Cooperativas de leite prevêem falência da atividade em Minas

O futuro das pequenas e médias cooperativas de produtores de leite é incerto, com a atividade em decadência, e o das ...

06/12/2005 - 01:00
 

Cooperativas de leite prevêem falência da atividade em Minas

O futuro das pequenas e médias cooperativas de produtores de leite é incerto, com a atividade em decadência, e o das cooperativas de cafeicultores não é muito melhor, a julgar pelos depoimentos prestados à Comissão Especial do Cooperativismo da Assembléia Legislativa na tarde desta terça-feira (6/12/05). Francisco Sales, da Coopervap, disse que "o horizonte é negro para o leite". Cobrou do governo federal políticas de incentivo ao consumo do leite, que estaria estabilizado enquanto a produção é crescente, e pediu a criação de uma cadeia produtiva para processar o leite e evitar o desperdício. "Estamos na situação de ter que dar o leite para os agricultores irrigarem a plantação, porque nem jogá-lo nas rodovias ou nos rios podemos, sem ser acusados de poluição", afirmou o líder cooperativista.

"O leite está agonizando. Durante muitos anos incentivamos o pecuarista a produzir. Agora não temos coragem de lhe pedir para paralisar a produção. Isso acontece porque não há planejamento da atividade agropecuária no Brasil", lamentou João Bosco Ferreira, da Cemil de Patos de Minas. Segundo ele, isso provoca a falência de muitas cooperativas. "Em 1993, a Cemil de Montes Claros era uma das maiores do Estado, recebendo 150 mil litros por dia. Hoje quase acabou. Mal recebe 20 mil litros. Nossa sobra é de 300 mil litros por dia. Estamos chorando por uma fábrica de leite em pó, que custaria R$ 35 milhões, e não há linha de crédito nem incentivo para construí-la", acrescentou.

A situação do café também é preocupante, na visão da Cooperativa dos Cafeicultores e Agropecuaristas de Minas Gerais (Cocamig). As pequenas e médias cooperativas estariam sendo massacradas por firmas virtuais "laranjas" que atuam em Minas. Além de não ter custos, elas sonegariam os 2,3% devidos ao Funrural em cada saca, e ofereceriam esse tipo de vantagem para o produtor, que acaba abandonando a cooperativa. O líderes cooperativistas pedem uma ação enérgica do governo contra esse tipo de empresa.

Paulo Raimundo Rettore, dos apicultores, disse que "é difícil competir com a fraude, a sonegação e o caixa 2". Reclamou também das restrições do mercado mineiro: "Exportamos 900 toneladas para os Estados Unidos, mas não conseguimos colocar nosso produto em Minas". O representante da Coanor fez uma denúncia que surpreendeu o presidente da Comissão, deputado Paulo Piau (PPS). Ele disse que os agentes fiscais de sua região querem tributar o café na secagem.

Informalidade e altas taxas desestimulam a atividade

Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da Cooxupé, apresentou seu ponto de vista: "Os agentes do Estado estão sempre criando entraves e dificuldades, mas o nosso maior concorrente é a informalidade, que consegue bons lucros por não pagar impostos. Enumerou também, como desestímulo, as altas taxas de licenciamento ambiental da Feam e do IEF, se comparadas às do Paraná, a burocracia e a carga tributária excessiva, e o péssimo estado das rodovias, que aumenta o custo do transporte.

Outros tipos de cooperativa, como a agrícola do Alto Paranaíba, que produz grãos, frutas e legumes, não apresentaram queixas sobre o apoio governamental à atividade, mas reivindicam o reconhecimento do ato cooperativo previsto em lei, para evitar o impacto tributário que consideram injusto. "O governo só admite como ato cooperativo a entrega do produtor à cooperativa para posterior venda. No restante, somos tratados como o comércio normal", disse Jorge Quirino, da Copadap.

Outra reivindicação dos cooperativistas diz respeito ao treinamento e capacitação. Andréa Damázio, do Sebrae, relacionou os gastos da entidade em 2005, que investiu R$ 19,2 milhões em 152 projetos de treinamento, com ênfase no leite, no café, na cachaça e na fruticultura. Pierre Vilela, da Faemg e do Senar, anunciou que mais de 1,2 milhão de treinamentos foram realizados, para que o produtor rural consiga compreender as novas exigências do mercado consumidor.

O deputado Paulo Piau (PPS) procurou amenizar o desânimo dos líderes cooperativistas presentes, dizendo que a atuação da Assembléia tinha trazido vitórias para os produtores rurais. "Minas tinha um dos mais altos ICMS do Brasil até a CPI do Leite. Hoje está na média nacional. A CPI do Café também realizou investigações sobre fraudes e desvios que prejudicavam o cafeicultor. E conseguimos também a inclusão do leite e do café na merenda escolar", exemplificou.

Presenças: Deputado Paulo Piau (PPS), presidente; deputada Ana Maria Resende (PSDB).

 

 

 

 

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