Preservação de patrimônio cultural requer sacrifício

A professora Sônia Rabelo, da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), foi uma das pa...

29/11/2005 - 01:01
 

Preservação de patrimônio cultural requer sacrifício

A professora Sônia Rabelo, da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), foi uma das palestrantes da manhã desta terça-feira (29/11/05), na I Conferência Estadual de Cultura, que está sendo realizada na Assembléia Legislativa. A professora ressaltou que, embora a Constituição de 1988 garanta o direito do acesso à cultura, existe um enorme abismo entre o que está escrito e o que cada pessoa pensa sobre isso. Segundo ela, foi um avanço o reconhecimento social de que todos têm direito à cultura, mas a questão fundamental é definir os meios para se alcançar esse direito.

Sônia Rabelo lembrou que a busca de recursos não é uma questão orçamentária, mas política, e depende da pressão da sociedade. Ela questionou, ainda, o desenvolvimento econômico como meta em si mesmo, indagando se o investimento cultural, nessa perspectiva, não teria valor se o retorno fosse a melhoria na qualidade de vida da população.

No que diz respeito à conservação do patrimônio cultural, tema de sua exposição, a palestrante, que é professora de Direito Administrativo e de Direito Urbanístico, disse que considera importantíssima a participação da sociedade nos processos legislativos que visam garantir essa conservação, mas que nada substitui o poder público no cerceamento e regulação dos interesses privados. Na opinião de Sônia Rabelo, no entanto, ninguém deve ficar esperando que todas as soluções partam da União. "Os Estados são fundamentais, em termos de planejamento urbano, por exemplo, mas poucos têm exercido bem o seu papel", alertou.

Economia e cultura - A primeira palestrante foi a diretora de Pesquisa do Instituto Plano Cultural, Maria Amarante Pastor Baracho. No painel "Economia da cultura", ela falou sobre a perspectiva histórica, ressaltando que, durante muito tempo, esses eram vistos como setores antagônicos. Maria Amarante falou sobre a necessidade de padronizações e classificações na área cultural e defendeu a interação com bases de informações de outras áreas. Ela informou que tem tentado desenvolver um índice de desenvolvimento cultural e citou os estudos feitos para estudar a dimensão econômica da Cultura, como geradora de emprego e renda.

Ninguém sabe exatamente o que é cultura hoje

O professor de Semiótica do Curso de Comunicação Social da PUC Minas, Júlio Pinto, falou sobre o tema "Comunicação é Cultura", e aproveitou para criticar a comunicação de massa que, segundo ele, oferece uma "ração diária, homogeneizada, pasteurizada" de informação, fazendo com que o processo de comunicação se torne uma coisa unidirecional, onde o receptor é totalmente passivo. "Comunicação deveria ser cultura, mas não está sendo", disse ele. Júlio Pinto utilizou uma série de conceitos para definir cultura e defendeu a necessidade de se discutir o tema. "Ninguém sabe exatamente o que é cultura hoje", sentenciou.

Na opinião dele, o conceito que mais se aproxima do ideal é de que a cultura é um sistema de significados, que cria uma espécie de identidade compartilhada entre um grupo de indivíduos. E, segundo ele, o que é transmitido pelas grandes emissoras de TV e rádio hoje não reflete nenhuma identidade cultural, referindo-se às bandas de axé music, às duplas sertanejas e aos programas como o de Sílvio Santos e do Faustão. "Nada vai mudar enquanto as pessoas não se conscientizarem de que o que está sendo servido como comunicação não é nada palatável", concluiu.

Grupos de trabalho - À tarde, os cinco grupos de trabalho se reuniram para discutir as propostas que Minas Gerais deverá levar à Conferência Nacional de Cultura, que será realizada em Brasília, no próximo mês. Cerca de 500 pessoas, vindas de 253 municípios, participam do evento. Nesta quarta-feira (30), haverá a plenária final, com a eleição dos delegados que representarão o Estado na conferência nacional.

Composição da Mesa - professora Maria Amarante Pastor Baracho, doutora em Economia, diretora de pesquisas do Instituto Plano Cultural e professora da Escola de Governo de Minas Gerais; professora Sônia Rabelo, de Direito Administrativo e Direito Urbanístico dos cursos de graduação e pós-graduação da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj); professor Júlio Pinto, doutor em Filosofia pela Universidade da Carolina do Norte, pós-doutor em Comunicação pela Universidade Católica Portuguesa e professor de Semiótica no Curso de Comunicação Social da PUC Minas; diretor de Programação e Produção da Rede Minas, Israel do Vale, representando a Secretaria de Estado da Cultura; deputado Biel Rocha (PT), coordenador da Mesa; e deputado Domingos Sávio, membro da Comissão de Cultura da Assembléia.

 

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