Comissão vai visitar 2o Distrito Policial de Contagem

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa vai visitar o 2o Distrito Policial de Contagem na próxima te...

06/12/2005 - 01:00
 

Comissão vai visitar 2o Distrito Policial de Contagem

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa vai visitar o 2o Distrito Policial de Contagem na próxima terça-feira (13), às 13 horas. O objetivo é avaliar as condições de alojamento dos presos na carceragem do 2o DP, por solicitação dos deputados Durval Ângelo (PT) e Roberto Ramos (PSDB). O requerimento foi aprovado na reunião da comissão realizada nesta terça-feira (6/12/05), convocada para ouvir o juiz da Vara de Execuções Criminais de Contagem, Livinghston José Machado.

O juiz ficou famoso por sua polêmica decisão de mandar soltar 36 presos encarcerados no 2o DP no dia 16 de novembro. Uma semana antes, ele havia mandado libertar outros 16 detentos do 1o DP de Contagem, alegando superlotação. Atendendo a pedido da Advocacia-Geral do Estado, o Tribunal de Justiça concedeu uma liminar revogando a decisão do juiz. A mais alta corte do Judiciário estadual também afastou o juiz do exercício de suas funções e determinou a criação de uma comissão para avaliar se ele cometeu crime de prevaricação.

Livinghston explicou que sua decisão não foi motivada pela vontade de garantir a defesa dos direitos individuais dos presos, mas foi uma tentativa de preservar a dignidade humana dos detentos, direito assegurado pela Constituição Federal a qualquer cidadão. "O respeito à dignidade humana não é um direito individual, é um fundamento da República. Se os direitos e garantias fundamentais forem desrespeitados, não há Estado democrático de Direito", justificou.

O juiz fez um breve relato das péssimas condições de higiene dos presos encarcerados no 2o DP. Com capacidade para 40 detentos, o distrito abrigava 148 homens, espremidos em apenas quatro celas. Muitos haviam contraído hepatite, tuberculose e doenças sexualmente transmissíveis. Visitas e até audiências com advogados tiveram que ser suspensas para evitar a contaminação de parentes, policiais e advogados. "O ambiente ficava empesteado com o cheiro dos presos. Aquilo não era um tratamento humano", relembra.

Até casos de detentos com balas alojadas na cabeça e sem tratamento médico foram detectados pela Pastoral dos Direitos Humanos, que visitou o 2o DP em setembro. "A situação era de absoluta desumanidade: paredes mofadas, teto prestes a desabar, falta de iluminação, esgoto passando na porta da cela", relata a pastoral, em carta aberta encaminhada às autoridades.

Críticas ao governo do Estado

O magistrado não poupou críticas ao governo do Estado. Ele acusou a superlotação na Penitenciária Nelson Hungria, onde um pavilhão adaptado para receber presos provisórios estaria com 320 detentos, quase o dobro da capacidade de 180 homens. Também condenou os vultosos investimentos em propaganda oficial sobre a construção de novos presídios, dinheiro que poderia ser utilizado para criar um número ainda maior de vagas no sistema prisional.

Não faltaram manifestações de apoio a Livinghston da parte de juizes, promotores, defensores públicos e militantes de organizações de defesa dos direitos humanos. Os deputados também elogiaram a decisão ousada do magistrado. O deputado Durval Ângelo criticou a discrepância entre a publicidade estatal e a triste realidade das cadeias mineiras. "A propaganda oficial mostra melhorias no sistema prisional como se estivéssemos num cantão suíço, e não em Minas Gerais. Alguns de nossos estabelecimentos prisionais não fariam inveja às masmorras medievais", acusou. Também o vice-presidente da comissão, deputado Roberto Ramos (PSDB), criticou o que ele considera "sistema prisional falido" do Estado.

A comissão aprovou ainda requerimento de autoria coletiva para a realização de uma visita ao secretário adjunto de Defesa Social, Luiz Flávio Sapori, para a apresentação de um projeto de recuperação de detentos em Ouro Preto.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PSDB), vice; Domingos Sávio (PSDB) e Ana Maria Resende (PSDB). Também participaram da reunião: o coordenador do CAO-Direitos Humanos, promotor Rodrigo Filgueira de Oliveira; o membro da Pastoral de Direitos Humanos, Alexandre de Lourenço; a presidente do Conselho da Comunidade da Comarca de Contagem, Luzia Gomes Zevallos del Barco; o juiz de Montes Claros, Danilo Campos; a defensora pública Frances Rabelo Coutinho; o conselheiro do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, Élcio Pacheco; o presidente da Associação dos Defensores Públicos de Minas Gerais, Glauco David de Oliveira Souza; e o juiz aposentado Arutana Cobério.

 

 

 

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