Comissão discute caminhos para alimentação saudável nas
escolas
Taxas preocupantes de excesso de peso, colesterol
alto e sedentarismo, com riscos para o desenvolvimento de doenças
cardíacas. Esse é o perfil dos estudantes entre 6 e 18 anos de Belo
Horizonte. Os dados são de uma pesquisa desenvolvida entre 1998 e
2004 tendo como público-alvo 1.450 alunos de 20 escolas das redes
pública e particular da Capital. Segundo o que foi apurado, 88,4%
deles consomem dieta rica em gorduras saturadas e 33% dos estudantes
têm risco moderado ou grave de desenvolver doenças cardíacas. Os
dados foram divulgados pelo coordenador de Avaliação Tecnológica em
Atenção à Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Robespierre
Costa Ribeiro, em reunião da Comissão de Saúde nesta quarta-feira
(16/11/05).
Além da pesquisa, a comissão também se informou
sobre diagnóstico desenvolvido pelo Executivo sobre a merenda
escolar em Minas. A coordenadora estadual de Alimentação da SES,
Maria Beatriz Castro Lisboa, reconheceu que a situação é ruim, mas
não calamitosa. Segundo ela, são desafios organizar espaço, recursos
humanos e financeiros. Ao analisar o problema da obesidade e a
necessidade de promover alimentação saudável nas escolas, o
presidente da comissão, deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), sugeriu
que a Assembléia promova um seminário legislativo em 2006. O evento
discutiria nutrição e saúde e colheria sugestões a fim de melhorar a
qualidade da alimentação nas escolas, por meio de ações de governo e
novas leis. Hoje, são 37 milhões de crianças atendidas e o volume de
recursos aplicado no País, de R$ 1,5 bilhão/ano.
Merendeiras - O diagnóstico
que está sendo elaborado pela SES com a Secretaria de Estado da
Educação ficará pronto apenas em julho de 2006. Até agora, foram
visitadas todas as escolas estaduais da Região Metropolitana de Belo
Horizonte (RMBH) e 20% das 3 mil unidades do interior. Segundo
Beatriz Lisboa, uma das constatações é que a maioria das crianças
merenda, sim; e que há pontos positivos como a criação de hortas nas
escolas. Por outro lado, um sério problema a ser enfrentado diz
respeito àquelas profissionais que preparam a comida. As
merendeiras, em sua maioria, têm dupla função, ou seja, trabalham na
faxina e na cozinha.
O fato foi criticado pelo presidente do Conselho de
Alimentação Escolar de Minas Gerais, Élido Bonomo, que reivindicou
da Assembléia a análise da terceirização dos trabalhadores que
preparam as refeições nas escolas. Ele alertou que a dupla função
contraria regras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa). Outra crítica foi a ausência de previsão, pelo governo
estadual, de recursos para a alimentação escolar.
Herlon de Almeida, assessor da Secretaria Nacional
de Agricultura Familiar, também presente à reunião, reconheceu que
predomina no País um sistema de alimentação escolar baseado no uso
de produtos pré-preparados - mercado controlado por meia dúzia de
empresas. Ele também admitiu que é preciso uma ação integrada e um
arranjo institucional, a fim de estimular a aquisição, pelas
escolas, de alimentos da agricultura familiar e outros que promovam
alimentação saudável. Sinalizou, ainda, que o Ministério do
Desenvolvimento Agrário estimulará os diferentes níveis de governo a
adquirirem, em suas compras institucionais, produtos da agricultura
familiar. Hoje, muitos deles chegam às entidades de caráter social,
mas não atingem as escolas das regiões onde são colhidos.
Legislativo tem papel importante; merenda saudável
sem cantinas com fast food
O pesquisador Robespierre Ribeiro listou uma série
de ações que poderiam ser implementadas para promoção da saúde nas
escolas. Repetindo as recomendações do Instituto de Medicina dos
Estados Unidos, ele defendeu ser preciso criar um ambiente escolar
livre dos chamados "alimentos competitivos" (aqueles de valor
nutricional mínimo, ricos em gorduras saturadas, como refrigerantes,
doces, sanduíches e chips). "São verdadeiras bombas",
resumiu. Outra recomendação é implantar currículos de saúde baseados
em atividades físicas e estímulo aos bons hábitos alimentares. Esse
é o foco de seu novo projeto de pesquisa, a ser implementado, nos
próximos dois anos, em oito escolas da Capital, envolvendo 1.047
alunos. A meta é desenvolver disciplinas transversais de educação em
saúde, disseminando conceitos pelas várias matérias. Questionários
avaliarão resultados.
Na opinião de Ribeiro, o Legislativo é um elemento
estratégico no planejamento de intervenções em saúde pública. Ele
lembrou que, nos Estados Unidos, há estados que trataram em lei a
restrição da oferta de "alimentos competitivos" nas escolas. Por
meio de legislação, houve também a sobretaxação desse tipo de
alimento. Os recursos extras foram aplicados em programas de
promoção da saúde e subsidiaram a redução dos preços dos alimentos
saudáveis. Robespierre Ribeiro citou, ainda, casos como os de
Brasília e do Rio de Janeiro, onde foi proibida a venda desses
alimentos nas cantinas das escolas. "A restrição não é novidade no
País", afirmou, acrescentando que, em Brasília, a mudança não
significou queda das vendas nas cantinas escolares.
Proibição com informação é o que defende Élido
Bonomo, do Conselho de Alimentação Escolar. "É inaceitável manter no
mesmo espaço uma cantina com a oferta desses alimentos, enquanto se
esforça para oferecer uma alimentação saudável aos estudantes",
apontou. Tanto ele quanto o deputado Adelmo Carneiro Leão
concordaram que isso não pode ocorrer nem sob a justificativa de que
a cantina é fonte de renda para a escola. O lobby a ser
enfrentado, lembrou no entanto o parlamentar, é muito poderoso. Já a
representante da SES, Beatriz Lisboa, ressaltou que é preciso atuar
nas duas frentes, pois, na medida em que a merenda ficar mais
atrativa, poderá ser diminuída a venda dos "alimentos
competitivos".
Já o deputado Fahim Sawan (PSDB) defendeu a
vinculação orçamentária também para a alimentação escolar,
destacando a importância da escola como instrumento de mudança. O
professor Ênio Cardillo Vieira, do Departamento de Bioquímica e
Imunologia da UFMG, ponderou que é preciso mobilizar ainda as
famílias dos alunos e estimular o prazer da alimentação nas crianças
e adolescentes.
Presenças - Deputados
Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente, e Fahim Sawan (PSDB), e os
convidados citados.
|