Grupo de trabalho procura resolver conflito na Serra da Canastra

Conflitos trabalhistas e tensões ambientais na área do Parque Nacional da Serra da Canastra, onde nasce o rio São Fra...

01/12/2005 - 01:01
 

Grupo de trabalho procura resolver conflito na Serra da Canastra

Conflitos trabalhistas e tensões ambientais na área do Parque Nacional da Serra da Canastra, onde nasce o rio São Francisco, foram trazidos ao debate numa audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa, realizada nesta quinta-feira (1º/12/05), com a participação do Ibama, do DNPM, da direção do parque, da Delegacia Regional do Trabalho e de mineradores de quartzito. O auditório ficou lotado de desempregados de Alpinópolis, proprietários rurais de Delfinópolis e São Roque de Minas, e lideranças políticas e comunitárias da região.

Há duas semanas, uma ação da Polícia Ambiental interditou os trabalhos de extração de quartzito, uma pedra de revestimento que dá o sustento a 5 mil pessoas de Alpinópolis. Segundo Jorge de Oliveira Penha, proprietário de quatro empreendimentos, a ação teria sido provocada pelo promotor Carlos Henrique, do Ministério Público Federal, resultando no desemprego de 2 mil trabalhadores e na retirada das máquinas. "Somos trabalhadores, e não criminosos. Quando compramos aquelas terras, a escritura não falava que era parque, nem o DNPM avisou quando nos deu a licença de lavra", argumentou Jorge Penha.

Há controvérsias sérias quanto à área do Parque Nacional da Serra da Canastra, se seria de 71 mil hectares ou 200 mil, como entendem alguns. A discussão a esse respeito não é fácil dentro do próprio Ibama, conforme admitiu o superintendente estadual Roberto Messias Franco. Ele e o diretor adjunto do DNPM, João César Freitas Pinheiro, fizeram um histórico da criação do parque, criado por decreto em 1972. Em 1974, foi estimado em 108.185 ha. Em 1977 foi considerado com exatos 71.525 ha. Mas a portaria de 2005 que cria o novo plano de manejo retorna aos 200 mil ha previstos nos estudos iniciais de criação, absorvendo as áreas de amortecimento ambiental do entorno.

O diretor do parque, Vicente Paulo Leite, revelou que a nascente do rio Samburá, hoje considerado o nascedouro geográfico do São Francisco, está inteiramente degradada por lavouras de soja, batata e milho. Leite também acrescentou outra dificuldade à confusão dos limites do parque: "Antigamente, utilizava-se o sistema burro de cota de altitude. O que estivesse acima da cota 900 seria parque. Abaixo não. Hoje sabemos que há terras altas que não precisam pertencer ao parque e outras, abaixo, que devem ser incorporadas".

"Chega de criar parque no papel", exclamou André Luís Braga Picardi, representante dos proprietários da Serra da Canastra, informando que ali vivem 7 mil pessoas em 1.200 propriedades e que há outros 5 mil que vivem do quartzito. Picardi disse ainda que inúmeros proprietários já tinham sido expulsos da área do reservatório de Furnas, e em 1974 foram novamente desapropriados para a formação do parque, recebendo títulos da dívida agrária para resgatar após 20 anos. "Ninguém sabe se está dentro ou fora do parque, ninguém tem licenciamento ambiental. Aliás, nem a hidrelétrica de Furnas tem licenciamento", denunciou.

Quando Roberto Messias Franco anunciou que a interdição da exploração de quartzito obedecia ao princípio da cautela ambiental, o delegado regional do Trabalho, Carlos Calazans, acrescentou a denúncia que havia mais de 400 trabalhadores irregulares, sem carteira assinada, trabalhando para empresas clandestinas de extração, dormindo no chão e sem alimentação adequada. No entanto, Calazans considera uma tragédia social que 2 mil operários tenham ficado sem trabalho de um momento para o outro, e propôs a formação de um grupo de trabalho para conseguir um termo de ajuste de conduta (TAC) que permita a retomada da atividade.

O deputado Laudelino Augusto (PT), presidente da Comissão, acolheu imediatamente a sugestão e convocou para integrar esse grupo com representantes da Comissão, do Ibama, da Feam, do DNPM e da DRT para provocar o Ministério Público Estadual à elaboração de um TAC.

Presenças: Deputados Laudelino Augusto (PT), presidente; João Leite (PSDB) e Maria Tereza Lara. Também participou o deputado federal Odair Cunha (PT).

 

 

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