Redução no atendimento do Odete Valadares provoca críticas

A incidência do câncer de mama está crescendo a uma taxa de 10% ao ano no Brasil. Segundo projeções do Instituto Naci...

08/03/2006 - 00:00
 

Redução no atendimento do Odete Valadares provoca críticas

A incidência do câncer de mama está crescendo a uma taxa de 10% ao ano no Brasil. Segundo projeções do Instituto Nacional do Câncer, serão 40 mil novos casos por ano no País, sendo quatro mil em Minas Gerais e 850 em Belo Horizonte. Com tais números, a mortalidade causada pela doença também vem crescendo, ao contrário do que acontece no resto do mundo. Os dados foram apresentados à Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa, nesta quarta-feira (8/3/06), durante audiência pública que discutiu a redução do atendimento do setor de mastologia da Maternidade Odete Valadares.

A reunião foi requerida pelo deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente da comissão, a pedido de cinco entidades do setor, preocupadas com a iniciativa da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), que em janeiro determinou a transferência de parte da equipe de mastologia para o Hospital Alberto Cavalcanti, onde será criado um Centro de Referência no Atendimento ao Câncer (Cacon). Com a ausência dos representantes da Fhemig e da Secretaria de Estado da Saúde, os participantes manifestaram sua preocupação com a redução do atendimento da maternidade e pediram a intermediação da comissão, com o objetivo de criar um grupo para apresentar um estudo que comprove a necessidade de manutenção do serviço no Odete Valadares.

Depois da exposição do mastologista do Odete Valadares, Rubens Marx Gonzaga, e dos representantes da Sociedade Brasileira de Mastologia, Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia, Associação de Prevenção ao Câncer de Mama, Sindicato dos Médicos de Minas Gerais e Secretaria Municipal de Saúde, o consenso é de que o assunto precisa ser discutido com a sociedade e todos os segmentos envolvidos e que a Fhemig não pode tomar uma decisão unilateral. Outro ponto convergente, que incluiu a avaliação dos deputados presentes, foi a excelência dos serviços prestados pela Maternidade Odete Valadares, considerada referência nacional no atendimento do câncer de mama.

Fhemig encaminha fax negando desativação

Quase ao final da reunião, a Fhemig encaminhou um fax à Comissão de Saúde, justificando a ausência de seus representantes, bem como da diretoria da maternidade, e garantindo que o serviço de mastologia não será desativado, "o que seria um contra-senso diante da ampliação e qualificação do atendimento, como a entrada em vigor, nos próximos 45 dias, da Unidade de Tratamento Intensivo Adulto". O documento da Fhemig afirma que não há desativação, mas "redirecionamento das atividades para melhorar o acesso e aumentar a resolutividade pelo fortalecimento do papel do Hospital Alberto Cavalcanti, como centro de referência em oncologia". O documento salienta que a Fhemig não é responsável pelo atendimento primário, "papel dos municípios".

Deputados e os representantes das entidades médicas criticaram o fato de estar-se desmontando um serviço que funciona, para ser transferido a outro local que sequer foi preparado. Esta foi a tônica das críticas do mastologista da maternidade e dos representantes da Sociedade de Mastologia, José Tadeu Avelar; da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia, João Pedro Caetano, da Associação de Prevenção do Câncer de Mama, Tadeu Provença; e do dirigente do Sindicato dos Médicos, Haroldo Gonçalves de Carvalho, entre outros participantes que se manifestaram.

Outras críticas referiram-se à falta de entrosamento entre os parceiros do Sistema Único de Saúde (SUS), justificado pela representante da Prefeitura de Belo Horizonte, Roseli da Costa Oliveira. Segundo ela, apesar de gerir as ações e os recursos financeiros do sistema, a Secretaria Municipal de Saúde não participa de decisões administrativas como a adotada pela Fhemig, o que em sua avaliação deve ser mudado. "As decisões não podem continuar a ser unilaterais".

Excelência internacional - O setor de mastologia da Maternidade Odete Valadares tem 23 anos de criação e conta hoje em sua equipe com nove mastologistas, um cirurgião plástico, psicólogos, além de outras especialidades. Atua no atendimento integrado além de desenvolver atividades científicas como a residência médica e trabalhos científicos em parceria com outras instituições. Os dados foram apresentados por Rubens Marx Gonçalves, que indicou ainda os números do atendimento da maternidade: em 2005, a unidade foi responsável por 25% das operações de câncer de mama da Região Metropolitana de Belo Horizonte e pelo atendimento de mil consultas por mês. Rubens Marx falou ainda sobre os tratamentos pioneiros do câncer, como o agulhamento, que evita a extirpação da mama.

Para o deputado Adelmo Carneiro Leão, os serviços devem ser ampliados e não reduzidos, "num esforço de garantir a saúde integral para todos". O deputado afirmou que pretende encaminhar um documento da comissão ao Estado e ao Ministério Público, sobre as graves conseqüências da diminuição do atendimento. Adelmo Carneiro Leão acatou a sugestão do presidente da Associação de Prevenção do Câncer de Mama, Tadeu Provença, de criação de um grupo com a participação da Assembléia, para elaboração de um estudo sobre o atendimento no setor. E anunciou ainda nova audiência pública, desta vez para discutir a prevenção do câncer de mama. O deputado Fahim Sawan (PSDB) garantiu que é obrigação da Assembléia abrir as portas para o debate e que a gestão dos recursos públicos deve ser mais competente. A deputada Maria Olívia (PSDB) lembrou sua gestão à frente da Legião Brasileira de Assistência (LBA), "quando tive contato com a equipe do Odete Valadares e aprendi a respeitar o trabalho e a dedicação deles". E o deputado Doutor Ronaldo (PDT) também elogiou a maternidade, destacando seu atendimento prioritário à população carente. Ele criticou o documento da Fhemig que chegou por fax, ao final da reunião.

Requerimento - Os deputados aprovaram requerimento do deputado Adelmo Carneiro Leão, solicitando o comparecimento do secretário de Estado da Saúde, Marcus Pestana, para a prestação de contas de sua pasta, em conformidade com a Lei 8.689.

Presenças - Deputados Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente; Carlos Pimenta (PDT), vice; Doutor Ronaldo (PDT), Fahim Sawan (PSDB), Adalclever Lopes (PMDB) e a deputada Maria Olívia (PSDB).

 

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