Consumo de álcool é causa de mais de 60% dos acidentes de
trânsito
A constatação de que o consumo de álcool está
diretamente ligado ao aumento da violência doméstica e do trânsito
foi apresentada por especialistas nesta quarta-feira (23/11/05), em
reunião da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa. O assunto
foi discutido por solicitação da deputada Ana Maria Resende (PSDB) e
do deputado Fahim Sawan (PSDB) e resultou na apresentação de dois
requerimentos, que solicitam a visita a órgãos públicos que tratam
da fiscalização da venda de bebidas para menores, e uma audiência
pública com presidentes de câmaras municipais para que seja feito um
esforço de aprovação de leis que proíbam a venda de bebidas
alcoólicas em locais violentos, depois de 23 horas.
Mostrando dados que comprovam a relação direta de
causa e efeito entre consumo de álcool e mortes no trânsito, mortes
por arma de fogo e violência doméstica, o perito especialista em
trânsito, Paulo Ademar, e o cirurgião-geral do Hospital João XXIII,
João Batista Rodrigues Júnior, manifestaram a esperança de trabalhar
para a alteração desse quadro, desde que a oferta de bebida,
principalmente a menores, seja mais controlada. E isso por meio de
maior controle da publicidade de bebidas e melhor fiscalização das
leis vigentes. Essas ações também foram lembradas pelo presidente do
Conselho Estadual Antidrogas, Aloísio Andrade, e pelo subsecretário
de Estado Antidrogas, Cloves Eduardo Benevides.
Aloísio Andrade defendeu maior controle social
sobre a publicidade, a proibição de bebidas em doses, a restrição do
horário e locais de venda e o aumento da idade, de 18 para 21, como
limite à venda de bebidas. Apesar de reconhecer que as proibições
não resolvem a questão, mesmo sendo medidas drásticas, Andrade
acredita que o problema pode diminuir.
Álcool diminui reflexos e desinibe
consumidor
Em sua exposição, o médico João Batista Rodrigues,
que também é legista e professor da UFMG, disse que o efeito do
álcool é diferenciado de organismo para organismo. "Por isso, é
errado dizer que quem dirige veículos pode consumir até duas latas
de cerveja", exemplificou, chamando a atenção para o fato de que o
Código de Trânsito proíbe, expressamente, o consumo de álcool para
motoristas. O efeito do álcool, segundo ele, tem três fases: a
primeira, em que o consumidor passa por uma excitação, em que fica
mais sociável, alegre e loquaz, sendo comparado a um macaco. A
segunda, em que ele entra em fase de confusão, tornando-se
irrequieto e buliçoso, comparado a um leão. E a terceira etapa, a do
sono ou comatosa, em que o conumidor entra na fase de letargia,
comparado ao porco. A segunda fase é a mais perigosa, colocando em
risco a coletividade, enquanto a última coloca em risco o próprio
consumidor.
Um dado preocupante foi apresentado pelo médico,
que em seus estudos sobre condições de mortes por armas de fogo
comprovou que em 63% dos casos foi constatada a presença de álcool
no sangue das vítimas. O mesmo percentual foi detectado para as
mortes em acidentes de trânsito. Em sua opinião, este percentual
pode chegar a quase 100%, se se considerar que a vítima, mesmo não
tendo feito uso de álcool, foi atingida por alguém que consumiu o
produto.
O perito em trânsito Paulo Ademar mostrou, com
dados matemáticos, a diminuição dos reflexos em função do consumo de
álcool. Segundo ele, um condutor leva um segundo para reagir ante
uma situação de perigo no trânsito, e sob o efeito de álcool, em
qualquer dosagem, este tempo triplica.
Minas é referência no País em políticas
antidrogas
Mesmo reconhecendo que ainda existem muitas
dificuldades, como falta de recursos, o subsecretário da Secretaria
Antidrogas, órgão da estrutura da Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Social (Sedese), Cloves Benevides, afirmou que Minas
é referência em ações de combate às drogas. "Pela existência da
subsecretaria, que indica uma preocupação com uma política pública,
e depois pela integração com entidades do terceiro setor que atuam
na área", garantiu.
