Andradas pede presídio e reaparelhamento da
Polícia
Uma quadrilha paulista armada com fuzil M-635,
metralhadora Uzi e três pistolas automáticas, trajando coletes à
prova de balas e uniformes da Polícia Federal, com rádios HT na
frequência da PM e da Polícia Civil, invadiu há duas semanas a casa
de um empresário e fugiu a bordo de um carro Audi. Em 2004 um
estelionatário foi resgatado da cadeia pública numa ação audaciosa
de quatro bandidos que renderam o PM que estava de guarda.
Traficantes do PCC foram presos após investigação do delegado.
Tudo isso aconteceu na pacata cidade sul-mineira de
Andradas, com 40 mil habitantes, na fronteira com São Paulo, onde a
Polícia Civil tem apenas um delegado e quatro investigadores, sendo
que dois deles estão deslocados para a guarda de presos e um faz
funções burocráticas, e onde as viaturas estão arriadas no pátio e
apenas um Fiat Uno estaria em condições de ser usado numa
perseguição, mas sem chance de alcançar um Audi. O armamento
policial também é incapaz de fazer frente ao dos bandidos: uma
cartucheira calibre 12 e dois revólveres 38.
Esta situação de penúria para combater o crime foi
relatada aos deputados da Comissão de Segurança Pública da
Assembléia pelo delegado seccional Elviro Mário Mancini, durante
audiência realizada na Câmara Municipal de Andradas nesta
quinta-feira (10/11/05), a requerimento do deputado Miguel Martini
(PHS). O deputado Sargento Rodrigues (PDT) recebeu da PM relatório
detalhado das numerosas fugas que ocorrem na cadeia pública, e da
exportação da criminalidade paulista para as cidades fronteiriças de
Minas. "A cadeia é o problema mais grave da cidade, mas a sensação
de impunidade é que mais prejudica a segurança pública", disse
Rodrigues.
Para o problema da cadeia, o deputado Dalmo Ribeiro
Silva (PSDB) anunciou que já foi encontrada a solução. Ele
acompanhou a prefeita Margot Navarro Pioli em diversas audiências
com secretários de Estado, onde a oferta de reforma da atual cadeia
foi recusada, e finalmente o secretário de Governo, Danilo de
Castro, assegurou a construção de uma unidade prisional
adequada.
Nova cadeia será construída em 2006, e custará R$ 1
milhão
"Será uma obra de R$ 1 milhão, com capacidade para
60 presos em dez celas. Já definimos um terreno adequado na estrada
que vai para Ibitiúra de Minas, e as obras estão marcadas para
começar em fevereiro próximo e ser inauguradas antes do final do
ano", comemora a prefeita Margot Pioli. A situação de insegurança na
cidade também foi amenizada, segundo ela, pela transferência de
efetivos da PM para patrulhamento ostensivo, incluindo cavalaria e
ciclistas. "Só nos falta agora melhorar o efetivo da Polícia Civil,
que já foi de 15 detetives, e hoje são apenas quatro, e equipá-los
melhor. Minha sugestão é que os municípios de fronteira com estados
mais violentos, como Rio de Janeiro e São Paulo, recebam um
acréscimo de 2% no Valor Adicionado Fiscal (Vaf) para enfrentar a
questão da segurança", propõe a prefeita.
"Vivemos em Minas um longo período de letargia, em
que os governos não fizeram os investimentos necessários, deixando a
segurança pública chegar a uma situação de sucateamento. Mas o
governador Aécio Neves vem procurando resgatar essa dívida, e este
ano estará investindo R$ 200 milhões em segurança pública, e até
agora nada recebeu do Governo Federal", disse o presidente da
Comissão, deputado Zé Maia (PSDB).
A necessidade de reforço do policiamento nas
cidades de fronteira foi confirmada pelo Coronel PM José Humberto
Oliveira, que informou a discussão de um plano de reaparelhamento de
todas as unidades nas divisas, numa reunião de coronéis realizada na
véspera. O coronel elogiou também o Programa de Resistência às
Drogas (Proerd), através do qual a PM fez trabalho preventivo com
mais de 600 mil crianças. Sargento Rodrigues sugeriu que o Conselho
de Segurança Pública (Consep) de Andradas contribuísse para divulgar
o Proerd.
Inúmeras pessoas da platéia manifestaram suas
queixas e receios a respeito da segurança na cidade, como o
agricultor Armando Ferraz de Pontes, que denunciou freqüentes roubos
de gado e implementos agrícolas nas fazendas. A denúncia foi
confirmada pelo presidente do Sindicato Rural, Paulo Alberto Risso
de Souza.
Uma polêmica entre a jornalista Rosângela Granato e
a Polícia Civil, por conta de um editorial criticando detetives que
teriam sido transferidos pela Corregedoria, foi revivida na reunião.
O advogado Fábio Henrique Fernandes, que defende os policiais, disse
que eles eram aptos ao combate ao crime, mas foram covardemente
perseguidos até serem transferidos, só restando os menos capazes na
cidade. A jornalista admitiu que fez campanha para tirá-los da
cidade, e disse que teme represálias e que a população tem medo de
fazer denúncias.
O deputado Miguel Martini (PHS) disse que em Minas
estão as melhores polícias do Brasil, que são capazes de expurgar
seus maus elementos e purificar-se. Disse ainda que a insegurança
pública é realidade no mundo inteiro, e que compete a todos,
sociedade e autoridades, mobilizar-se para corrigir os erros.
Presenças: Deputados Zé
Maia (PSDB), presidente; Sargento Rodrigues (PDT), Miguel Martini
(PHS) e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB).
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