Cooperativas mineiras criticam tributação federal

A necessidade de revisão da legislação federal que impõe às cooperativas a mesma tributação aplicada às empresas priv...

21/02/2006 - 00:02
 

Cooperativas mineiras criticam tributação federal

A necessidade de revisão da legislação federal que impõe às cooperativas a mesma tributação aplicada às empresas privadas foi a principal reivindicação dos representantes das cooperativas de consumo, ouvidos pela Comissão Especial do Cooperativismo da Assembléia Legislativa, nesta terça-feira (21/2/06). O presidente da comissão, deputado Paulo Piau (PPS), chamou atenção para a injustiça dessa tributação, na medida que a sonegação existente no setor privado dá às empresas uma imensa vantagem na concorrência contra as cooperativas, que têm administração colegiada, sem possibilidade de sonegação.

O deputado denunciou o perigo de que essa concorrência desleal favoreça a ampliação das grandes redes varejistas multinacionais, que são os rivais mais importantes das cooperativas de consumo. Paulo Piau defendeu a revisão da Lei Federal 9.532/97, que regula a tributação das sociedades cooperativas. "Essa lei parece até resultado da pressão dos grandes para que o cooperativismo fique como está, ou diminua ainda mais. Vamos lutar para que o ato cooperativo seja respeitado, conforme a vontade expressa na Constituição Federal", afirmou o parlamentar. A revisão da Lei 9.532/97 permitiria a isenção de impostos federais para as cooperativas, incluindo PIS, Cofins, Imposto de Renda e a Contribuição Social sobre o Lucro.

O deputado Laudelino Augusto (PT), por sua vez, lembrou o crescimento do cooperativismo no interior, com a criação de várias incubadoras de cooperativas por prefeituras. E defendeu a inclusão de conteúdos voltados para o cooperativismo nas escolas. "As crianças deveriam aprender a importância do cooperativismo desde pequenas. Quem quer um mundo melhor tem que aprender a conjugar na prática o verbo cooperar", disse.

Representantes listam principais problemas

O efeito da sonegação no setor varejista foi ilustrado por alguns dos representantes de cooperativas ouvidos na comissão. O presidente da Cooperativa dos Empregados da Usiminas (Consul), Matusalém Sampaio, afirmou que a instituição detém 20% do comércio varejista de Ipatinga, mas recolhe 65% do ICMS do setor no município. Já o presidente da Cooperativa dos Moradores da Região dos Inconfidentes (Cooperouro), Joaquim de Oliveira Silva, informou que a entidade responde por 18% do faturamento do setor varejista em Ouro Preto, mas recolhe 68,5% do ICMS do setor, no município.

A presidente da Cooperativa Mista de Consumo e Trabalho dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários de Minas Gerais (Coavemig), Tânia Alvarenga, afirmou que a entidade ainda enfrenta um problema suplementar. Apesar de vender combustível a um preço bem abaixo da média do mercado, cerca de R$ 2,27, a cooperativa é obrigada a pagar ICMS calculado de acordo com essa média, que gira em torno de R$ 2,50.

O deputado Paulo Piau lembrou que, além das cooperativas de consumo, entidades que atuam em outros setores cooperados, como saúde, crédito e agropecuária, também destacaram a questão tributária como uma prioridade. "Ou o governo fiscaliza para valer a todos, inclusive as empresas privadas, ou dá um incentivo para as cooperativas", defendeu o parlamentar.

O presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg), Ronaldo Scucato, salientou a redução do número de cooperativas de consumo no Brasil. O número caiu de mais de 2.000, na década de 60, para as atuais 144. Em Minas, são 22. Essas remanescentes, segundo Scucato, venceram ao permitir a associação da população em geral, enquanto a norma, há 40 anos, era restringir a atuação das cooperativas de consumo aos funcionários de uma empresa. Exemplos são as cooperativas de funcionários da Usiminas e da Companhia do Vale do Rio Doce, que hoje incluem grande parte das populações dos municípios do Vale do Aço e de Itabira, respectivamente.

O coordenador do Procon Assembléia, Marcelo Barbosa, debateu com os dirigentes cooperativistas a aplicação do Código de Defesa do Consumidor no caso das cooperativas. O diretor financeiro da cooperativa dos empregados da Acesita (Associa), Almir de Figueiredo Murta, defendeu a interpretação de que os clientes das cooperativas são cooperados e não consumidores, e portanto essas entidades não estariam sujeitas ao código. A idéia foi repelida por Barbosa. "São consumidores cooperados. Existe um ato de consumo, e portanto as cooperativas estão sujeitas ao código", afirmou.

Além de ouvir os representantes das cooperativas de consumo, conforme proposta aprovada no início da reunião, os deputados aprovaram mais dois requerimentos que propõem mais duas reuniões, uma delas com representantes das cooperativas que atuam nos ramos educacional, habitacional e de trabalho; e outra com integrantes dos ramos do cooperativismo em desenvolvimento: produção, mineral, infra-estrutura, turismo e lazer.

Presenças - Deputados Paulo Piau (PPS), presidente; Laudelino Augusto (PT); Sargento Rodrigues (PDT); Lúcia Pacífico (PSDB) e Domingos Sávio (PSDB); presidente da Ocemg, Ronaldo Scucato; presidente da OCE/AM, José Merched Chaar; presidente da Consul, Matusalém Sampaio; presidente da Cooperouro, Joaquim de Oliveira Silva; presidente da Coopmed, Davidson Pires de Lima; diretor-presidente da Coopervale, João Batista Mendes; presidente da Coopeder, Luiz Gonzaga Campos; diretor-financeiro da Associa, Almir Murta; coordenador do Procon Assembléia, Marcelo Barbosa; presidente da Coavemig, Tânia Alvarenga, entre outros.

 

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