Prevenção de cegueira infantil é debatida na Comissão de Saúde

A Comissão de Saúde reuniu-se nesta quarta-feira (22/3/06) para debater a Lei 15.394, de 2004, que exige a realização...

22/03/2006 - 00:00
 

Prevenção de cegueira infantil é debatida na Comissão de Saúde

A Comissão de Saúde reuniu-se nesta quarta-feira (22/3/06) para debater a Lei 15.394, de 2004, que exige a realização do exame de fundo de olho em recém-nascidos em maternidades do Estado. O autor do projeto que originou a lei, deputado Ricardo Duarte (PT), afirmou que até hoje a legislação não tem sido cumprida, mesmo sancionada pelo governador em outubro de 2004. A falta de material, de recursos e de profissionais para realizar os exames foram os principais motivos apontados para a não aplicação da lei. Oftalmologistas, pediatras e técnicos da área da saúde participaram dos debates.

O integrante do Departamento de Oftalmologia da Associação Médica de Minas Gerais, Luiz Carlos Molinari, destacou a diferença entre o "exame de fundo de olho" - que detecta inflamações na retina e a toxoplasmose, e o exame do "reflexo vermelho" - que diagnostica doenças como catarata, glaucoma e retinoplastoma (tumor maligno intra-ocular).

O chefe do Serviço de Retinopatia da Prematuridade da Santa Casa, Edward do Nascimento, lembrou que os exames do reflexo vermelho podem ser feitos por pediatras, que, caso suspeitem de alguma doença, devem encaminhar a criança para um especialista. De acordo com ele, o mesmo não acontece com o exame de fundo de olho, que deve ser feito por um especialista em retina pediátrica. Ele defende a presença de um oftalmologista na rotina e cultura das maternidades públicas.

De acordo com o coordenador de Oftalmologia Social da Secretaria de Estado da Saúde, Jules Jésus Ayoub, a retinoplastoma só pode ser diagnosticada em crianças entre dois a três anos de idade. No caso da doença ser hereditária, ela pode ser percebida por volta de um ano de vida. Já o exame do reflexo vermelho pode detectar qualquer alteração da visão da criança recém-nascida, que deve ser encaminhada a um oftalmologista para o tratamento.

Falta de aparelhos - O secretário-geral da Sociedade Mineira de Pediatria, Paulo Poggiali, representou o presidente da instituição, José Orleans da Costa. Ele afirmou que muitos hospitais públicos não fazem exames de vista em recém-nascidos por não possuírem o aparelho necessário, o oftamoscópio molecular. Para o pediatra, o exame de fundo de olho é tão importante quanto os exames já realizados em maternidades públicas, como o auditivo e o teste do pezinho.

O chefe do Serviço de Retinopatia do Hospital São Geraldo, Nassim Calixto Júnior, também defendeu a importância da realização do exame do fundo de olho. E reforçou que a retinoplastoma só pode ser detectada em crianças por volta dos 12 meses de idade, sendo raro o diagnóstico da doença em crianças prematuras. Outra dificuldade apontada por ele é a falta de oftalmologistas habilitados para a realização dos exames.

O coordenador do Ambulatório de Tumores Intra-oculares do Hospital São Geraldo, Fábio Borges, também concordou que o exame ideal para ser realizado em recém-nascidos é o de fundo de olho, e que é quase impossível detectar um tumor ocular em crianças recém-nascidas,. Ele destacou que, quando a retinoplastoma é detectada precocemente, as chances de cura são de 100%.

O deputado Ricardo Duarte sugeriu a criação de um fórum para discutir o assunto e aprimorar a Lei 15.394, composto pelos especialistas presentes no debate e outros que forem necessários. "O caminho para resolver o problema da saúde é a prevenção. Convidamos especialistas para discutir o assunto para, quem sabe, sensibilizar a Secretaria de Saúde de que a prevenção é mais barata que o tratamento", finalizou.

Estatística - O integrante do Departamento de Oftalmologia da Associação Médica/MG, Luiz Carlos Molinari, leu alguns dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e da ONU com relação à cegueira. De acordo com as informações, o Brasil detém 2,83% da população cega mundial; 60% das cegueiras são evitáveis; 90% dos casos ocorrem em áreas mais pobres; 40% têm causas genéticas; 25% são causados por infecções e 20% das cegueiras já instaladas são recuperáveis.

Requerimentos aprovados - A comissão aprovou ainda dois requerimentos. Um deles, de autoria do deputado Fahim Sawan (PSDB), solicitando que seja feito apelo ao Ministério da Saúde para rever a decisão de acabar com os mutirões de cirurgia. De acordo com o deputado, desde 1999 foram realizadas três milhões de cirurgias de catarata, retinopatia diabética, varizes e próstata, evitando doenças como a cegueira e o câncer de próstata. O deputado afirmou que o governo vai acabar com o programa sob alegação de que "a população deve ser atendida sempre e não apenas em ocasiões especiais e dependendo da patologia".

Outro requerimento aprovado, de autoria do deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente da Comissão de Saúde, requer que seja realizada uma audiência pública, em Montes Claros, para discutir a implantação da Programação Pactuada Integrada que vai beneficiar, inicialmente, o Norte de Minas, Vale do Jequitinhonha e regiões sul e sudoeste da Bahia com recursos provenientes do SUS. De acordo com o deputado, os municípios envolvidos necessitam discutir a alocação dos seus recursos para atender pacientes da região.

Presenças - Deputados Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente; Doutor Ronaldo (PDT); Fahim Sawan (PSDB) e Ricardo Duarte (PT).

 

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