Em 20 anos Brasil será país de idosos, diz
IBGE
Segundo as projeções do IBGE, dentro de 20 anos o
Brasil terá 30 milhões de habitantes com idade acima dos 60 anos. A
maioria dos aposentados, cerca de 60%, estão hoje na faixa da
pobreza. Minas Gerais ocupa a quarta posição nacional em proporção
de idosos na população: são 10,2% acima dos 60 anos, enquanto a
média nacional é de 9,6%. Esses dados foram citados na abertura da I
Conferência Estadual dos Direitos da Pessoa Idosa, pelo deputado
Doutor Viana (PFL) e pela professora da PUC São Paulo, Vera Lúcia
Valsecchi, na manhã desta segunda-feira (27/3/06), no Sesc Venda
Nova, em Belo Horizonte.
Os números apresentados pelas autoridades e pelos
estudiosos do assunto justificam as preocupações que toda a
sociedade deve ter com os direitos do idoso, desde já e com vistas
ao futuro. Os únicos Estados com população proporcionalmente mais
idosa que Minas são o Rio de Janeiro, o Rio Grande do Sul e a
Paraíba. Da população mineira, 2,6% já está acima dos 75 anos e
55,7% dos idosos são mulheres. "É o que os demógrafos chamam de
feminização da velhice. As mulheres idosas também estão numa faixa
de aposentadoria inferior à dos homens, num contexto em que a renda
média do aposentado é vergonhosa", disse Vera Valsecchi.
Vera Valsecchi e Úrsula Karsch, pesquisadoras da
área de Gerontologia da PUC São Paulo, esboçaram uma concepção da
Rede Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa (Renadi), com
articulação - nas três esferas de governo e participação da
sociedade civil - de instrumentos (recursos materiais e
financeiros), mecanismos (processos e fluxos), órgãos (espaços
convergentes) e ações (materialização de propostas). "O que se
propõe é uma nova cultura de direitos da pessoa idosa", resumiu
Valsecchi.
No mundo inteiro, são 10 milhões os que passaram
dos 100 anos
Karsch desconstruiu o modelo piramidal de sociedade
e disse que no Brasil atual, em que a população idosa quase empata
com a jovem, o modelo a ser adotado é muito mais horizontal. Ela
preveniu que "a rede não vai cair do céu", que será necessário um
"trabalho de formiguinha" para montá-la, mas que significa grande
avanço nos direitos sociais e de cidadania daqueles que dela
necessitam. "Funciona muito bem no Canadá e nos países europeus. Não
podemos desistir de implantar no Brasil essa utopia", disse a
professora. Ela falou sobre a hierarquia dos serviços, e denunciou o
que chama de poder do porteiro: "Nos hospitais públicos, muitas
vezes o porteiro decide quem será ou não atendido".
O professor Aluísio Pimenta, assessor especial do
governador que compunha a mesa, reivindicou a posição de "menos
jovem" da conferência, por já contar 82 anos, e afirmou que, num
evento recente com participação de idosos de 70 países, nos Estados
Unidos, recebeu a informação de que são mais de 10 milhões as
pessoas que já passaram dos cem anos no mundo. Pimenta reclamou das
escadas, principalmente aquelas sem corrimão, que representam um
risco para os idosos até mesmo nos prédios públicos. "Os idosos, com
sua experiência, sua cultura e suas tradições, são um capital
valioso para o Brasil", argumentou.
Representando o presidente da Assembléia, o
deputado Doutor Viana disse que os avanços da Medicina e da
indústria farmacêutica, entre outros fatores de bem-estar,
aumentaram significativamente a expectativa de vida no Brasil, que
era de 33 anos na década de 30, de 43 anos na década de 50 e que já
chegava próxima aos 70 anos na atualidade. "Não estamos preparados
para oferecer ao idoso condições para uma vida digna, com
alimentação adequada, cultura e lazer. Como consumidores, os
aposentados são vistos em segundo plano, sem falar naqueles que
precisam viver em asilos e abrigos carentes de recursos materiais e
humanos", disse o deputado.
Mais de 120 municípios representados na
Conferência
Felipe Willer de Araújo Abreu Jr, presidente do
Conselho Estadual do Idoso, informou que a Conferência tem 434
delegados representantes de 120 municípios, além de outros cem
convidados de municípios que não realizaram a etapa municipal, e que
os delegados representam mais de dois milhões de idosos mineiros. O
secretário Marcos Montes, da Sedese, acrescentou que a
representatividade poderia ser ainda maior, mas muitas prefeituras
não autorizaram sequer transporte para trazer os delegados.
Maria Aparecida Ferreira de Mello, do grupo de
Gerontologia da Faculdade de Ciências Médicas, disse que o objetivo
da Conferência Nacional, que se realizará em breve com os delegados
de todos os Estados, "é ter caráter deliberativo e lutar pela
consolidação dos direitos humanos das pessoas idosas no país, e
também fortalecer os conselhos municipais, os quais muitas vezes são
criados por decreto do prefeito e ficam apenas no papel". Aparecida
criticou os "feudos de conhecimento e de poder", e o tabu que cerca
o tema crucial para os idosos, que é o financiamento das políticas
públicas que será necessário implantar. "Não se acha ninguém
disposto a tocar neste assunto", denunciou.
O eixo temático abordado por Aparecida Mello está
no Grupo 4 - "Financiamento e orçamento público das ações
necessárias para a efetivação dos direitos da pessoa idosa e
controle social". O debate que se sucedeu à mesa de abertura foi
coordenado pela deputada Lúcia Pacífico (PSDB), que representa a
Assembléia no Conselho Estadual do Idoso. Os seis grupos de trabalho
se reuniram na parte da tarde desta segunda-feira.
Presenças: Deputadas Lúcia
Pacífico (PSDB) e Jô Moraes (PCdoB), deputados Doutor Viana (PFL),
Adelmo Carneiro Leão (PT) e Padre João (PT). Marcos Montes,
secretário de Estado do Desenvolvimento Social e Esportes; João
Batista de Oliveira, subsecretário de Direitos Humanos da Sedese;
Felipe Willer, presidente do Conselho Estadual do Idoso; Aluísio
Pimenta, assessor especial do governador; Lívio Silva, diretor da
Federação dos Aposentados e Pensionistas de Minas Gerais; Sônia
Maria Vieira Campos, representante do Ministério Público Estadual;
Maria Aparecida Ferreira de Mello, membro do Conselho Nacional dos
Direitos do Idoso.
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