Alta médica programada provoca críticas em reunião

Às voltas com 400 mil acidentes de trabalho por ano no País, 40 mil só em Minas Gerais, o Instituto Nacional de Segur...

07/12/2005 - 01:00
 

Alta médica programada provoca críticas em reunião

Às voltas com 400 mil acidentes de trabalho por ano no País, 40 mil só em Minas Gerais, o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) enfrenta agora a revolta dos sindicatos de trabalhadores, diante das novas normas de concessão de licença por acidente de trabalho, que determinam a alta programada, ou seja, ao pedir a licença médica, o trabalhador já sabe que voltará ao trabalho em 60 dias, sem nova perícia. Para discutir tais problemas, as Comissões de Saúde e do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Assembléia Legislativa fizeram audiência pública nesta quarta-feira (7/12/05), a requerimento do presidente da primeira, deputado Adelmo Carneiro Leão (PT).

O primeiro resultado dos debates será o envio de um relatório com o teor da reunião ao Ministério do Trabalho e ao INSS para que estudem formas de adequar as normas à realidade dos trabalhadores. Em sua manifestação, o médico do trabalho da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), Mário Parreira de Faria, garantiu que 80% das demandas atendidas pelo plantão da DRT referem-se à suspensão das licenças médicas. "De cada 20 consultas atendidas diariamente, 16 são sobre isto".

As mudanças acontecerem a partir de agosto, depois da implantação de norma técnica do INSS, que acabou com a perícia médica para os licenciados a cada três meses. Depois de uma pesquisa feita pelo órgão, foram definidos os tempos de recuperação de cada tipo de acidente de trabalho, como fraturas, e daí definido o tempo de afastamento. As licenças médicas agora são concedidas de 0 a 60 dias ou dois anos, conforme a patologia, ao término das quais o trabalhador volta automaticamente à empresa.

Sindicatos criticam normas e pedem visão social

As reclamações dos trabalhadores, representados pelos Sindicatos dos Trabalhadores da Indústria Metalúrgica de Belo Horizonte, dos Bancários de Belo Horizonte e pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), é de que a alta médica vem ocorrendo sem que o trabalhador esteja pronto para voltar. Mário Faria, da DRT, disse que a situação é constrangedora. Luciana Lopes, da diretoria de Saúde do Sindicato dos Bancários, afirmou que a volta ao trabalho ocorre sem nenhum processo de reabilitação, como ocorria antes. Adair Marques, coordenador do departamento de saúde do Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte, adiantou que há peritos do INSS que não aceitam os CATs (Comunicados de Acidente Médico) dos sindicatos.

Os trabalhadores pediram o fim da alta médica indiscriminada, a volta do treinamento ou reabilitação profissional, para quem se encontra afastado há mais de um ano, aceitação dos CATs emitidos pelos sindicatos ou pelo próprio trabalhador, conforme prevê a legislação, reconhecimento de patologias como próprias da atividade laboral e não como doença comum. Os sindicatos defenderam ainda maior fiscalização das condições de trabalho e responsabilização das empresas por programas de prevenção de acidentes.

Hiato - Outra queixa levantada pelo médico da DRT e endossada pelos trabalhadores refere-se ao tempo que o INSS leva para decidir sobre recursos impetrados contra a alta médica. Entre o período em que foi concedida a alta e a entrada do recurso e seu julgamento, passam-se cerca de 90 dias, período no qual o trabalhador fica sem receber o salário da empresa ou o benefício do INSS.

Mudanças obedecem critérios técnicos

O gerente executivo do INSS em Belo Horizonte, Pitágoras Tadeu Miranda, afirmou que as normas são nacionais, por isso não podem ser alteradas ou flexibilizadas regionalmente, como sugeriu a deputada Jô Moraes (PCdoB), "sob pena de o gestor ser penalizado por improbidade administrativa ou fraude ao INSS", disse.

Ele respondeu a alguns questionamentos, como o levantado pelos sindicatos sobre a recusa dos CATs. Segundo ele, o preenchimento é definido por lei e qualquer recusa deve ser comunicada ao órgão, para punição. Ele se comprometeu a retomar a atuação do Conselho Municipal de Previdência Social, conforme pedido pelo vice-presidente da CUT em Minas, Lúcio Guterres, "tão logo sua gestão passe da superintendência regional para a gerência executiva de Belo Horizonte, como está previsto".

O delegado regional do Trabalho em Minas, Carlos Calazans, lembrou que o problema não é local, por isso tem de ser tratado nacionalmente. E adiantou que já propôs ao Ministério do Trabalho uma discussão sobre os afastamentos e os acidentes de trabalho, para que a norma técnica seja aperfeiçoada.

Os deputados Adelmo Carneiro Leão e Jô Moraes destacaram a necessidade de se fazer uma discussão nacional para mudanças na concessão de licenças médicas. "Do ponto de vista médico, nós não podemos aceitar a alta programada", destacou Adelmo Carneiro Leão, que prometeu uma discussão exclusiva sobre acidentes de trabalho no próximo ano.

Presenças - Deputados Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente da Comissão de Saúde; Fahim Sawan (PSDB); e as deputadas Elisa Costa (PT), vice-presidente da Comissão do Trabalho; e Jô Moraes (PCdoB).

 

 

 

 

 

 

 

 

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