Debate assinala avanços nos Direitos Humanos em Minas

Entre os avanços e as perdas registrados pelo movimento em defesa dos direitos humanos em Minas, o saldo é positivo, ...

13/03/2006 - 00:00
 

Debate assinala avanços nos Direitos Humanos em Minas

Entre os avanços e as perdas registrados pelo movimento em defesa dos direitos humanos em Minas, o saldo é positivo, mas ainda há muito a conquistar, segundo a avaliação das autoridades e militantes reunidos no debate "Direitos Humanos em Minas Gerais", promovido pela Comissão de Direitos Humanos na noite desta segunda-feira (13/3/06), no auditório da Assembléia Legislativa.

O presidente da Comissão, deputado Durval Ângelo (PT), resumiu o trabalho intenso da Comissão, que já levou às três primeiras condenações com base na lei contra a tortura no país, inclusive à pena mais alta, imposta ao ex-delegado Fadel, e à condenação de duas policiais por crime de tortura. O deputado relatou também a denúncia de 77 pessoas por abuso sexual contra menores na cidade mineira de São Francisco e o afastamento de dois promotores de Araxá sob a mesma acusação, um deles inclusive o próprio promotor da Infância e Adolescência.

A diretora de Direitos Humanos da Sedese, Márcia Martini, também anunciou que o Governo de Minas está em dia com as indenizações às vítimas de tortura do período militar. "Já pagamos 406 dos 448 processos concluídos. Os restantes 42 se referem ao ano de 2005 e gostaríamos de pagá-los até o próximo dia 31 de março", disse ela. Gildázio Santos, da Pastoral de Direitos Humanos de Contagem, pediu que a luta pelos direitos humanos não se prenda só às décadas de 60 e 70, e que os militantes envolvam suas famílias na luta, que precisa de quadros novos.

Já o ex-secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, disse que Minas tem sido referência para o restante do Brasil em diversas atitudes pioneiras de defesa dos direitos humanos, como a da Ouvidoria de Polícia, a Defensoria Pública e os programas de proteção a adolescentes vítimas do tráfico de drogas e dos grupos de extermínio. Para ele, no entanto, é um retrocesso a atual composição do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Conedh), com uma participação intensiva de representantes policiais que estaria afugentando as entidades da sociedade civil. Nilmário relatou também a difícil situação de muitos menores presos ilegalmente em cadeias comuns, e deu como exemplo o Ceresp de Juiz de Fora, feito para receber 240 presos, e que estaria com mais de 700, inclusive alguns algemados nas grades pelo lado de fora das celas, por falta de espaço.

Discurso da proteção de bandidos e apatia das vítimas

A perda de representatividade do Conedh foi tema de queixa de várias pessoas que foram ao microfone, inclusive do coordenador de direitos humanos do Ministério Público, Rodrigo Filgueiras. Para ele, o Conselho está desprestigiado e, com uma nova formação, deverá melhorar. A presidente do Instituto Minas Cidadania, Egídia Maria Aiexe, enumerou, além desta, outras duas derrotas: o sucesso junto à opinião pública do discurso articulado para desqualificar os direitos humanos, ou confundi-los com as próprias violações e desvios; e a apatia das vítimas, descrentes de uma solução eficaz para a violência que sofreram.

Celso Penna Fernandes Jr, promotor da Infância e da Juventude, mostrou o que considera uma falha do Código Penal, ao valorizar mais o patrimônio material que a vida humana. Segundo o raciocinio dela, a pena para homicídio simples vai de 6 a 20 anos, com direito a progressão após cumprimento de 1/6. A de latrocínio vai de 20 a 30 anos, e por ser crime hediondo só pode ter progressão após cumpridos 2/3. Isso configuraria uma valorização excessiva do bem material. Penna Jr. também disse que só se discute emocionalmente o Estatuto da Criança e do Adolescentes, quando algum adolescentes comete um crime bárbaro, mas ninguém se lembra de cobrar dos governos a implantação de políticas públicas para evitar que os menores caiam no ciclo das drogas e do crime.

Várias pessoas representantes de entidades de defesa dos direitos humanos, presentes na platéia, foram ao microfone dar relatos ou pedir esclarecimentos à mesa. Ao final da reunião, o deputado Durval Ângelo articulou uma reunião com as entidades para discutir uma nova composição para o Conedh para a próxima quarta-feira, dia 22 de março, às 19 horas, na sede do Instituto Minas Cidadania.

Durval Ângelo anunciou ainda que a Comissão vai investigar sigilosamente denúncias de crimes contra jovens de Marilac, no município de Peçanha, nesta terça-feira, e na quarta-feira outra denúncia de que 11 policiais teriam abusado sexualmente de duzentas crianças numa cidade do interior. Na quinta, a Comissão vai a Manhumirim, para verificar condições desumanas na cadeia local.

Presenças: Deputado Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão; Nilmário Miranda, presidente estadual do PT; Márcia Martini, diretora da Sedese; Rodrigo Filgueiras, coordenador do Ministério Público; Celso Penna Fernandes Jr, promotor da Infância e Juventude; Gildázio Santos, do Movimento Nacional de Direitos Humanos; Egídia Maria Aiexe, presidente do Instituto Minas Cidadania; Andréa Carmona, coordenadora de Direitos Humanos da PBH.

 

 

 

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