Comissão debate parâmetros de Programa de Zoneamento Agrícola
A flexibilização dos critérios para inclusão de
municípios no Programa de Zoneamento Agrícola do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento foi defendida pelos
participantes da audiência pública da Comissão de Política
Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa, nesta
terça-feira (28/3/06). Representantes dos governos federal e
estadual e de entidades ligadas à agricultura participaram da
reunião, solicitada pelos deputados Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) e
Padre João (PT).
O deputado Dalmo Ribeiro Silva lembrou
pronunciamento que fez no Plenário da Assembléia Legislativa, em
fevereiro, quando manifestou sua preocupação com os critérios
adotados pelo governo federal para a liberação de financiamentos
para a cafeicultura. Na ocasião, o deputado afirmou que, de acordo
com a Portaria 59, de julho de 2005, os bancos só iriam liberar
recursos para custeio dos plantios enquadrados no Zoneamento
Agroclimático do Cafeeiro da Universidade Federal de Viçosa (UFV),
encomendado pelo governo federal.
Segundo ele, o critério utilizado pela UFV delimita
regiões pelo critério de estimativas de déficit hídrico, além das
temperaturas médias e mínimas das áreas estudadas. O levantamento
considera aptos ao cultivo do café arábica os locais com
temperaturas médias entre 18 e 23,5ºC, temperatura mínima superior a
2ºC e com déficit hídrico anual abaixo de 150 mm. As áreas que não
atendessem aos parâmetros da universidade ou classificadas como
produtivas somente pela via da irrigação não receberiam os
financiamentos. "O zoneamento agroclimático adotado pelo ministério
não aborda o microclima existente em diversas regiões de Minas, que
permite o desenvolvimento da atividade. Desta forma, muitos
municípios com tradição no cultivo do café foram prejudicados pelo
estudo", protestou o deputado. Dalmo Ribeiro Silva afirmou não estar
convencido de que os cafeicultores não tiveram prejuízos com o
programa.
Coordenador afirma que programa reduz riscos
O coordenador do Programa de Zoneamento Agrícola,
Francisco José Metidieri, fez uma exposição detalhada sobre o
programa que, segundo ele, é uma ferramenta de gestão de risco
rural. Metidieri informou que existem diferentes tipos de
zoneamento, mas que o agrícola de risco climático trabalha com dados
mapeados e não com potencial ou aptidão. De acordo com ele, isso o
torna uma metodologia científica, que permite projeções e
estimativas. "O objetivo é a indicação de datas ou períodos de
plantio por cultura e por município, considerando séries
climatológicas históricas", explicou. "O resultado disso é a
utilização de tecnologias adequadas ao plantio e a redução dos
riscos de perdas por adversidades climáticas", continuou. O
coordenador do programa também informou que um levantamento feito em
2002 apontou uma variação de 1,37% entre a área plantada e a área
colhida em municípios que adotaram o zoneamento climático, contra
5,62% entre aqueles que não se enquadravam na metodologia. Segundo
ele, em Minas Gerais, 840 dentre os 853 municípios foram
considerados, pelo programa, aptos para o cultivo do café.
Revisão - O
secretário-adjunto de Estado de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, Marcelo Franco, contestou a afirmação dizendo que,
embora a maior parte dos municípios tenha sido indicada pelo
zoneamento, os que ficaram de fora têm grandes extensões e estão em
áreas de microclima. Para o secretário, os critérios para o
financiamento precisam ser revistos e a base de dados, aprimorada.
Francisco José Metidieri destacou que todos os
estudos enviados para reavaliação foram analisados e, nos casos em
que atendiam aos parâmetros do programa, os municípios foram
incorporados. Para o deputado Padre João, o grande desafio é que, se
por um lado o governo precisa garantir o retorno dos financiamentos,
o agricultor também precisa de garantias de pesquisa e
infra-estrutura. "O principal problema é que o zoneamento é feito
sem se levar em conta a diversidade topográfica e microclimática",
afirmou.
Seguro - O coordenador de
Segurança da Produção da Secretaria de Agricultura Familiar do
Ministério do Desenvolvimento Agrário, Luiz Eduardo de Oliveira,
apresentou dados sobre o Programa de Garantia da Atividade
Agropecuária (Proagro). Segundo ele, esse é um instrumento de
política agrícola instituído para que o produtor rural tenha
garantido um valor complementar para pagamento do seu custeio
agrícola, em casos de ocorrência de fenômenos naturais, pragas e
doenças que atinjam bens, rebanhos e plantações. Além disso, o
programa garante a indenização de recursos próprios utilizados pelo
produtor em custeio rural, quando ocorrerem perdas por essas razões.
"Queremos a segurança do agricultor", concluiu.
O deputado Marlos Fernandes (PPS) acredita que a
grande dificuldade do momento tem sido produzir e não conseguir a
remuneração adequada. "Esse é o caso da soja, por exemplo, que tem o
custo de produção superior ao da venda. No entanto, precisamos dar
garantias para que os pequenos agricultores tenham tranqüilidade
para produzir", defendeu.
Presenças - Deputados
Padre João (PT), presidente; Marlos Fernandes (PPS), vice; e Dalmo
Ribeiro Silva (PSDB). Além dos convidados citados na matéria, também
participaram da reunião o delegado federal do Ministério do
Desenvolvimento Agrário em Minas Gerais, Igino Marcos da Mata de
Oliveira; o coordenador estadual da Emater-MG, Marcelo de Pádua
Felipe; o assessor técnico da Faemg, Rodrigo de Almeida Pontes; o
assessor de gabinete do secretário de Agricultura, Milton Flávio
Nunes; e o superintendente substituto do Ministério da Agricultura,
Ronaldo Pedrosa Gomes.
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