Preservação de patrimônio de Humberto Mauro terá emenda no
Orçamento
Berço do cinema brasileiro e de uma linguagem
genuinamente nacional, Volta Grande, na Zona da Mata, não tem uma
sala de exibição. A cidade discute agora como preservar o acervo do
cineasta Humberto Mauro, composto de uma chácara e um estúdio, onde
foram realizados muitos de seus filmes. Para discutir a preservação
do patrimônio, diante da decisão da família de vender o imóvel, a
Comissão de Cultura da Assembléia Legislativa realizou audiência
pública nesta segunda-feira (7/11/05), em que uma das decisões foi a
de incluir uma emenda ao Orçamento do Estado, para que a prefeitura
possa adquirir o imóvel e dar uma destinação cultural a ele.
A decisão foi anunciada pelo deputado Biel Rocha
(PT), autor do requerimento da reunião, que explicou as dificuldades
de apresentação de emendas, mas que, junto com o deputado Carlos
Gomes (PT), que também participou dos debates, prometeu todo o
empenho para convencer os demais deputados da importância e da
necessidade de preservar a chácara, que fica no centro de Volta
Grande.
A chácara é composta por uma casa com todo o
mobiliário original e um galpão, chamado Rancho Alegre, onde o
cineasta filmou e montou muitos de seus filmes. No local há ainda
objetos pessoais, quadros, cartas, parte do que foi um acervo
original, quase todo adquirido pela Companhia de Energia
Cataguazes-Leopoldina, e levado para Cataguases, onde Humberto Mauro
fez seus primeiros longas metragens. As condições de preservação são
precárias, principalmente do estúdio que está em ruínas.
A família, composta dos seis filhos de Humberto
Mauro, pretende colocar à venda o imóvel, por não ter condições
mantê-lo, segundo informações do sobrinho e genro Carlos Eugênio
Mauro. De acordo com a prefeita da cidade, Ely Alves Quintão, o
preço pedido é de R$ 250 mil, "dinheiro que a prefeitura não tem".
Ela lançou um apelo para que todos se unam numa campanha de
sensibilização do empresariado e áreas culturais do Estado e governo
federal para conseguir os recursos. Carlos Eugênio disse que o
primeiro passo será a prefeitura adquirir a chácara e outras ações
virão em conseqüência.
Deputados ressaltam importância do acervo e
prometem ajuda
Ao abrir a reunião, realizada no Campestre Clube de
Volta Grande, o deputado Biel Rocha disse que, por ser muito ligado
à cultura, "e um cinéfilo inveterado", se empenhou em realizar a
audiência pública, "que é um marco histórico também para nós
deputados, porque além de tratar de um tema dessa grandeza, é a
primeira audiência da Comissão de Cultura fora da Assembléia",
afirmou. A comissão foi instalada em junho deste ano.
Biel Rocha disse que o acervo de Humberto Mauro
precisa ser reconhecido pelo estado brasileiro e que a cultura
precisa deixar de ser apêndice de outras áreas. "Por exemplo, os
parlamentos dão mostras da pouca importância que conferem à cultura,
que é um dos temas das comissões de educação". O deputado anunciou
também que irá encaminhar o relatório da audiência para a Secretaria
de Estado da Cultura e para o ministro da Cultura, Gilberto Gil, a
quem entregará pessoalmente na próxima sexta-feira (11), durante
audiência em Juiz de Fora.
O deputado Carlos Gomes lembrou sua condição de
ex-integrante da área cultural da Prefeitura de Belo Horizonte, para
destacar o quanto é importante a preservação do acervo de Humberto
Mauro, para uso da própria comunidade. Ele disse que não se pode
desistir diante das inúmeras dificuldades, "porque se há 80 anos
Humberto Mauro conseguia fazer sua obra, agora tem de ser mais fácil
preservá-la", enfatizou.
Diversos participantes se manifestaram pedindo
apoio dos deputados, como a secretária municipal de Cultura,
Priscila Brandão Cardoso. Ela disse que já enviou ofício ao
governador Aécio Neves e agora aguarda uma resposta da Secretaria de
Cultura, a quem a correspondência foi encaminhada. A representante
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), Marília
Machado Rangel, afirmou que a orientação do órgão é para que as
prefeituras assumam a responsabilidade por seus acervos, "pois não
temos recursos financeiros". Mas ela ofereceu os recursos humanos do
instituto para treinamento de pessoal, bem como assessoria sobre os
instrumentos jurídicos disponíveis, como as leis de incentivo
cultural do Estado e da União.
Pioneirismo ainda embala sonhos
O pioneirismo de Humberto Mauro ainda embala os
sonhos da juventude em Volta Grande, que mesmo sem um cinema, tenta
tomar contato com a obra do cineasta. Exemplo desse esforço foi o
documentário de 20 minutos sobre o cineasta, apresentado na
audiência pelo grupo local "Filhos de Mauro", resultado de uma
oficina de cinema freqüentada por alguns jovens em Cataguases.
Na audiência foi apresentado o curta metragem de Humberto
Mauro, "A Velha a Fiar".
Humberto Mauro nasceu em 1897 e começou a filmar em
1925. Fez mais de 12 longas metragens e diversos documentários e
curtas. Alguns de seus filmes, como "Ganga Bruta" e "Brasa
Dormida", são exemplo da busca pela linguagem nacional, até então
dominada pelo modo de fazer cinema norte-americano.
Presenças - Deputados Biel
Rocha e Carlos Gomes, do PT, prefeita Ely Alves Quintão,
secretária de Cultura Priscila Brandão Cardoso, representante do
Iepha, Marília Machado Rangel, Carlos Eugênio Mauro e Martha Mauro,
genro e filha do cineasta; presidente do Instituto Cultuar, de Além
Paraíba, Guilherme Antônio Diniz; e outras autoridades locais.
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