Papel da sociedade na gestão das águas encerra fórum sobre o tema

O terceiro e último dia do 5º Fórum das Águas para o Desenvolvimento de Minas Gerais, nesta quinta-feira (23/3/06), f...

23/03/2006 - 00:00
 

Papel da sociedade na gestão das águas encerra fórum sobre o tema

O terceiro e último dia do 5º Fórum das Águas para o Desenvolvimento de Minas Gerais, nesta quinta-feira (23/3/06), foi marcado pela fala dos representantes da sociedade civil organizada - parceiros essenciais na gestão das águas, conforme prevê legislação específica. No Plenário da Assembléia, representantes do terceiro setor cobraram, mais uma vez, apoio logístico e financeiro aos comitês de bacia hidrográfica, que carecem de estruturação. Relataram também suas experiências de sucesso na promoção da educação ambiental - considerada por todos a palavra-chave para mudanças de atitude com relação ao meio ambiente. Quinhentas pessoas participaram do evento.

Ao final do ciclo de debates realizado em Plenário, o presidente da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais, deputado Laudelino Augusto (PT), lembrou o lema a Campanha da Fraternidade de 2004 - "Água: fonte de vida" - para resumir a importância dos três dias de discussões na Assembléia. Informou também aos participantes que o Legislativo promoverá, nos dias 8 e 9 de junho, um fórum técnico específico sobre educação ambiental. Laudelino Augusto dividiu a coordenação dos trabalhos com o deputado João Leite (PSDB), integrante da comissão.

Além do ciclo de debates, o 5º Fórum das Águas ofereceu cursos - que se estendem até o final da tarde desta quinta - e contou com uma feira que reuniu em 25 estandes comitês, usuários e poder público. As pessoas puderam conhecer de perto o trabalho desses órgãos colegiados (os comitês), que têm, entre outras, a competência de aprovar o plano diretor da bacia (diretrizes e metas para investimentos e obras), a forma e os valores da cobrança pelo uso da água. O fórum foi promovido pelo Legislativo, Fórum Mineiro de Comitês de Bacias Hidrográficas, Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea/MG) e Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).

Comitês e Igam divergem - Em entrevista à imprensa, ao final do evento, o coordenador-geral do Fórum Mineiro de Comitês de Bacias Hidrográficas, Mauro da Costa Val, fez um alerta sobre a situação dos comitês. Muitos não têm telefone ou secretária e há anos se ressentem da falta de apoio à sua estruturação. Na avaliação de Costa Val, os comitês vivem hoje um momento de crise, de definição. "Ou o Estado dá o suporte necessário ou o modelo poderá correr sérios riscos. O clima é de desânimo", enfatizou, criticando ainda a centralização de decisões nas mãos da administração pública. O modelo de gestão estabelece como princípios a descentralização e a democratização das decisões.

Em resposta, o diretor-geral do Igam, Paulo Teodoro de Carvalho, afirmou não considerar o momento atual de crise. "A mobilização da sociedade traz consigo a expectativa por resultados, mas o trabalho em prol das águas não é de curto prazo, já que exige investimentos altíssimos", ponderou. Ele informou que, tão logo seja regulamentada a lei que dispõe sobre o sistema estadual de meio ambiente, serão liberados recursos do Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas (Fhidro) para estruturação dos comitês de bacia. Segundo Paulo Teodoro de Carvalho, estão garantidos para este ano R$ 50 milhões. A minuta do decreto está sendo analisada pela Advocacia-Geral do Estado.

Ao fazer um balanço do fórum, o diretor-geral do Igam destacou a participação do Legislativo, que considera essencial. Lembrou que o evento é a oportunidade de trocar informações, reciclar conhecimentos e mostrar resultados do trabalho de comitês, empreendedores e governos.

Sociedade civil cobra ações de governo

O coordenador do Projeto Manuelzão/UFMG, Apolo Heringer Lisboa, e a superintendente executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas, cobraram no último dia do evento apoio aos comitês e o melhor exercício, pelo Executivo, do papel de zelar pelo meio ambiente. Lembrando que essa temática deixou de ser marginalizada para ser endeusada, Heringer criticou o fato de se gastar muito dinheiro na promoção de grandes encontros, enquanto faltam recursos para aqueles que estão na ponta do processo, vivendo na bacia e em dificuldades. Ele cobrou do Executivo a aplicação de recursos do Fhidro. "Quando o recurso chega, é a conta-gotas", criticou.

