Conferência de cultura quer apoiar diversidade cultural

Com Plenário e galerias lotadas por delegados municipais, autoridades e agentes culturais, foi aberta a I Conferência...

29/11/2005 - 01:00
 

Conferência de cultura quer apoiar diversidade cultural

Com Plenário e galerias lotadas por delegados municipais, autoridades e agentes culturais, foi aberta a I Conferência Estadual de Cultura na Assembléia Legislativa, na noite desta segunda-feira (28/11/05). A mesa solene de abertura, presidida pelo 2º vice-presidente, deputado Rogério Correia (PT), teve a presença da secretária de Estado da Cultura, Eleonora Santa Rosa, que relatou o grande mutirão realizado pela sua pasta e pela Assembléia para mobilizar os municípios mineiros à realização das etapas municipais da Conferência e anunciou a criação de um Fundo Estadual de Cultura.

"O governador Aécio Neves vai enviar em breve à Assembléia o projeto de criação deste fundo, e dar posse ao Conselho Estadual de Cultura, para que possam funcionar já em 2006. Neste governo, consideramos que a cultura é área prioritária para o desenvolvimento humano, e trabalhamos no sentido de fazer parcerias e articulações que democratizem o acesso aos bens culturais e ampliem a base orçamentária da cultura", disse Santa Rosa.

Os deputados incorporaram suas palavras ao clima combativo dos agentes culturais. Rogério Correia lembrou que a criação de uma Comissão Permanente de Cultura na Assembléia, desvinculada da Comissão de Educação, foi uma reivindicação do movimento cultural atendida pela Mesa. "Cultura é um direito que deve ser estimulado em todas as suas formas, e meio importante de expressão da cidadania", disse Correia, acrescentando que deve ser explorada como indutora do desenvolvimento.

Gil Pereira (PP), presidente da Comissão, disse que a Cultura não é mais tratada na Assembléia como um apêndice de outras comissões. Ele elogiou os esforços do deputado Domingos Sávio (PSDB) na criação da Comissão que preside. Biel Rocha (PT), que também coordenou parte dos trabalhos, defendeu a proposta de garantia de 2% do Orçamento federal para a Cultura, contida na PEC 150, de autoria do deputado federal mineiro Gilmar Machado (PT). "Cultura é gênero de primeira necessidade, porque é capaz de suprir as carências da alma e a inquietude do espírito", disse o parlamentar.

Documento preliminar tem 145 propostas condensadas

Outros deputados acompanharam todo o encontro de abertura do evento, como Elisa Costa, Adelmo Carneiro Leão, Ricardo Duarte e Carlos Gomes, todos do PT. Eles participaram das conferências municipais de alguns dos cerca de 200 municípios mineiros que enviaram 700 delegados a esta etapa estadual, que vai até 30 de novembro. Por volta de 1.500 propostas foram apresentadas nos municípios e depois fundidas pela assessoria do evento em 145 propostas, com ênfase nas diretrizes e encaminhamentos.

A grande mobilização foi elogiada por Celso Cota Neto, prefeito de Mariana e presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), que considera importante promover a cultura "feita com a garra da gente simples de Minas", como alternativa de inclusão social. Lembrou que a cultura atrai turistas, e que o turismo é o caminho viável de desenvolvimento e geração de emprego e renda. Assinalou o avanço do ICMS cultural, que atingia pouco mais de 200 municípios e hoje já beneficia mais de 500.

O deputado federal Gilmar Machado (PT), autor da PEC 150, defendeu que a cultura tenha status como a Educação, de manter o seu funcionamento essencial, sem ficar exposta a mudanças bruscas e paralisações quando muda o governo. "Cultura precisa ser política de Estado, e não de governo. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo, vai criar esta semana uma comissão especial para dar parecer à nossa PEC, e temos certeza de que esse parecer será positivo. Estamos prevendo também que o dinheiro vá carimbado diretamente para os Estados e municípios", disse Machado.

Duas palestras sobre gestão da cultura

Dois palestrantes discorreram sob temas de interesse da cultura. Márcio Augusto Freitas de Meira, secretário de Articulação Institucional do Ministério da Cultura, disse que 700 municípios brasileiros de 20 Estados estavam fazendo suas conferências, para desembocar na etapa nacional no próximo dia 13 em Brasília. Para ele, muitos mostraram qualidade na aprovação de diretrizes e encaminhamentos.

"Herdamos este sonho dos nossos antecessores e o carregamos desde 2002. Nossa proposta é que o crescimento econômico não seja o único motor do desenvolvimento. A cultura, essência de um povo, será outro motor. Buscamos um modelo nacional, descentralizado, democrático, transparente, respeitando as diretrizes da Unesco. Antigamente, as políticas culturais fortes eram adotadas por governos autoritários. Será a primeira vez que um governo democrático busca formá-las a partir da base, admitindo, com humildade, que não conseguiremos implantá-las sozinhos", disse Meira.

O secretário antecipou que todas as propostas serão aprovadas, mesmo as divergentes, porque o Ministério da Cultura não busca a convergência, mas a diversidade cultural ampla e plural. Cada Estado poderá enviar a Brasília até 36 delegados, mas que os demais que comparecerem terão direito a voz. Informou ainda que o presidente Lula reestruturou em agosto o Conselho Nacional de Política Cultural, e que o Plenário tomará posse no dia da Conferência Nacional, em 13 de dezembro.

Isaura Botelho, doutora em Ação Cultural pela USP e estudiosa do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), falou sobre gestão pública da cultura e cultura como direito da cidadania. Partindo do mandamento constitucional de que o Estado garantirá a todos os direitos culturais e o acesso aos bens culturais, ela propôs a expressão de todos os interesses culturais e negociação com as fontes financiadoras. Por outro lado, disse que uma política democrática não pode garantir a perpetuidade dos financiamentos. "Não vamos descartar ninguém, mas tampouco vamos garantir o financiamento à cultura erudita tradicional", resumiu.

Questionamentos na fase de debates

Na fase de debates, da platéia surgiram questionamentos sobre a vinculação das TVs e rádios ao Ministério das Comunicações, e não ao da Cultura, o que impede que os produtores de cultura tenham influência e acesso sobre a programação. Também a questão das contrapartidas na produção cultural foi discutida, com a secretária Eleonora Santa Rosa afirmando que não permitirá o financiamento de 100% de qualquer projeto, porque a contrapartida é fundamental como co-responsabilidade do empreendedor de cultura. Outra pessoa da platéia denunciou que parte do ICMS cultural está sendo desviado para construção de escolas e para asfaltamento de estradas.

 

 

 

 

 

 

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