TJMG e pediu que o seqüestro das contas municipais seja revisto. A AMM também reivindica que o TJMG ouça as prefeituras antes de determinar novas decisões semelhantes e propõe o estabelecimento de um cronograma de pagamentos das dívidas com precatórios que preserve o equilíbrio orçamentário dos municípios.

Limite - Uma possível solução para o impasse pode ser a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição Federal 285/04, do deputado federal Virgílio Guimarães (PT-MG), em tramitação no Congresso. Pela proposta do deputado, que participou da reunião, todos os precatórios municipais deveriam ser pagos no prazo máximo de 11 anos, respeitando-se o limite de 2% de comprometimento das receitas das prefeituras. Como a proposta não precisaria de regulamentação, o seqüestro de contas deixaria de valer assim que ela fosse aprovada em 1º turno, no entendimento do deputado. "Minha proposta não resolve um conjunto de questões maiores. É uma terapia para resolver problemas pontuais graves", avaliou Virgílio.

Deputados defendem acordo para impasse

Antes da audiência pública, um grupo de parlamentares, acompanhados de prefeitos, visitou o presidente do TJMG, desembargador Hugo Bengtsson. Segundo o deputado Rogério Correia, o desembargador demonstrou boa vontade para negociar uma solução para o problema. O presidente da Comissão de Assuntos Municipais, deputado Leonardo Quintão (PMDB), acredita que é possível encontrar uma solução adequada. "Não é desejo do TJMG inviabilizar as administrações públicas municipais", analisou.

Todos os deputados presentes manifestaram preocupação com as dificuldades enfrentadas pelos municípios e propuseram uma revisão do pacto federativo, com a redistribuição do bolo tributário entre estados, municípios e União. O deputado Sebastião Helvécio (PDT) alertou que o confisco puro e simples de recursos inviabiliza o funcionamento das prefeituras. Para o deputado Carlos Pimenta (PDT), não é justo que os prefeitos assumam a responsabilidade por dívidas contraídas por seus antecessores.

O deputado Gustavo Corrêa (PFL) defendeu a redivisão de recursos tributários entre os entes federados e lembrou que as decisões judiciais têm que levar em consideração as particularidades dos municípios. Já o deputado Ivair Nogueira (PMDB) lembrou que o bloqueio judicial fará com que muitas prefeituras descumpram os limites estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). E o deputado Arlen Santiago (PTB) destacou que a penúria dos municípios deve-se à concentração de 70% da arrecadação tributária nas mãos da União. Gil Pereira (PP) destacou que é urgente resolver o caso de Montes Claros, "que atende a 90 municípios, com alguns serviços como educação e saúde, por isso o bloqueio de recursos afeta a todos eles".

Dívida - Segundo levantamentos do assessor para precatórios do TJMG, Nassau Louwerens, a dívida histórica de precatórios de todos os municípios é de R$ 500 milhões. Cerca de 90% dos municípios têm dívida com valor inferior a 3% de seus orçamentos, o que lhes permitiria uma negociação mais fácil. O restante tem um comprometimento de 10% de seus orçamentos, entre eles Montes Claros, Contagem, Betim, Teófilo Otoni.

Presenças - Deputados Leonardo Quintão (PMDB), presidente; Edson Rezende (PT), vice; Sebastião Helvécio (PDT), Rogério Correia (PT), Ivair Nogueira (PMDB), Carlos Pimenta (PDT), Gustavo Corrêa (PFL), Jayro Lessa (PFL), Arlen Santiago (PTB), Célio Moreira (PSDB), Gil Pereira (PP) e Antônio Júlio (PMDB). Também participaram o deputado federal Virgílio Guimarães (PT-MG), representantes da Prefeitura de Belo Horizonte, do Tribunal de Justiça e de advogados de credores.

 

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