Luta por igualdade feminina inclui cidadania
homossexual
O lançamento do livro "Entre Elas... Quando Tudo
Acontece", no qual a empresária Regina Lanna retrata conflitos
sociais enfrentados por mulheres homossexuais, foi precedido por um
debate sobre as transformações do papel da mulher na sociedade e a
garantia de seus direitos, promovido na noite desta terça-feira
(14/3/06) pela Comissão de Direitos Humanos da Assembléia, como
parte das comemorações do Dia Internacional da Mulher.
Ao abrir o debate, o presidente da Comissão,
deputado Durval Ângelo (PT) disse que "a construção de uma sociedade
inclusiva consiste em buscar um mundo de tolerância, harmonia,
diversidade e pluralidade, e combater o Estado que se coloca como
protagonista das maiores violações dos direitos humanos". Antes de
dar a palavra às mulheres da mesa, Durval Ângelo abriu o microfone a
Walkiria La Roche, transexual que coordena o Centro de Diversidade
Sexual da Prefeitura de Belo Horizonte.
Para Walkiria, "os travestis sofrem nas ruas a
mesma violência que as senhoras sofrem em casa, por parte da
sociedade machista, falocrática e hipócrita". Acrescentou que há uma
"máquina de rejeição social que impulsiona o travesti para o mercado
do sexo, por lhe fechar as portas das profissões comuns", e disse
que deseja ver chegar o dia em que os agentes policiais se pautem
pela ordem pública, e não pelos preconceitos morais ou religiosos.
A autora Regina Lanna resumiu o tema do seu livro e
disse que a homossexualidade se manifesta na infância, como uma
criança se torna canhota. Sua obra mostra a descoberta da
homossexualidade pela própria mulher, pela sua família e depois as
lutas travadas contra o preconceito social.
Criminalidade feminina é predominantemente tráfico
de drogas
O delegado de Polícia Élcio Sá Bernardes manifestou
preocupação com a mudança no perfil das mulheres condenadas: "As
estatísticas mostram que 70% das presas no Brasil estão envolvidas
com o tráfico de drogas, e de 10 a 15% com assaltos a mão armada e
roubo a bancos".
De cada cinco dias de falta ao trabalho feminino,
um é causado por violência doméstica por parte dos maridos. De todas
as agressões contra a mulher, 70% ocorrem em casa, e 47% de todas as
mulheres brasileiras relatam que já sofreram violência. Esses dados
foram apresentados pela psicóloga Danielle Caldas, do Abrigo
Sempreviva, que, juntamente com a Casa Benvinda, já acolheu 294
mulheres e 629 crianças vítimas de violência doméstica.
A auditora Roseana Seabra falou sobre o mercado de
trabalho para a mulher. "A tecnologia veio permitir que a mulher
competisse com o homem em trabalhos que exigiam força bruta", disse
ela. A advogada Renata Cristina Vieira Maia acrescentou que 26% das
famílias brasileiras hoje são chefiadas por mulheres. Renata Maia
defendeu que as profissionais tenham jornada reduzida, porque
precisam trabalhar também em casa.
O deputado Roberto Ramos (PSDB), por sua vez, notou
a grande presença masculina na platéia, para dizer que "os homens
estão apoiando a luta das mulheres sem se envergonharem", e lamentou
o grande número de mulheres assassinadas em Belo Horizonte. "Foram
48 assassinatos entre 1988 e 2003, muitos deles só esclarecidos pela
cobrança constante das militantes femininas", disse o deputado.
Márcia Martini, diretora da Sedese, disse que "tudo
se resume ao olhar que temos em relação às outras pessoas. Qualquer
que seja sua cor ou sua orientação sexual, temos que enxergar a
outra pessoa como sujeito de direitos e deveres, enxergar o ser
humano que existe ali", disse a diretora.
Regina Lanna autografou 37 exemplares do seu livro
"Entre Elas... Quando Tudo Acontece" após o debate. Houve também
show de música popular brasileira com vários artistas, e um
coquetel.
Presenças: Deputados
Durval Ângelo (PT), presidente; e Roberto Ramos (PSDB),
vice-presidente. A deputada Jô Moraes (PCdoB) participou do
coquetel.
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