Moradores de Itueta ameaçam bloquear ferrovia Vitória a Minas

Desanimados com a atitude do consórcio construtor da Usina Hidrelétrica de Aimorés, que acusam de não ter atendido ne...

21/11/2005 - 01:00
 

Moradores de Itueta ameaçam bloquear ferrovia Vitória a Minas

Desanimados com a atitude do consórcio construtor da Usina Hidrelétrica de Aimorés, que acusam de não ter atendido nenhuma das reivindicações apresentadas na última reunião da Cipe Rio Doce na cidade, em setembro último, os moradores de Itueta ameaçam bloquear a ferrovia Vitória-Minas, como forma de protesto. O anúncio foi feito aos deputados e autoridades presentes à audiência pública da Comissão do Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia, com reforço dos deputados da Cipe Rio Doce e de deputados federais votados na região, realizada na última sexta-feira (18/11/05) no auditório da Prefeitura de Itueta.

Mais de 30 pessoas se inscreveram para falar e os desabafos persistiram por mais de seis horas. O pastor luterano Agenor Berg disse que nesta terça-feira (22/11/05), os moradores vão se reunir para combinar um churrasco sobre as linhas de Vitória-a-Minas. O vigário da cidade assegurou que não vai liderar o protesto, mas que não pretende impedir ou condenar. O vice-prefeito de Itueta, Evaristo de Castro, disse que "o povo já está cansado de audiências sem resultado. 90 % das casas estão com rachaduras e problemas que precisam ser revisados, e nossas doceiras, que viviam da venda de doces na estação que foi eliminada, não têm condições de sobreviver".

Em setembro, havia inúmeras condicionantes ambientais ainda a serem cumpridas. O representante do consórcio, Ricardo Márcio Alves, rebateu ponto a ponto as acusações e disse que estão sendo cumpridas, mas não apresentou evidências aceitáveis pela platéia. Terrenos que se tornaram criatórios de insetos ainda não teriam sido drenados. A questão dos poços de pedra irrigados pelo rio Manhuaçu, onde as lagostas se reproduziam, também não estaria solucionada.

Denúncias serão levadas ao Ibama em Brasília

O gerente regional do Ibama, João Alves Filho, disse que vai levar as denúncias ao conhecimento da diretoria de licenciamento do Ibama em Brasília, com a recomendação de não conceder a licença de operação da usina até que a comunidade se considere satisfeita. O parecer da Feam, relatado ao Copam, também foi pelo indeferimento, mas o fórum decisório para o licenciamento foi transferido para o Ibama, porque a usina, embora ocupe território apenas em Minas Gerais, afeta também parte do Espírito Santo.

Foi relatada por Ricardo Márcio uma proposta de organizar as doceiras em cooperativa, de construir-lhes uma fábrica e oferecer transporte para que façam suas vendas na estação seguinte, mas elas não aceitaram. A promotora de Justiça Jaqueline Rangel lembrou que há demandas que estão na Justiça, e disse que está disposta a ingressar com novas ações nas causas que tiverem fundamento. Pediu aos moradores que apresentem os elementos que as justifiquem.

Uma dessas ações que já tramitam na Justiça diz respeito à compensação ambiental destinada ao Parque Estadual de Sete Salões, que foi bloqueada a pedido do Ministério Público Federal, porque a área é reivindicada por remanescentes indígenas krenaks que vivem na região e acreditam que os espíritos de seus ancestrais vivem naquelas cavernas. O promotor que a propôs, José Adércio Leite Sampaio, disse que a decisão pode demorar dez anos. O consórcio, portanto, teria que contemplar outra área.

Os deputados anunciaram apoio às causas da comunidade. José Henrique disse que a Cipe Rio Doce está do lado deles, para apoiar qualquer mobilização que iniciem. Padre João também manifestou sua solidariedade. João Leite mostrou preocupação principalmente com as rachaduras e defeitos na construção das casas. Elisa Costa apresentou requerimento de uma reunião de trabalho entre os deputados da Comissão de Meio Ambiente da ALMG, os da Cipe, os diretores do consórcio e os técnicos do Ibama, para aferir o cumprimento das condicionantes.

Histórico: A hidrelétrica de Aimorés, construída no Rio Doce por um consórcio em que a CVRD tem 51% e a Cemig 49%, localiza-se quase na divisa de Minas com o Espírito Santo e destina-se a gerar 330 megawatts. Seu custo é de US$ 230 milhões. O reservatório atinge os municípios de Aimorés, Itueta e Resplendor, sendo que Itueta foi inteiramente removida para um local mais elevado, transferindo 2 mil pessoas. Há também atingidos entre os proprietários rurais, os pescadores e os areeiros de Resplendor.

A expectativa de conclusão do projeto já está atrasada em mais de um ano, devido à resistência dos atingidos e ao descumprimento das condicionantes ambientais. Há cerca de seis meses, o consórcio conseguiu uma licença de operação até a cota 84, para que pudesse encher parte do reservatório e realizar testes com os equipamentos. A nova expectativa de inauguração, com licença de operação para a cota 90, é abril de 2006.

Presenças - Deputado João Leite (PSDB), presidente da comissão; deputados José Henrique (PMDB), presidente da Cipe-Rio Doce, Padre João (PT) e a deputada Elisa Costa (PT); deputados federais Leonardo Monteiro e Ivo José (PT-MG); os prefeitos de Itueta, Aimorés e Resplendor, respectivamente, Alcino José Nicoli, Alaerte da Silva, Almir de Souza Muniz; a promotora de Justiça Jaqueline Ferreira Rangel; o gerente de Meio Ambiente do Consórcio da Usina Hidrelétrica de Aimorés; o coordenador do Copam Leste, Ricardo Márcio Alves Alexandre Magrinelli dos Reis; o gerente regional leste do Ibama, João Alves Filho; e o presidente da Câmara Municipal de Itueta, Orlando Kanke.

 

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