Projeto que cria nota fiscal para agricultor é debatido

A Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial realizou audiência pública na tarde desta terça-feira (8/11/05) ...

08/11/2005 - 01:00
 

Projeto que cria nota fiscal para agricultor é debatido

A Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial realizou audiência pública na tarde desta terça-feira (8/11/05) em busca de aprimoramento para o texto do Projeto de Lei 2.555/05, de autoria da deputada Elisa Costa, que trata da emissão de notas fiscais do produtor rural em nome da família. Representantes da Secretaria da Fazenda e dos principais movimentos de trabalhadores rurais estiveram presentes, entre eles Justina Cima, do Movimento das Mulheres Camponesas de Santa Catarina, Estado pioneiro na implantação do bloco de notas fiscais para o trabalhador rural.

Elisa Costa esclareceu que seu projeto visa estender aos pequenos produtores rurais de Minas o mesmo benefício que já existe em outras unidades da Federação. "Somos um Estado agrícola, com avanços em várias áreas, e precisamos chegar aonde já chegaram Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, Bahia e Rondônia", afirmou.

Hoje, ao vender a sua produção, o agricultor goza de isenções ou diferimento, e quando precisa adquirir uma nota fiscal avulsa, esta não sai no nome do emitente. Nos estados onde a medida já foi implantada, o titular da família agrícola pode ter o seu nome impresso na nota e colocar sua esposa e familiares como co-titulares. Ao vender a produção, ele emite uma nota, recolhe os impostos devidos e também 2,3% a título de contribuição previdenciária. A nota serve de comprovação de atividade para fins de aposentadoria, eliminando uma penosa obtenção de provas de trabalho no campo.

"Nossa luta começou em 1985, com a mobilização para conseguir documentação profissional para a mulher, que era considerada auxiliar do marido e não vende sua força de trabalho", revelou Justina Cima. "Ao apresentar-nos espontaneamente para tirar nota fiscal e contribuir, estamos realizando um ato de cidadania", acrescentou.

Secretaria da Fazenda não vê como resolver o impasse jurídico

Martinha Moreira Jorge, do Movimento Camponês de Minas, disse que sua entidade encampou a luta e procurou o secretário da Fazenda Fuad Noman, que anunciou-lhes a edição de um decreto em dezembro de 2004. "Verificamos que esse decreto não atende a nossa reivindicação, porque desvaloriza o trabalho familiar. O projeto de lei da deputada Elisa Costa é o mais correto", afirmou.

Antônio Caetano Lemos, da Superintendência de Tributação da Secretaria da Fazenda, louvou a iniciativa de buscar a inserção social do trabalhador através da Previdência, mas apontou uma série de dificuldades técnicas para materializar o projeto. Ele disse que o produtor rural em Minas não tem direito a talão de notas sem se tornar pessoa jurídica. A alternativa seria a sua organização em associações ou cooperativas, que seriam responsáveis pela emissão da nota fiscal. "Dentro do direito comercial não visualizamos a figura da família. A cooperativa poderia emitir a nota identificando o produtor", sugeriu. Lemos levantou também a possibilidade de uma operação ilícita, e perguntou: "Qual seria o quinhão de responsabilidade de cada um dos co-titulares?"

A sugestão do técnico foi criticada por Edith Prates, do Movimento dos Sem-Terra, para quem o MST está combatendo esse associativismo obrigatório a preceder qualquer ação dos produtores. "Se for imposição, não interessa e não funciona. A associação acaba recebendo os créditos em nome do trabalhador e o prejudicando com má administração. O Pronaf está com 67% de inadimplência, mas não por causa de fracassos individuais. Os trabalhadores ficam atrelados às dívidas do grupo, às cooperativas que não foram formadas por eles", informou.

Ao final da audiência, Antônio Caetano Lemos se dispôs a consultar os estados que adotaram a medida para apurar como resolveram os impasses jurídicos. Justina Cima também propôs a formação de grupos para juntar as experiências de cada Estado, como o da Bahia, que criou também um sistema em que o produtor de hortigranjeiros anota suas vendas do mês e vai à agência fiscal tirar nota fiscal.

Presenças: Deputado Padre João (PT), presidente; deputada Elisa Costa. Além dos citados, participaram também Sebastião Martins Barbosa, do Movimento dos Pequenos Agricultores; Ronaldo Cardoso de Lima, da Fetraf; Leandro Soares Moreira, da Fetaemg, e representantes dos municípios de Governador Valadares, Galiléia, Alpercata, Virgolândia, Mendes Pimentel, Tumiritinga e Sobrália.

 

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