Ele disse que Minas Gerais trabalha hoje com cinco
ações na área: a rede complementar de suporte social na atenção ao
dependente químico, que identifica e cadastra entidades que atendem
este segmento, fornecendo-lhes suporte e recursos; o SOS Drogas,
centro de atendimento para usuários de drogas, que funciona no
Edifício Maleta, centro de Belo Horizonte, com um telefone gratuito
de consulta (0800-311119); a municipalização das ações, com a
criação dos Conselhos Municipais Antidrogas (hoje já estão em
funcionamento cerca de 100); a capacitação de educadores, com o
treinamento de 500 pessoas atualmente; e o leilão de bens dos
traficantes (está sendo preparado o segundo).
Assim como outros participantes, Cloves Benevides
lembrou que, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS),
para cada dólar investido na diminuição do acesso ao álcool, nove
são economizados com gastos a longo prazo. Segundo ele, Minas gasta,
com a área, o equivalente ao que a Secretaria Nacional Antidrogas
gasta em todo o País.
Deputados preocupam-se com a publicidade e
descumprimento das leis
Sete deputados presentes aos debates manifestaram
sua preocupação com o avanço da publicidade de bebidas, sobretudo
sobre o público mais jovem. Para eles, é preciso que se reveja a
legislação do setor, em nível nacional. Eles lembraram também que
existem muitas leis sobre limitações diversas, mas que não são
cumpridas. A deputada Ana Maria Resende destacou seus esforços em
tentar coibir o uso de álcool, citando alguns de seus projetos nesse
sentido, como o que proíbe a venda de bebida, para consumo no local,
em lojas de conveniência dos postos de gasolina. Segundo ela, entre
as drogas, o álcool é o que mais causa prejuízos à sociedade. "Cerca
de 30% da população do país tem problemas com álcool, sendo que 10%
são viciados, cerca de 18 milhões de pessoas", lamentou.
O deputado Fahim Sawan destacou a existência da
Frente Parlamentar Antidrogas da Assembléia, coordenada por ele,
como uma das pontas da política estadual para o setor. Para ele, é
preciso fazer cumprir as leis. "Não existe viciado em qualquer droga
ilícita, que antes não tenha começado pelo álcool", garantiu. Para o
deputado Carlos Pimenta (PDT), é preciso uma atuação mais rígida
tanto na proibição da venda a menores, como na repressão aos
estabelecimentos que descumprirem a norma. Segundo Pimenta, a
Assembléia já fez seu dever de casa, ao aprovar diversas leis sobre
o tema, e agora é necessária uma atuação conjunta com o governo
estadual para que elas sejam realmente cumpridas.
O deputado Célio Moreira (PSDB) disse que o governo
precisa colocar mais recursos na subsecretaria, "para que ela tenha
melhores condições de funcionamento". O deputado Edson Rezende (PT)
disse que algumas medidas simples podem ser tomadas pelas câmaras
municipais, como a colocação de cartazes nos bares, informando sobre
a existência da lei que proíbe a venda de bebidas alcóolicas a
menores. "Fiz isso quando era vereador em Barbacena e o efeito foi
muito positivo". Já o deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) enfatizou
que há uma incoerência num Estado que tem várias leis de limitação
do consumo de álcool, mas ao mesmo tempo tem programas de incentivo
à sua produção, "como o Pró-cachaça".
Requerimentos - Além dos
dois requerimentos citados, o primeiro assinado pelo deputado Célio
Moreira e o segundo por todos os parlamentares presentes à reunião,
foi aprovado outro do deputado Edson Rezende, que solicita uma
audiência conjunta das comissões de Saúde e de Administração Pública
para debater a dívida do Estado com o Ipsemg.
Presenças - Deputados
Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente; Carlos Pimenta (PDT), vice;
Doutor Ronaldo (PDT), Fahim Sawan (PSDB), Célio Moreira (PSDB),
Edson Rezende (PT) e a deputada Ana Maria Resende (PSDB).
|