Audiência debate prevenção da gripe aviária em
MG
Os órgãos públicos federais e estaduais de diversos
setores, e entidades privadas de avicultores, estão trabalhando
juntos na elaboração de um plano de contingência para enfrentar a
ameaça da gripe aviária. E essa união de esforços é a maior garantia
de que as ações preventivas serão bem-sucedidas e de que, na
hipótese de a doença chegar ao País ou ao Estado, as autoridades
estarão preparadas para adotar todas as medidas necessárias para
proteger a população e a atividade da avicultura. Essa é a principal
conclusão a que chegaram os participantes da audiência pública
realizada, na manhã desta terça-feira (6/12/05), pelas comissões de
Saúde e de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia
Legislativa. A reunião, solicitada pelos deputados Doutor Ronaldo
(PDT) e Antônio Júlio (PMDB), teve como objetivo debater as medidas
preventivas a serem adotadas no Estado, para proteger a avicultura e
combater a gripe aviária.
O presidente do Instituto Mineiro de Agropecuária
(IMA), Altino Rodrigues Neto, relatou as principais medidas que têm
sido tomadas pelo Estado, em parceria com o governo federal, e
exaltou a importância desse trabalho. Segundo ele, 50 médicos
veterinários já foram treinados pelo IMA para detectar e prevenir a
doença e, num esforço conjunto com a iniciativa privada, todas as
granjas serão cadastradas e georreferenciadas. Nos últimos dois
anos, foi feito o levantamento sorológico de duas doenças aviárias,
com coleta de mais de 2 mil soros. Vinte barreiras sanitárias, em
pontos estratégicos do Estado, estão sendo implantadas, para
controle do trânsito de animais e de produtos animais. O IMA ampliou
seu quadro de veterinários e, juntamente com o Ministério da
Agricultura, está fazendo um trabalho de regionalização da
avicultura. "A gravidade do problema tem obrigado todos a partirem
para a troca de experiências e união de esforços, o que é
extremamente positivo", acentuou.
Risco maior é transmissão entre pessoas
Regina Coeli Magalhães Rodrigues, consultora em
Influenza da Secretaria de Estado da Saúde, disse que a vigilância
da influenza (gripe) sazonal no Estado é feita desde 2002, e
a modalidade aviária ainda está restrita à região asiática. De
acordo com ela, até hoje a transmissão da gripe aviária entre
pessoas não foi confirmada cientificamente, e, caso haja confirmação
da transmissão da doença entre seres humanos, os especialistas
apontam um prazo máximo de três meses para que a doença chegue à
América. Regina Coeli explicou que já existe um plano nacional de
contingência da gripe aviária, e um comitê intersetorial está
discutindo esse plano para adaptá-lo à realidade mineira. Questões
como expansão da capacidade técnica para detecção laboratorial da
doença, aquisição de estoque estratégico de antivirais e de
equipamentos de proteção individual e investimentos na produção de
vacinas estão entre as medidas que estão sendo consideradas. O plano
estadual, a cargo da Secretaria de Saúde, deverá estar pronto até
abril de 2006, segundo Regina Coeli.
Prevenção - O professor de Doenças das Aves da
Escola de Veterinária da UFMG, Nelson Rodrigo da Silva Martins,
frisou que apesar de a influenza aviária ainda ser uma doença
exótica, existe o risco de ela chegar ao Brasil, pois a
globalização, com o grande trânsito de pessoas e produtos, "tornou o
mundo menor". "Daí a importância de se promover, previamente, uma
estratégia para enfrentar o problema", analisou, ressaltando que a
avicultura mineira é moderna e utiliza tecnologia de ponta, o que
facilita o controle preventivo. Ele lembrou, ainda, que o Brasil é o
maior exportador de carne de frango, não registrando problema
sanitário de nenhum tipo na produção. "O momento é de se investir na
estrutura, nas condições de diagnóstico e na vigilância de portos e
aeroportos", aconselhou.
Importância do controle de fronteiras
Paulo Woyames Pinto Filho, coordenador de Portos,
Aeroportos e Fronteiras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), disse que desde o início do ano a agência vem desenhando
cenários sobre a doença e o site do Ministério da Saúde na
internet já contém um plano de contingência sobre o assunto, que
está sendo coordenado pelo Ministério da Saúde e pela Casa Civil da
Presidência da República. Ele explicou que uma comissão
multidisciplinar, com participação de todos os órgãos direta e
indiretamente envolvidos no problema, tem atuado e desenvolvido as
ações de prevenção.
A complexidade do problema pode ser medida pelo
grande trânsito de pessoas nos aeroportos: apenas do Aeroporto de
Guarulhos, em São Paulo, desembarcam diariamente nove mil pessoas
provenientes da Ásia. Estão sendo preparados materiais explicativos,
inclusive em idiomas orientais, para serem distribuídos aos
viajantes. Os navios que exportam o minério de Minas, via portos do
Espírito Santo, também são outras possíveis portas de entrada da
doença que devem ser monitoradas. Mas, para ele, é preciso evitar o
pânico e, para isso, todas as informações estão centralizadas no
Ministério da Saúde.
Avicultura preocupada com impacto econômico
Outra preocupação com a gripe aviária refere-se ao
impacto econômico de uma epidemia aviária no País. Marília Marta
Ferreira, superintendente da Associação dos Avicultores de Minas
Gerais, disse que o setor está preocupado e está atento às medidas
preventivas que têm que ser adotadas, como treinamento de pessoal.
Ela lembrou que o Brasil tem um plantel de 17 bilhões de aves e uma
produção anual de oito milhões de toneladas de carne de frango
(Minas Gerais responde por 700 mil toneladas/ano).
O deputado Antônio Júlio (PMDB), um dos autores do
requerimento que deu origem à audiência, manifestou sua preocupação
com o programa de distribuição de frangas para famílias rurais,
desenvolvido pela Emater, que envolve a distribuição de 900 mil
frangas em 396 municípios. Na reunião, os demais deputados e
especialistas presentes concordaram que, diante da gravidade da
ameaça da gripe aviária, seria recomendável que o governo do Estado
suspendesse o programa como medida preventiva, diante das
dificuldades de controle sanitário.
Os deputados Adelmo Carneiro Leão, Doutor Viana,
Padre João e Doutor Ronaldo também enfatizaram a importância da ação
preventiva e destacaram a necessidade de um trabalho educativo junto
à população.
Presenças - Deputados
Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente da Comissão de Saúde; Padre
João (PT), presidente da Comissão de Política Agropecuária e
Agroindustrial; Doutor Ronaldo (PDT) e Antônio Júlio (PMDB), autores
do requerimento que propôs a audiência; Carlos Pimenta (PDT) e
Doutor Viana (PFL).
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