Direitos Humanos cobra apuração de assassinato em Piumhi

No dia 28 de maio de 2004, o disk-jockey Júlio César Rodrigues foi barbaramente assassinado. Seu corpo, com três tiro...

22/03/2006 - 00:03
 

Direitos Humanos cobra apuração de assassinato em Piumhi

No dia 28 de maio de 2004, o disk-jockey Júlio César Rodrigues foi barbaramente assassinado. Seu corpo, com três tiros na cabeça, um corte na barriga e os pés amarrados, só foi encontrado sete dias depois por pescadores. Passados quase dois anos, os assassinos ainda não foram identificados, o que revolta amigos e familiares da vítima. O assunto motivou uma audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, realizada em Piumhi, cidade do Centro-Oeste mineiro, nesta quarta-feira (22/3/06). Na reunião, que foi acompanhada por dezenas de pessoas, os deputados ouviram o apelo de parentes de Júlio César para que a justiça seja feira. "Não queremos vingança, só queremos justiça. Não consigo me conformar com o fato de que os assassinos de meu irmão continuam impunes", disse a irmã da vítima, Maria Aparecida Rodrigues Camargos.

Uma semana antes de desaparecer, Jullius Bill, como era mais conhecido, foi espancado por dois homens encapuzados. Segundo sua irmã, ele dizia poder reconhecer os dois agressores, que seriam os irmãos Charles e Cherman Pereira, que hoje cumprem pena em Ribeirão Preto (SP) por envolvimento em tráfico de drogas. Maria Aparecida conta que o irmão voltou ao local onde foi espancado e encontrou um capuz com cabelos que poderiam confirmar sua suspeita por meio de um exame de DNA. "Como os dois suspeitos negaram envolvimento nesse episódio e a vítima morreu poucos dias depois, as investigações sobre o caso não prosseguiram", relata o advogado da família, Carlos Magno de Araújo.

Sem uma investigação conclusiva por parte da polícia, os familiares de Jullius Bill aventam hipóteses que possam ter motivado o assassinato. Homossexual assumido, o DJ organizava excursões para o Domingão do Faustão e Planeta Xuxa e animava festas no Piumhi Tênis Clube (PTC). Em conversas com a irmã, ele teria comentado histórias de trocas de casais e encontros amorosos entre homens influentes da cidade nessas festas. Segundo Maria Aparecida, Jullius Bill também teria informações sobre o envolvimento de integrantes da diretoria do clube em desvios de dinheiro.

Suspeitas também recaem sobre Tiago Alves Couto, com quem Júlio César manteve um relacionamento amoroso por quatro anos. Em depoimento à polícia, Tiago disse que não tinha contato com o DJ nos últimos 20 dias antes de seu desaparecimento. Mas o extrato telefônico da vítima revela diversos telefonemas para o celular de Tiago, inclusive na véspera do assassinato.

Outra dúvida que permanece no ar é se há alguma ligação entre o espancamento e a morte de Jullius Bill, hipótese descartada em relatório do Departamento de Operações Especiais (Deoesp), acionado pela família diante da morosidade das investigações da polícia local.

Diante de tantas perguntas sem resposta, a família questiona a competência da Polícia Civil. "Esta cidade é um ovo, todo mundo sabe o que todo mundo faz. Parece que a polícia não está se empenhando nas investigações, várias informações não foram checadas", acusa Maria Aparecida. "A morte de Jullius Bill poderia ser queima de arquivo. O que dificulta as investigações é o fato de que suspeitos do crime são pessoas influentes na cidade", comenta o advogado Carlos Magno de Araújo, referindo-se aos diretores do PTC.

Polícia rebate acusações

O subinspetor da Delegacia Seccional de Polícia Civil de Piumhi, Antônio Fernando Gomes, rebateu as acusações da família do DJ. Segundo ele, o delegado Mozar Nunes chegou a concluir que os irmãos Pereira é que tinham espancado Júlio César, mas diante da negativa dos suspeitos e da morte da vítima, o indiciamento dos dois tornou-se inviável. Ele atribui a morosidade das investigações às precárias condições de trabalho da polícia. "Nossa comarca tem 50 mil habitantes e só 12 policiais civis. Só neste ano já foram remetidos mais de 250 inquéritos à Justiça. É humanamente impossível dar conta de todo esse trabalho", justifica. Já o promotor André Silvares Vasconcelos garantiu que falta pouco para a conclusão definitiva das investigações do Ministério Público sobre o caso, mas fez um apelo para que testemunhas colaborem. "A lei do silêncio impera na comunidade", disse.

O deputado Durval Ângelo (PT), que pediu a realização da reunião, reiterou o apelo do promotor, para que as pessoas que tenham informações relevantes prestem depoimento, ainda que sigiloso, ao Ministério Público ou à própria Comissão de Direitos Humanos. O deputado Roberto Ramos (PSDB) defendeu que a pressão popular pode ajudar a agilizar as investigações. E o deputado Paulo Cesar (PDT) propôs uma nova reunião, desta vez fechada, para colher depoimentos sigilosos que possam ajudar a elucidar o caso. Como pedido de providência, a comissão aprovou requerimento pedindo à Chefia da Polícia Civil empenho na solução desse caso.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PSDB), vice; e Paulo Cesar (PDT). Também compuseram a mesa o prefeito de Piumhi, Arlindo Barbosa Neto; e o vice-presidente da Câmara Municipal, vereador Manoel Gumercindo Marques.

 

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