Preservação das águas deve passar pelo conhecimento
popular
Estudar os aspectos culturais relacionados à água é
um dos caminhos mais eficientes para a preservação dos recursos
hídricos. O conceito foi apresentado pelo assessor da
Secretaria-Geral da Agência Nacional das Águas (ANA), Maurício
Andrés Ribeiro, na palestra de abertura do painel "Água e educação:
garantia para o futuro", nesta terça-feira (21/3/06), no primeiro
dia do 5º Fórum Nacional das Águas, realizado pela Assembléia
Legislativa.
"Há uma fonte inesgotável de saber popular que vai
além do conhecimento técnico-científico. Música, literatura, artes
cênicas, poesia, paisagismo e a própria língua portuguesa contêm
manifestações ligadas à água que devem ser estudadas e
compreendidas", afirmou. O representante da ANA lembrou que só em
Minas Gerais, por exemplo, há cerca de cem cidades cujos nomes estão
ligados à água.
A diretora de Educação e Extensão Ambiental da
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
(Semad), Idarci Esteves Lasmar, reconheceu a importância do papel da
escola para a educação e formação de uma consciência ambiental nas
crianças, mas questionou se isso realmente é o bastante para
garantir a preservação dos recursos hídricos. "É engano achar que os
adultos já não podem mudar seus conceitos e se preocupar com o meio
ambiente".
Já o gerente de Meio Ambiente da Federação das
Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Wagner Soares da
Costa, lembrou a importância da água para as atividades econômicas,
ressaltando a necessidade de se combater o desperdício. Para Wagner
da Costa, as empresas podem e devem usar a educação ambiental a seu
favor. Para isso, é preciso investir na educação formal, nas
escolas; e informal, em casa, no trabalho, no convívio social
diário. "É preciso mostrar aos empregados que o combate ao
desperdício é papel de todos e não somente de um setor específico",
disse.
Estatísticas sobre saneamento assustam
O segundo painel do dia foi aberto com um alerta:
apenas 55% do esgoto produzido pela população urbana no Brasil são
coletados. Destes, somente 20% recebem tratamento. A advertência foi
feita pela especialista em Recursos Hídricos da ANA, Maria Cristina
de Sá, que participou no Plenário da Assembléia, do painel "Água,
saneamento e saúde: interrelação necessária".
"O esgoto doméstico é um dos maiores poluidores dos
recursos hídricos. Saneamento e saúde estão intimamente ligados",
explicou a especialista, que lembrou também as disparidades
existentes entre a distribuição da água e da população no País: 78%
dos recursos hídricos do Brasil estão concentrados na Região Norte,
onde vivem apenas 7% da população brasileira. Já a região Sudeste,
que abriga 43% dos brasileiros, só dispõe de 6% de água.
Maria Cristina de Sá lembrou ainda uma série de
doenças diretamente relacionadas à água e que poderiam ser evitadas
com investimentos na área de saneamento, como hepatite, diarréia,
febre tifóide, amebíase, disenteria e várias outras. "Segundo
estimativas da ONU, 1,2 bilhão de pessoas no mundo ainda bebe água
imprópria para o consumo, e há muitas doenças que têm no meio
ambiente parte do seu ciclo, daí a importância de se investir em
saneamento, o que geraria considerável economia no setor de saúde",
completou.
A vice-presidente regional da Associação Nacional
dos Serviços Municipais de Saneamento (Assemae/MG), Dóris Aparecida
Garisto Lins também mostrou números preocupantes. Oitenta e três
milhões de brasileiros que vivem nas cidades não têm esgotamento
sanitário, sendo mais de 36 milhões residentes nas regiões
metropolitanas. Outros 18 milhões não têm acesso à água encanada nas
áreas urbanas.
A dirigente criticou a minimização do papel do
Estado na área de saneamento e classificou as parcerias
público-privadas como uma maneira disfarçada de privatização do
setor. Defendeu, ainda, um modelo de gestão municipal, pública, que
se submeta ao controle social. Na avaliação de Dóris, todo o
processo de saneamento - seja ele conduzido pelo município ou por
uma concessionária estadual - deve passar por esse controle. "A
comunidade é que sabe dizer onde e quando investir", destacou,
acrescentando que a associação não se opõe às concessionárias
estaduais, mas que estas devem respeitar a titularidade do município
e democratizar sua forma de atuação. A Assemae é contrária à
transformação da água - "um bem essencial à vida" - em
commodity, em mercadoria.
Dóris Lins trouxe outro dado importante: segundo o
Ministério das Cidades, para universalizar o serviço de
abastecimento de água e de esgotamento sanitário no País seriam
necessários R$ 70 bilhões até 2010, R$ 123 bilhões até 2015 e R$ 178
bilhões até 2020. Segundo ela, o investimento anual médio de R$ 9
bilhões (0,45% do PIB) não estaria sendo contingenciado, mas sim
desigualmente distribuído entre os municípios. Assemae, Agência
Nacional de Águas (ANA), Copasa e Secretaria de Estado da Saúde
foram as instituições e entidades encarregadas de abordar o tema
"Água, saneamento e saúde: interrelação necessária".
Copasa lista investimentos
O diretor técnico e de Meio Ambiente da Copasa,
Carlos Gonçalves de Oliveira Sobrinho, listou as realizações e
investimentos da companhia. Segundo ele, um dos programas mais
ambiciosos é um projeto-piloto a ser implantado nos Vales do
Jequitinhonha, Mucuri e São Mateus. A meta é implementar sistemas de
abastecimento de água e sistemas de esgotamento sanitário em sedes
municipais e também nas localidades rurais de oito municípios. Entre
eles, Itinga, Novo Oriente de Minas e o entorno de Diamantina. O
valor da licitação é de R$ 29 milhões, e a previsão é de que as
obras sejam iniciadas em junho e entregues em outubro.
Saúde - Já a relação entre
saneamento e saúde foi detalhada pela diretora de Vigilância
Ambiental em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Cristiana
Ferreira Jardim de Miranda. Ela informou que a Secretaria já
concluiu levantamento sobre a qualidade da água em áreas urbanas de
Minas Gerais. O resultado será divulgado em breve pelo Executivo,
mas ela adiantou que, na amostra pesquisada, foi constatado que 20%
dos municípios não têm água com a qualidade necessária. Dez por
cento não têm qualquer tipo de água tratada.
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