Cooperativas de trabalho, educação e habitação são ouvidas em Comissão

Fortes ataques contra cooperativas fraudulentas e empresas travestidas de cooperativas de trabalho foram desferidos n...

16/03/2006 - 00:00
 

Cooperativas de trabalho, educação e habitação são ouvidas em Comissão

Fortes ataques contra cooperativas fraudulentas e empresas travestidas de cooperativas de trabalho foram desferidos na reunião da Comissão Especial do Cooperativismo da Assembléia realizada na tarde desta quinta-feira (16/3/06). Defesas veementes das cooperativas de trabalho como formas de enfrentar o desemprego também foram feitas por dirigentes presentes à reunião presidida pelo deputado Paulo Piau (PPS).

A reunião foi destinada a ouvir os setores do cooperativismo voltados para habitação, trabalho e educação. Ronaldo Scucato, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg), apresentou números que mostram a escassa filiação desses setores à organização: apenas oito cooperativas habitacionais com 2.300 cooperados, 40 cooperativas educacionais, com 12 mil cooperados; e 79 de trabalho, com 32 mil pessoas. No entanto, Scucato louvou o pioneirismo de Minas, primeiro Estado a ter apoio parlamentar ao cooperativismo através da Frencoop.

Luiz Fernando da Silva, representante das cooperativas habitacionais, disse que há 11 anos se dedica à atividade, atendendo a 1.188 famílias. "Os juros altos cobrados nos financiamentos habitacionais fazem com que os mutuários paguem três ou quatro vezes o valor do imóvel que adquiriram. Qualquer pessoa racional procura fugir dessa dívida", disse ele. Silva lamenta que "nos anos 60 e 70 inúmeras empresas se travestiram de cooperativas para burlar a legislação e nos colocaram a todos sob desconfiança. Até hoje carregamos este carma".

Tereza Raquel Mello Vitoriano Alves disse que há quatro tipos de cooperativas educacionais: as de pais de alunos, de professores, de pais e mestres e de escolas agrotécnicas, e que representava ali apenas o primeiro tipo. Disse que o objetivo dessa união era buscar qualidade e preço justo, e que a atuação de sua cooperativa já tinha forçado muitas escolas a melhorar tanto um como o outro. Suas principais dificuldades são a falta de acesso ao crédito, por exigências que não têm condições de cumprir; a falta de uma cultura cooperativista e de integração entre cooperativas. "Das 70 cooperativas educacionais existentes, 30 sequer estão filiadas à Ocemg. Fizeram apenas o registro na Junta Comercial", ilustrou Tereza Alves.

Cooperativas de trabalho reclamam da fiscalização

Dois dirigentes de cooperativas de trabalho fizeram a defesa de sua atividade. Para Fábio Antônio da Silva e Geraldo Magela da Silva não faz sentido falar em direitos sociais no âmbito das cooperativas de trabalho. Para eles, estas são uma resposta do trabalhador ao formato de emprego subordinado ao capital, e devem ser auto-regulamentadas na forma do projeto de lei 6.449/05 do deputado federal Walter Barelli (PSDB-SP).

Magela elogiou ainda uma iniciativa da governadora do Rio, Rosinha Garotinho, que prioriza a contratação de cooperativas para suprir mão-de-obra temporária em contratos de terceirização. Disse ainda que a Prefeitura de Belo Horizonte abriu mão do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) - o principal ônus que recai sobre as cooperativas - sobre atos cooperativos. Pediu que a iniciativa seja disseminada por todas as prefeituras de Minas.

Essa argumentação foi parcialmente combatida pelo advogado trabalhista Marcelo Pertence, para quem o direito ao trabalho não pode permitir a supressão das conquistas trabalhistas, como a limitação de jornada e o descanso semanal, sob pena de retorno à era medieval. "Muitas pretensas cooperativas de trabalho usam artifícios ilegais para fraudar a relação de emprego e precarizar essa relação. Até mesmo instituições de prestígio, como o Sesi e o Sebrae, já lançaram mão de expedientes irregulares para contratar professores para seus cursos, e após questionamentos nossos, estão voltando atrás", disse o advogado.

Na opinião dele, as cooperativas de trabalho são fraudulentas em sua quase totalidade, e a Delegacia Regional do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho não devem afrouxar em nenhum momento o rigor de sua fiscalização. "Esse discurso de perseguição é equívoco retórico", atacou Marcelo Pertence. As cooperativas de fachada também estão entre as preocupações do Tribunal de Contas do Estado, segundo Luciana Morais, representante do presidente do TCE.

Marcelo Barbosa, coordenador do Procon Assembléia, reforçou a posição de Pertence, ao dizer que não recebeu até hoje nenhuma denúncia contra cooperativas educacionais, mas que, se chegar às suas mãos alguma cópia de contrato abusivo, não hesitará em aplicar o Código de Defesa do Consumidor. Barbosa comprometeu-se ainda a enviar diariamente ao deputado Paulo Piau e ao presidente da Ocemg listas de pseudocooperativas para que sejam combatidas e retiradas do mercado.

O deputado Paulo Piau procurou conciliar as posições divergentes, dizendo que "o combate à fraude é também o discurso da Ocemg, mas que a ilegalidade está grassando em toda a sociedade brasileira, e não só nas cooperativas. "Todos nós somos tidos como criminosos se descumprirmos até exigências absurdas, como a de fornecimento de chapéu de aba-larga para os apanhadores de café. Todos sabem que não se pode colher café com um chapéu assim", disse o deputado.

O juiz Vicente Oliveira Silva, das relações de consumo, comentou o advento das sociedades por cotas, que abarrotaram os juizados especiais com as demandas que provocaram. Marília Alkimim, da Secretaria da Educação, descreveu o andamento da proposta de criação de cooperativas dentro das escolas públicas de Minas.

A Comissão Especial do Cooperativismo, em reuniões anteriores, colheu informações sobre os setores agropecuário, creditício, saúde e consumo. O deputado Paulo Piau informou que, nas próximas reuniões, serão ouvidos os setores de transporte, infra-estrutura, mineração, turismo e lazer.

Presenças - Deputado Paulo Piau (PPS), presidente; deputados José Henrique (PMDB), Marlos Fernandes (PPS) e Weliton Prado (PT).

 

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