Moradores questionam desapropriações para construção da Linha Verde

A desapropriação de centenas de famílias que hoje vivem na interseção da avenida Cristiano Machado com o Anel Rodoviá...

09/11/2005 - 01:00
 

Moradores questionam desapropriações para construção da Linha Verde

A desapropriação de centenas de famílias que hoje vivem na interseção da avenida Cristiano Machado com o Anel Rodoviário, para construção das obras do projeto Linha Verde, tornou-se uma polêmica que divide até os próprios moradores da região. Uns querem que o valor mínimo de 17 mil reais estipulado para as indenizações seja aumentado, outros querem uma moradia já pronta, de três quartos, em um bairro próximo, outros querem receber os 17 mil imediatamente. O assunto foi tema de audiência da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia nesta quarta-feira (09/11/05), a requerimento de seu presidente, deputado Durval Ângelo (PT).

A remoção das famílias faz parte das obras de duplicação da Cristiano Machado, para melhorar o acesso ao aeroporto de Confins. A Linha Verde, projeto do governo do Estado, é um conjunto de obras com 35 quilômetros de extensão, que inclui a construção do Bulevar Arrudas, a duplicação da MG-10 e as desapropriações da avenida Cristiano Machado. O período previsto das obras é de nove meses para o Bulevar Arrudas e a duplicação da MG-10 e de 12 meses para as desapropriações. O Estado fez um convênio com a Prefeitura de Belo Horizonte, para que as desapropriações e assentamentos sejam feitos por meio da Urbel.

Entre os requerimentos aprovados na reunião, está o que convoca o secretário adjunto de Estado de Transportes e Obras Públicas, Fernando Antônio Costa Janotti, para comparecer à Assembléia e prestar esclarecimentos sobre as desapropriações das famílias. O subsecretário havia sido convidado para a audiência desta quarta-feira, mas não compareceu. Segundo o pároco da Igreja Todos os Santos, Pier Luigi Bernareggi, um dos que pediram a realização da reunião, Fernando Janotti teria afirmado que conversaria com ele depois, uma vez que na audiência "nada seria resolvido mesmo". O deputado Durval Ângelo disse que vai cobrar explicações do subsecretário sobre tal afirmação.

Comissão vai visitar a área que será desapropriada

Outro requerimento aprovado é para que a Comissão de Direitos Humanos faça uma visita à área a ser desapropriada, para verificar as condições de moradias ali existentes, solicitando também a presença de diversas autoridades envolvidas no processo. O deputado Paulo César (PDT), em outro requerimento, pede que seja formalizado convite ao governador Aécio Neves para que ele visite a área juntamente com a comissão. Solicita, também, que seja agendada visita da comissão ao governador para discutir a situação das desapropriações para a Linha Verde, acompanhada por uma comissão de moradores. O objetivo da visita, de acordo com o deputado, seria tentar sensibilizar o governador para que aumente o valor das indenizações.

O deputado Carlos Gomes (PT), disse acreditar na disposição do Estado ao diálogo e defendeu que cada morador seja respeitado e tratado como ser humano. "Vamos fazer mais quantas audiências forem necessárias, até que cheguemos a um acordo", afirmou.

Ameaças - O padre Pier Luigi, mais conhecido com Padre Piggi, que milita há vários anos junto aos movimentos populares, apresentou à comissão um estudo que garante que uma moradia simples, mas digna, naquela região, não custa menos que 56 mil reais. O padre diz que, na luta para defender os direitos dos pobres, já se indispôs com várias autoridades, com membros da própria arquidiocese, e que agora vem recebendo ameaças de morte de traficantes da região.

O padre criticou a atual Lei de Uso e Ocupação do Solo de Belo Horizonte, sancionada da gestão do ex-prefeito Patrus Ananias. Na opinião dele, a lei impede a construção de moradias para os pobres dentro de Belo Horizonte. Ele teme que as pessoas retiradas das vilas próximas à Cristiano Machado acabem indo para outras favelas, ou sejam reassentadas em locais muito distantes.

