Comissões constatam lotação e precariedade na Cadeia do Palmital

"Um amontoado de seres humanos". Num tom de desabafo, o titular da Delegacia Seccional de Santa Luzia, Island Batista...

24/11/2005 - 01:00
 

Comissões constatam lotação e precariedade na Cadeia do Palmital

"Um amontoado de seres humanos". Num tom de desabafo, o titular da Delegacia Seccional de Santa Luzia, Island Batista, usou esses termos para definir a Delegacia do Palmital, subordinada à sua unidade. A declaração foi feita na reunião conjunta das Comissões de Direitos Humanos e de Segurança Pública da Assembléia, nesta quinta-feira (24/11/05). Com capacidade para 60 presos, a cadeia tem hoje 172, "revoltados, desesperados, uns em cima dos outros", que tentam a fuga 24 horas por dia, segundo Batista. Ele reclamou também das condições de trabalho para os policiais civis: "aqui não é lugar de ninguém trabalhar - uma pocilga, com mau cheiro e adolescentes misturados com os presos; Santa Luzia não merece isso", desabafou.

O autor do requerimento pela reunião e vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Roberto Ramos (PSDB), disse que não era a primeira vez que a comissão discutia o problema da Delegacia do Palmital. Ele defendeu que a situação em Santa Luzia e em todo o Estado melhoraria só quando se parasse de falar de "sistema" penitenciário para tratar de "método". Ramos declarou que já havia solicitado a interdição da delegacia ao juiz da Vara de Execução Criminal da comarca, Marcos Henrique Caldeira Brant, mas depois se questionou se essa seria a melhor medida: "os presos vão para onde?", perguntou.

Interdição - Com esse propósito, foi aprovado requerimento dos deputados Durval Ângelo (PT), presidente da comissão, Roberto Ramos e Paulo Cesar (PFL), pedindo ao juiz a interdição da delegacia e, à Secretaria de Estado de Defesa Social (Sedes), a transferência dos menores da cadeia. Presente à reunião, o juiz Marcos Brant respondeu que não poderia acatar o pedido. "Não posso interditar o distrito e transferir os presos para outros. Vou estar apenas transferindo o problema. Por ora, acho que devemos pressionar o governo do Estado para que resolva essa situação", respondeu. Uma medida que ele achou pertinente foi a de proibir que a cadeia recebesse mais presos. O juiz questionou ainda o fato de uma comarca antiga como Santa Luzia, de 310 anos, com 230 mil habitantes, que ocupa o sexto lugar no ranking da violência e criminalidade no Estado, não ter cadeia pública ou penitenciária, nem um centro de recuperação para menores infratores.

A promotora de Justiça de Santa Luzia, Aluísia Beraldo Ribeiro, informou que, em janeiro deste ano, devido à gravidade da situação na cadeia, pediu sua interdição. Como não obteve êxito, ela entrou com agravo de instrumento e novamente não foi aceito seu pedido. Aluísia esclareceu que o objetivo da ação era não o de desativar a cadeia, mas o de delimitar o número de presos, proibir a transferência de detentos de outras comarcas, e pedir a transferência dos menores da delegacia.

Apac de Santa Luzia fica pronta em dezembro

Uma boa notícia foi trazida pelo coordenador do Núcleo de Atendimento Jurídico da PUC Minas, Fábio Alves dos Santos. Membro da coordenação da Apac de Santa Luzia, ainda em construção, ele anunciou que já em dezembro deste ano, ficará pronta a unidade, para abrigar 200 presos. Segundo Santos, a Apac de Santa Luzia, que será inaugurada oficialmente em fevereiro de 2006, vai receber 30% dos detentos da Delegacia do Palmital. "É um bom começo", afirmou o advogado, informando ainda que, para atuar na Apac, 100 moradores fizeram cursos sobre formação voluntária. Ele acrescentou que a PUC Minas vai investir muito em Santa Luzia, oferecendo cursos para ressocialização dos condenados.

Representando o prefeito de Santa Luzia, o secretário municipal de Segurança Pública, Jair Alves Lopes, disse que a prefeitura vem fazendo tudo o que está ao seu alcance. "São inúmeras as intervenções da prefeitura para soldar grades, fechar túneis cavados, oferecer médico para os presos mensalmente. O secretário destacou também a parceria com a delegacia para um projeto de ressocialização de detentos. "Demos a presos de bom comportamento a oportunidade de trabalharem na prefeitura. Hoje, temos mais de 30 presos recuperados", enfatizou. Segundo Alves, o Executivo municipal está disposto a doar terreno e mão-de-obra para a construção de uma cadeia municipal, desde que o Estado entre com os recursos para a obra e a comunidade a aceite naquele local.

Insegurança - A vereadora de Santa Luzia Suzane Duarte Almada disse que espera uma solução há anos: "queremos melhor condição para os presos, condições de trabalho para os policiais, e segurança para a população". Marilene Alcântara Silva, diretora da Escola Estadual Reny de Souza Lima, que fica ao lado da cadeia, reclamou que convive com essa situação de risco há 18 anos. "A insegurança é constante para os nossos 1.700 alunos e 100 funcionários da escola", acrescentou. Na fase de debates, mais de 15 pessoas foram ao microfone, a maior parte para reclamar da insegurança no bairro e pedir uma solução para a questão.

Requerimentos - Outros requerimentos foram aprovados:

* das comissões de Direitos Humanos e Segurança Pública, pedindo envio de ofício ao subsecretário de Administração Penitenciária e ao titular da Sedes, solicitando providências para apurar denúncia de maus tratos e inexistência de atendimento jurídico aos presos na Penitenciária Pio Canedo, em Pará de Minas;

* quatro do deputado Durval Ângelo, pedindo o envio de ofícios à Sedes: solicitando a substituição de policiais civis das cadeias de Ouro Preto e Visconde do Rio Branco por agentes penitenciários, o encaminhamento de cinco menores da cadeia de Ouro Preto para um centro de internação, e envio do relatório sobre a visita aos projetos Prolae e Renascer, nessas duas cidades; solicitando o envio das notas taquigráficas da reunião à promotora de Santa Luzia;

* do deputado Paulo Cesar, solicitando maior apoio do chefe da Polícia Civil ao delegado Island Batista, em virtude das dificuldades enfrentadas por ele na Delegacia do Palmital.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente da comissão; Roberto Ramos (PSDB), vice-presidente; Paulo Cesar (PFL). Além dos citados na matéria, participaram o delegado titular do Palmital, Dorman J. Barreiro Lyrio, o comandande do 35º Batalhão de Polícia Militar de Santa Luzia, Ronildo José dos Santos; os vereadores de Santa Luzia Luiz Sérgio Ferreira e Suzane Duarte Almada.

 

 

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715