Net não abre mão de cobrar ponto extra e inserir propaganda

Após mais de duas horas de reunião na Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte, permaneceu o impasse entre ...

22/03/2006 - 00:00
 

Net não abre mão de cobrar ponto extra e inserir propaganda

Após mais de duas horas de reunião na Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte, permaneceu o impasse entre a empresa Net de TV a cabo e os órgãos de defesa do consumidor de Minas. A empresa não transigiu em nenhuma reclamação dos consumidores. Tampouco os deputados, a Promotoria de Justiça do Procon Estadual e o Procon Assembléia se deram por satisfeitos com os argumentos de defesa da operadora. Os representantes da Agência Nacional das Telecomunicações (Anatel) demonstraram que a agência está legalmente de mãos atadas para interferir nos principais temas da relação da empresa com o consumidor.

A reunião, realizada na tarde desta quarta-feira (22/3/06) a requerimento da deputada Lúcia Pacífico (PSDB), pretendia alcançar um acordo para o cancelamento da cobrança de ponto adicional dentro da residência do consumidor, e questionar o excesso de propaganda veiculada na programação. As primeiras queixas foram apresentadas por Maria Mônica de Oliveira Castro, do Movimento das Donas de Casa.

"Recebemos inúmeras reclamações dos contratos firmados com a Net, que oferecia o canal HBO no seu pacote Advanced. Depois a empresa perdeu a concessão do canal, mas não reduziu o preço. Agora a HBO voltou às transmissões, mas com cobrança à parte. Outra reclamação é quanto ao telefone 4004 para fazer reclamações, cujas chamadas são tarifadas e nunca atende. "Os consumidores exigem um telefone 0800, e que seja atendido", disse Maria Mônica.

Luciana Coelho de Freitas, da Promotoria de Defesa do Consumidor, relatou o grande número de queixas contra a prática abusiva de cobrança de ponto adicional e a codificação de canais. "Nós só cuidamos de questões coletivas, e essa já tomou tal porte que estamos entrando com uma ação civil pública contra a Net e a Way, sob o argumento de que a cobrança não tem contraprestação que a justifique", disse Luciana Freitas.

Marcelo Barbosa, do Procon Assembléia, anotou 159 reclamações contra as empresas de TV a cabo, sobre cobrança de ponto extra, sobre a impossibilidade de se usar o recurso "picture in picture" por causa da codificação dos canais, e também sobre a dificuldade que o cliente tem para cancelar sua assinatura. "Mesmo quando consegue ser atendido ao telefone, a empresa leva de 30 a 40 dias para fazer o desligamento e continua cobrando do consumidor", disse Barbosa.

Anatel sustenta argumentação jurídica da Net

O consultor jurídico da Net Serviços de Comunicação, Antônio Roberto Sales Batista, listou os empregos gerados e o ICMS recolhido para justificar a importância da empresa e disse que foram gastos bilhões para fazer o cabeamento de Belo Horizonte, num investimento que leva 15 anos para dar retorno. Leu os dispositivos legais que lhe permitem cobrar pelo ponto adicional, codificar os sinais e inserir publicidade para abater seus custos. Para ele, a Net não é concessionária de um serviço público, sujeita a tarifa e controle estatal, mas empresa privada que vende serviços, sujeita apenas às leis do mercado e à regulamentação da Anatel. Hermann Bergman, da Anatel, confirmou que a concessão de TV a cabo é atípica do direito administrativo e que a lei permite veiculação de publicidade nos canais fechados.

"Então estou me sentindo desamparada pela lei e pela agência que deveria disciplinar o serviço e defender o consumidor", disse Maria Mônica de Oliveira. "Estou pagando R$ 138,00 por mês para ver propaganda? O certo seria abater da minha conta o tempo que estou vendo publicidade", acrescentou. A deputada Lúcia Pacífico ajuntou que as freqüentes interrupções do sinal também precisam ser deduzidas da conta.

As reclamações secundárias terão que ser atendidas pela Net até o próximo mês de julho, segundo Gustavo Henrique Rocha Lopes, representante da Anatel. O Programa Geral de Metas de Qualidade da agência exige que a operadora melhore o atendimento telefônico e reduza as interrupções do sinal.

O ponto mais polêmico da reunião, no entanto, foi a cobrança do ponto adicional. As pessoas que tinham divisores de sinal para outros aparelhos dentro de sua própria residência foram penalizadas quando a operadora, visando combater a pirataria, codificou seus sinais e instalou decodificadores para um só aparelho por assinatura. "Aí acabou a mamata", resumiu Antônio Roberto Sales Batista. A expressão pejorativa irritou Marcelo Barbosa, do Procon, que ameaçou jogar no lixo o Código de Defesa do Consumidor se um direito do assinante passasse a ser considerado "mamata".

Ao final da reunião, Luciana Coelho disse que a Promotoria manteria a ação civil pública e Sales Batista disse que não haveria restrição à inserção de publicidade nos canais fechados. Disse ainda que TV a cabo é um serviço para quem pode pagar. "Eu gostaria de tomar água Perrier todo dia em minha casa, mas não está ao meu alcance", ilustrou. Apenas as questões referentes ao atendimento telefônico e à qualidade do sinal podem melhorar com as exigências da Anatel.

Requerimento - Foi aprovado requerimento do deputado Edson Rezende (PT) pedindo audiência pública da comissão para debater política tarifária das companhias de eletricidade de Minas Gerais.

Presenças: Deputado Chico Rafael (PMDB), presidente; deputada Lúcia Pacífico (PSDB), vice-presidente; deputados João Leite (PSDB) e Edson Rezende (PT).

 

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