Apolo Heringer citou ainda o trabalho que desenvolve no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, revelando que nesse órgão colegiado aprendeu a negociar, colocando divergências claramente, mas buscando também o consenso. "É melhor trabalhar junto do que estar apartado e brigando. Muitas vezes, não brigar é o melhor caminho para defender o interesse ambiental", ensinou o professor da UFMG, que falou novamente sobre a meta do comitê - encampada por ONGs e governo - de nadar, pescar e navegar no Rio das Velhas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). É a Meta 2010, de criar uma "Linha Azul" nessa região até esta data.

Maria Dalce Ricas, da Amda, repetiu crítica recorrente quando o assunto é água: a do descompromisso do setor público e da iniciativa privada com relação ao meio ambiente. Ela elencou vários caminhos para resolver o quadro atual de dificuldades, entre eles a revisão dos currículos escolares, com a inclusão do tema educação ambiental; a integração de políticas públicas; a revisão do licenciamento ambiental; estímulos econômicos para aqueles que protegerem florestas e águas; a maior fiscalização e punição daqueles que degradam o meio ambiente.

Ong de Viçosa e conselheiro do Crea divulgam experiências de sucesso

O professor Luiz Fontes, da ONG Ambiente Brasil, de Viçosa, e do Fórum Mineiro das ONGs Ambientalistas, reforçou discurso que se repetiu nos três dias do fórum, centrado na importância da educação ambiental. Para ele, é preciso instituir um processo efetivo de educação ambiental, como o desenvolvido pela ONG, criada há sete anos. Fontes informou que a ONG deverá lançar nos próximos dois meses um mapa dos recursos hídricos do município, com o nome inclusive dos córregos existentes. Esse mapa poderá ser usado por professores das escolas de Viçosa para levar informação aos estudantes e ajudar no estímulo às mudanças de atitude.

Ele também citou o Projeto Probacias, programa de gestão de bacias hidrográficas encabeçado pelo professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Oswaldo Valente. Como resultado de um trabalho que englobou monitoramento hidrológico, cercamento de nascentes, construção de terraços com tração animal e de caixas de captação de água, foi registrado o aumento de até 20% na vazão de algumas nascentes. Assim como Oswaldo Valente, Luiz Fontes é professor na UFV.

O engenheiro Miguel Ângelo dos Santos Sá, da Comissão Permanente de Meio Ambiente do Crea, falou ainda sobre a Fiscalização Preventiva Integrada de Bacias (FPI), implementada pelo conselho. Esse projeto engloba vários parceiros, como Polícias Militar e Ambiental, Ministério Público e Instituto Estadual de Florestas (IEF). Os técnicos fazem um trabalho de mobilização da comunidade e também dos profissionais ligados ao conselho. A FPI já foi implantada na Bacia do São Francisco e agora o trabalho está nos rios Doce, Jequitinhonha, Mucuri, Paraopeba e Pará (rio Santo Antônio). Complementando Luiz Fontes, o representante do Crea defendeu uma mudança no modelo de educação ambiental. "Não adiantam somente palavras, folhetos. É preciso praticar."

Encerrando os debates, o presidente regional da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária (Abes/MG), José Antônio da Cunha Melo, traçou um histórico da participação da sociedade civil nos governos. Foi ainda coordenador do debate o diretor do IEF Geraldo Fausto da Silva, representando a direção-geral.

Reprise e ata no "Minas Gerais" - A coordenação do evento informou que as atas do 5º Fórum das Águas serão publicadas, na íntegra, no diário oficial "Minas Gerais"/"Diário do Legislativo" no dia 1º de abril. A TV Assembléia (canal 11 do sistema a cabo, em Belo Horizonte) reprisará o evento nas seguintes datas, sempre às 8 horas: no dia 14 de abril, a abertura; no dia 15, os debates da tarde do dia 21/3; no dia 16, os debates da manhã do dia 22/3; e, no dia 17, as discussões do último dia do fórum.

 

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