Assembléia comemora Dia da Consciência Negra
"O Brasil é um país marcado por desigualdades sem
medidas, nos âmbitos social, educacional, cultural e, sobretudo,
econômico. Ele tem uma dívida com cada um daqueles e daquelas que
foram alijados da sociedade. Nossos irmãos e nossas irmãs de etnia
negra, por longos anos, tiveram seus direitos cassados em nosso
País. Nós somos seus devedores". Com essas palavras, a deputada
Maria Tereza Lara (PT) homenageou os negros na comemoração do Dia
Nacional da Consciência Negra, na Reunião Especial de Plenário da
noite desta quinta-feira (17/11/05).
Maria Tereza mencionou ainda a aprovação, no último
dia 9, do Estatuto da Igualdade Racial no Senado Federal, originário
de um projeto do Senador Paulo Paim (PT-RS), que prevê, entre outras
medidas práticas, a titulação das terras dos quilombolas. Anunciou
também, para o próximo dia 22, a Marcha Zumbi+10 a Brasília, para
cobrar a aplicação do estatuto.
Segundo o IBGE, a população brasileira é composta
de aproximadamente 183 milhões de brasileiros, dos quais 47% se
autodeclaram negros - somados pretos e pardos -, ou seja, formam uma
nação de 86 milhões de pessoas. "Uma nação que pense um projeto
político e que atenda 86 milhões de autodeclarados negros tem de
caminhar no sentido da ruptura com a estrutura opressora", conclamou
a deputada, anunciando que a homenageada da noite era Maria José
Ferreira, a Dedé.
Várias foram os representantes raciais que
receberam placas alusivas à comemoração, das mãos dos deputados
Adelmo Carneiro Leão (PT) e Paulo Piau (PPS), e da deputada Maria
Tereza Lara: Jumom Aparecido Moreira Dias, representante do Grupo de
Congado Mirim de Nossa Senhora Aparecida; Eunira de Lurdes Hilário,
representante dos alunos cotistas negros da UEMG; Sebastiana Geralda
Ribeiro Silva, da comunidade Quilombola dos Carrapatos, do Município
de Bom Despacho; Maria José Pereira, Dedé, por sua luta em prol da
inclusão social dos deficientes e dos sem-casa; Celso Moretti,
cantor.
Falando em nome dos homenageados, Sebastiana
Geralda avisou: "Não sei falar bonito, mas a verdade sei dizer
sempre. Tenho orgulho de ser negra. Se não fossem os negros, não
existiria Brasil, não existiria fazendeiro, não existiria nação. A
única raça que pode andar de cabeça erguida, neste país, é a negra.
Não viemos aqui para roubar, mas para produzir. Mesmo assim, não
temos o direito de viver com dignidade neste País, que construímos
com nossas próprias mãos".
Após uma apresentação musical do cantor Celso
Moretti, a pró-reitora da UEMG Neide Wood lembrou a data de morte de
Zumbi dos Palmares, em 1695, que marca o início da luta da
comunidade negra. "Depois de 310 anos da morte biológica desse
'espírito imortal', a luta dos negros na sociedade brasileira se
agiganta e se avoluma, exigindo atenção aos seus direitos cidadãos e
à abolição de todas as formas de discriminação e de exclusão",
afirmou. A aluna cotista da UEMG, Eunira de Lurdes Hilário,
acrescentou que "97% dos universitários são brancos, 2% são negros e
1% pertencem a outras etnias. É necessário mudar, é necessário que
todos tenham acesso. Talvez, por meio da educação, consigamos
melhorar este país".
No encerramento, o deputado Adelmo Carneiro Leão
lembrou a convulsão étnica que está sendo vivida pela França, por
causa da falta de perspectivas de emprego e integração à sociedade
européia. "Se a imigração na França é fenômeno de duas ou três
gerações, a situação dos afrodescendentes brasileiros penetra como
uma raiz profunda em nossa história. Mais que mão-de-obra
desconsiderada, o africano transplantado para o Brasil como
propriedade privada dos escravocratas, além de explorado como força
de trabalho, foi cotidianamente torturado e violentado. A herança
dos tempos não tão remotos da escravidão se faz bastante presente",
afirmou o deputado.
Presenças - Deputado
Adelmo Carneiro Leão (PT), que presidiu os trabalhos; deputadas
Maria Tereza Lara e Elisa Costa (PT), deputados Paulo Piau (PPS) e
Edson Rezende (PT). Vereador Paulo Augusto dos Santos, o Paulão,
representando a Câmara Municipal de Belo Horizonte; Neide Wood,
pró-reitora de Pesquisa e Extensão da UEMG; professor José Carlos
Pedro, representando a pró-reitora da PUC-Betim, Carmen Luísa; Celso
Moretti, homenageado da noite; Eunira de Lurdes Hilário,
representante dos alunos cotistas negros da UEMG; Maria José
Pereira, Dedé, homenageada da noite; Sebastiana Geralda Ribeiro
Silva, também homenageada; Jumom Aparecido Moreira Dias, jovem
representante do Grupo de Congado Mirim Nossa Senhora Aparecida.
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