Planos de saúde antigos continuam reajustados com intermediação da ANS

Os planos de saúde antigos continuam a ser reajustados anualmente, em seu aniversário, conforme índice pactuado entre...

09/11/2005 - 01:00
 

Planos de saúde antigos continuam reajustados com intermediação da ANS

Os planos de saúde antigos continuam a ser reajustados anualmente, em seu aniversário, conforme índice pactuado entre a Agência Nacional de Saúde (ANS) e as operadoras, baseado no menor custo dessas empresas. Para isso, foi assinado termo de compromisso, no ano passado, entre as operadoras, a agência e o Ministério Público, para que sejam seguidos os índices negociados entre eles. A informação foi prestada pela representante da ANS, Mônica Nigri, durante audiência pública realizada pela Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa, nesta quarta-feira (9/11/05). A comissão se reuniu a requerimento do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) para discutir novas regras do governo federal para disciplinar a migração nos planos de saúde.

A ANS anunciou, em fevereiro deste ano, que iria editar nova resolução para estabelecer as regras de migração para os planos novos, já que a que foi feita em 2003 não teve 100% de adesão. Mas, de lá para cá, não houve nenhuma outra iniciativa da agência, o que motivou o deputado Dalmo Ribeiro Silva a buscar novas explicações, segundo ele, "sobretudo pelo emaranhado de normas, 605 instrumentos, entre medidas provisórias, resoluções normativas, operacionais, instruções e portarias que tratam do assunto".

A medicina privada no Brasil é regulamentada pela Lei 9.656, de 1998, que disciplinou a oferta de planos individuais e coletivos, com coberturas e índices de reajustes. Os planos adquiridos a partir desta lei têm correção definida anualmente pala ANS. Já os planos anteriores ficaram a descoberto, gerando uma enxurrada de ações judiciais dos usuários, para garantir coberturas ou redefinir índices de correção muito altos. No Brasil existem 18 milhões de contratos, sendo que, destes, cerca de 65% são das regras novas e 35% anteriores à lei. Dos 35%, 12% são contratos individuais, setor que concentra os problemas, por não serem regidos pelos índices estabelecidos pela ANS.

Agência incentiva migração mas Procons são contra

Segundo Mônica Nigri, a agência vem trabalhando para que a migração aconteça em 100% dos planos, como forma de acabar com as ações judiciais. Ela explicou a diferença entre adaptação e migração.

Adaptação - A adaptação já está prevista na Lei 9.656 e pode ser feita a qualquer momento, significando que o cliente do plano deverá somente complementar as coberturas que seu plano não tiver. Após a adaptação tal plano passa a ser regido pelas regras dessa lei, que tem um índice anual definido pela Agência Nacional de Saúde, baseado na inflação da área médica, "que é maior do que a inflação oficial e os índices que a norteiam", enfatiza Mônica Nigri. Mas ela garantiu que somente nos dois últimos anos o reajuste foi maior do que o IPCA, índice oficial de correção de preços, "porque os custos do setor estavam muito defasados, sobretudo diante das inovações tecnológicas de diagnóstico".

Migração - Já a migração significa o abandono das regras dos planos antigos e a passagem para as novas. Só que esta migração encareceria os planos em mais de 300% em muitos casos, segundo o coordenador do Procon Assembléia, Marcelo Barbosa. Ele disse que diante das cartas enviadas pelos planos, em 2003, o Procon instruiu os usuários a não fazerem a migração. No País todo, houve muitos problemas, como a recusa em atender a determinadas coberturas, levando os clientes para o Poder Judiciário, "que passou a legislar sobre planos de saúde desde esta época", segundo o deputado Fahim Sawan (PSDB), situação atípica, em sua avaliação.

Mônica Nigri disse que o plano de migração, de 2003, obrigava as operadoras a enviar correspondência aos clientes, explicando as coberturas dos planos antigos, comparando-os com as novas, os valores a serem pagos e as regras futuras, diante do aumento de idade e mudança de faixa etária do consumidor. Mas tal procedimento não foi seguido, conforme Marcelo Barbosa, havendo somente uma carta "colocando o cliente na parede, como a dizer: ou você adere ao plano novo ou vai morrer sem assistência", informou.

Deputados querem que comissão sirva de interlocução

Ao explicar seus motivos, o deputado Dalmo Ribeiro Silva disse que sua preocupação diz respeito às garantias necessárias aos usuários dos planos. "Desejamos conhecer o que foi implementado e quais os avanços verificados", afirmou. Para o deputado, a criação da agência reguladora e mais as inúmeras normas não contribuíram para a solução das dificuldades do setor, "por isso, nosso objetivo é assegurar a construção de um modelo baseado nos direitos de cidadania de todos os usuários, em defesa da vida e da saúde", concluiu Dalmo Ribeiro Silva.

O deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente da comissão, disse que o sonho é que haja um real sistema único de saúde, com todos os recursos para prestar uma assistência pública a 100% da população. "Mas, enquanto isso não acontece, é preciso que a medicina privada seja regulamentada e controlada pelo Estado brasileiro", analisou. E colocou a Comissão de Saúde à disposição para que seja mais um canal de interlocução nas tentativas de intermediação entre operadoras de planos, agência e consumidores.

O sonho de um SUS amplo para toda a população é compartilhado pelo deputado Fahim Sawan, para quem os recursos e diagnósticos aumentaram muito de preço, o que leva os usuários a quererem mais benefícios. Já a deputada Lúcia Pacífico (PSDB), que participou como convidada por ser vice-presidente da Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte e presidente do Movimento das Donas de Casa, criticou a imposição dos planos pela migração. Ela criticou ainda a negativa de as operadoras atenderem a determinadas coberturas, garantindo que todos os planos antigos estão amparados pelo Código de Defesa do Consumidor, "que prevê o direito à cobertura completa".

Ao final foi sugerido pelo deputado Adelmo Carneiro Leão que o Procon faça uma relação das operadoras que não atendem bem, para divulgação junto à população, a exemplo da "lista suja" do meio ambiente. O coordenador do Procon, Marcelo Barbosa, informou que a relação já existe e é encaminhada mensalmente à Assembléia e ao Ministério Público. A representante da ANS também disse que a agência tem tal relação em sua página na internet e sugeriu que os usuários a consultem, pelo endereço www.ans.gov.br ou pelo telefone gratuito 0800 7019656.

Presenças: Deputados Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente; Carlos Pimenta (PDT), vice; Doutor Ronaldo (PDT), Fahim Sawan (PSDB), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) e a deputada Lúcia Pacífico (PSDB).

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