Comissão de Saúde debate epidemia de dengue no Triângulo

A epidemia de dengue que atinge a região do Triângulo Mineiro, que já causou uma morte pela forma hemorrágica da doen...

15/03/2006 - 00:00
 

Comissão de Saúde debate epidemia de dengue no Triângulo

A epidemia de dengue que atinge a região do Triângulo Mineiro, que já causou uma morte pela forma hemorrágica da doença em Uberaba este ano, só pode ser vencida pela adoção imediata de um plano de contingência e por um trabalho permanente de combate ao mosquito transmissor, o Aedes aegypti. E esse trabalho requer um grande esforço de educação da população e a atuação eficiente, integrada e compartilhada, dos órgãos de saúde da União, do Estado e dos municípios. Essa análise unificou as opiniões dos técnicos e especialistas que participaram de audiência pública da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa, nesta quarta-feira (15/3/06), para debater o assunto. A reunião foi convocada por iniciativa do deputado Fahim Sawan (PSDB), que é de Uberaba e que acusa autoridades do município de terem agido tardiamente no enfrentamento do problema.

De acordo com Giovanini Evelim Coelho, coordenador do Programa Nacional da Dengue do Ministério da Saúde, o controle da doença é uma prioridade do ministério e o repasse de recursos para estados e municípios tem sido feito regularmente. Ele disse que o apoio do governo federal se dá sobretudo na aquisição de equipamentos e veículos e na destinação de recursos para contratação de agentes de saúde, e enfatizou a importância de o combate ao mosquito ser constante, e não apenas quando a epidemia está instalada.

Epidemia previsível - A ocorrência da epidemia no Triângulo foi confirmada pelo dirigente da Coordenadoria de Controle de Zoonoses da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Francisco Leopoldo Lemos, que disse que a situação iniciou em 2005 e continua em 2006. O número de casos de dengue na região havia caído de 60 mil, em 2002, para 20 mil, em 2005, quando voltou a aumentar. No entanto, segundo Francisco Lemos, o quadro de risco no Triângulo Mineiro já poderia ser percebido numa análise das taxas de incidência da doença na região nos anos de 2002 e 2003, que já eram muito superiores às taxas do restante do Estado. "Uma epidemia de dengue não ocorre de setembro para março, mas vai se acumulando ao longo dos anos", explicou.

De acordo com a SES, em 2005, os municípios mineiros com mais notificações de dengue foram Uberlândia, Uberaba, Timóteo, Ituiutaba e Frutal. No ano passado, os 20 municípios que lideraram esse ranking foram responsáveis por 81% dos casos em todo o Estado. Dados da secretaria mostram que em cidades como Uberlândia, o índice de infestação em alguns bairros chega a 10% dos domicílios, o que é considerado um percentual altíssimo. Francisco Lemos chamou atenção, também, para a importância de o combate ao mosquito não ser interrompido durante o período da seca, quando acontece de muitas prefeituras deslocarem pessoal das equipes de saúde que fazem o trabalho de campo para outras atividades. "O trabalho tem que ser constante", advertiu.

Trabalho educativo - O secretário municipal de Saúde de Uberaba, Alaor Carlos de Oliveira Júnior, confirmou 1.712 notificações de dengue na cidade em 2006, até o dia 13 de março, sendo 253 casos confirmados de dengue clássica e dois de dengue hemorrágica, e explicou as ações que estão sendo adotadas pelo governo municipal. Ele revelou um dado curioso: nos bairros de periferia, de população mais pobre, o índice de infestação é muito baixo; enquanto na região central, de população de melhor poder aquisitivo, a infestação é maior. Isso se explica, segundo ele, por diferenças no acesso das equipes do Programa Saúde na Família, que fazem o trabalho preventivo. Os profissionais encontram dificuldade de acesso aos domicílios nos bairros de classe média e alta. Com a contratação de novos profissionais, a equipe de dedetizadores de Uberaba conta com 192 agentes, 100% mais que em 2004.

Monitoramento inteligente - Também participou da audiência o pesquisador e professor da UFMG Álvaro Eduardo Eiras, que explicou uma nova tecnologia que desenvolveu para o monitoramento do combate à dengue, mediante o geoprocessamento de dados de mosquitos capturados em armadilhas, o que permite agilidade na identificação das áreas de risco. O trabalho, que vem sendo avaliado há dois anos em dez municípios brasileiros, revela-se, segundo o representante do Ministério da Saúde, "bastante promissor", mas ainda não estaria pronto para ser adotado pelo órgão responsável pelas diretrizes nacionais do combate à dengue. O município mineiro de Congonhas passou a utilizar, com sucesso, a inovação tecnológica desenvolvida pelo professor da UFMG. Na reunião, o secretário de Saúde de Uberaba acenou com a possibilidade de uma parceria para ajudar no combate ao Aedes aegypti no município.

A experiência da Prefeitura de Belo Horizonte no enfrentamento da dengue, depois do surto ocorrido em 1998, também foi descrita na reunião por Silvana Teclas Brandão, da Vigilância Sanitária da PBH.

Deputados cobram providências - Para o deputado Paulo Piau (PPS), que também é de Uberaba, a situação no Triângulo é de emergência, e é preciso uma ação efetiva e objetiva dos governos federal, estadual e municipais, pois é a dengue é um problema que precisa ser enfrentado com campanhas educativas. O presidente da Comissão de Saúde, deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), outro parlamentar que é de Uberaba, concordou com a necessidade de parcerias entre as diversas esferas de governo e defendeu a utilização de novas tecnologias, como a desenvolvida pelo pesquisador da UFMG, como mais uma arma no combate ao mosquito da dengue. Weliton Prado (PT), que é de Uberlândia, mostrou-se preocupado com a qualificação dos agentes de saúde que, em muitos casos, não são preparados e são indicações do governo. Segundo ele, a contratação de agentes deveria ser feita por concurso público.

Requerimentos aprovados

Na reunião, os deputados aprovaram dois requerimentos. O primeiro, do deputado Adalclever Lopes (PMDB), pede ao promotor de Justiça da Comarca de São Sebastião do Paraíso informações sobre as providências tomadas a respeito de solicitação da Câmara Municipal referente a denúncias de irregularidades na aplicação de verbas do Sistema Único de Saúde (SUS). O segundo, do deputado Fahim Sawan, solicita ao Ministério da Saúde que estude a inclusão, nas equipes do Programa Saúde da Família, de pediatras e ginecologistas.

Presenças - Deputados Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente da comissão, Carlos Pimenta (PDT), Adalclever Lopes (PMDB), Doutor Ronaldo (PDT), Fahim Sawan (PSDB), Paulo Piau (PPS) e Weliton Prado (PT).

 

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