O presidente da Urbel, Claudius Vinicius Pereira, garantiu que a área remanescente das obras será reutilizada para construção de 300 apartamentos para as famílias desapropriadas, além de lojas e galpões para os comerciantes. Ele fez um apelo às pessoas para que façam a opção pela moradia pronta e afirmou que os que optarem pelo apartamento receberão "bolsa moradia" até que o imóvel seja construído.

Uns não querem sair da região, outros querem mudar de cidade

De acordo com moradores presentes à reunião, as desapropriações para obras da Linha Verde vão atingir cinco vilas: São Miguel, Carioca, Virgínia, Matadouro e Suzana. O vice-presidente do Conselho Comunitário da Região Nordeste, Jorge Moreira Nolasco, reclamou do que ele chama de "descaso das autoridades" para com os moradores. Na opinião dele, os moradores devem exigir o direito de receberem o valor das indenizações para fazer o que quiserem com o dinheiro. Ele ameaçou promover uma invasão no prédio da Urbel como protesto pela forma como o assunto tem sido conduzido pela prefeitura e pelo Estado.

A doméstica Maria de Fátima Rodrigues de Souza mora na região há 30 anos e não quer sair de lá. "Nossas casas foram construídas com suor e sangue, não apenas com tijolos. O valor delas não é só o valor pecuniário", desabafou. Já o morador Moacir Coimbra, diz que ninguém quer sair de uma favela e ir para outra. Na opinião dele, a maioria das pessoas quer receber o dinheiro e voltar para sua cidade de origem, uma vez que a maioria veio do interior para a capital, e hoje sobrevive de atividades informais.

Outros Requerimentos aprovados

Dos deputados Roberto Ramos (PSDB), Paulo Cesar (PDT) e Durval Ângelo (PT):

* solicita ao chefe da Polícia Civil, Otto Teixeira, agilidade na conclusão de inquérito em que figura como indiciado Ezequiel Pinheiro Ramos e, como vítima, Waine do Carmo Braga. Segundo os deputados, o inquérito voltou para o Departamento de Investigações em fevereiro deste ano para novas diligências, até hoje não concluídas;

Do deputado Roberto Ramos (PSDB):

* solicita vistoria, pela Polícia Civil, das condições de saúde e higiene dos presos do 11º Distrito Policial do Palmital, em Santa Luzia

* solicita ao comandante-geral da PM o imediato afastamento do policial Ezequiel Pinheiro Ramos, em função do indiciamento pela morte de Waine do Carmo Braga.

* solicita ao juiz do II Tribunal de Júri agilidade na análise do caso do policial.

Do deputado Durval Ângelo:

* Cinco requerimentos sobre o mesmo assunto, pedindo que seja enviado ofício da comissão solicitando à Ouvidoria de Polícia do Estado de Minas Gerais, à Corregedoria da Polícia Militar, ao Comando Geral da Polícia Militar, e ao Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (Conedh) adoção de medidas para o esclarecimento da morte de Josimar Faria Damasceno, ocorrida no último dia 5 de novembro, na residência dele, no bairro Inconfidentes em Contagem. Requer, ainda, que sem encaminhada cópia do termo de declarações prestadas à Pastoral de Direitos Humanos de Contagem, pelos familiares da vítima, no qual contestam as versões dos policiais militares; e que seja solicitado ao coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Defesa dos Direitos Humanos, Rodrigo Figueira de Oliveira, que requisite ao Ministério Público todas as providências cabíveis para apuração da participação de policiais militares na morte do rapaz.

* requer visita da comissão no próximo dia 10 de novembro a uma clínica de toxico-dependentes no município de Pará de Minas, a pedido de vereadores da cidade;

* solicita audiência pública para debater as propostas da Central Nacional de Mobilização das Comunidades Negras do Brasil para a melhoria das condições do sistema prisional do Estado;

Da deputada Jô Moraes (PCdoB)

* solicita realização de audiência pública da comissão com a do Trabalho, da Previdência e da Ação Social para apurar agressão de metalúrgicos durante campanha salarial deste ano.

Presenças - Deputado Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PSDB), vice; Paulo Cesar (PDT); e Carlos Gomes (PT); vereadores Antônio Pinheiro (PSDB) e Alexandre Gomes (PV).

 

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