Patrus Ananias rechaça marca de assistencialismo para o Suas

O ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, rebateu as críticas de que as políticas de ass...

07/11/2005 - 01:02
 

Patrus Ananias rechaça marca de assistencialismo para o Suas

O ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, rebateu as críticas de que as políticas de assistência social e o próprio Sistema Único de Assistência Social (Suas) sejam assistencialistas e clientelistas. Ele participou, na manhã desta segunda-feira (7/11/05), no Plenário da Assembléia de Minas, da abertura do ciclo de debates que discutirá, durante todo o dia, estratégias e metas de implantação do sistema. "Não é assistencialismo garantir o direito humano à alimentação de qualidade, em quantidade e regularidade", ilustrou, citando o exemplo dos programas que visam erradicar a fome e a desnutrição no País e garantir o direito à alimentação - cuja maior vitrine é o "Fome Zero". Mais de mil pessoas se inscreveram para os debates.

Críticas - Em entrevista coletiva à imprensa, Patrus Ananias também rebateu críticas de que o governo federal gasta mais com publicidade do que com os programas sociais. Segundo ele, o Ministério do Desenvolvimento Social gasta apenas R$ 10 milhões de seu orçamento de R$ 17 bilhões em propaganda oficial. Ele defendeu a atuação do governo Lula na área social, lembrando que foram criados mais de 4 milhões de novos postos de trabalho com carteira assinada nos últimos três anos; além de listar programas de geração de emprego e renda e implantação de restaurantes populares, cozinhas comunitárias e bancos de alimentos. Ao citar, no evento, o "Bolsa Família", o ministro destacou que a meta é chegar ao final de 2005 com 8,7 milhões de famílias atendidas.

Atrasos no repasse - O Suas, que está em processo de implantação, é uma parceria entre os governos municipais, estaduais e federal, e vai reunir pela primeira vez os serviços e programas sociais que beneficiam 50 milhões de brasileiros, como crianças e adolescentes, mulheres, índios, idosos, portadores de deficiência e pessoas em situação de abandono, entre outros. Segundo a Secretaria-Geral da Presidência da República, o novo sistema trará uma série de inovações na gestão dos serviços e no atendimento à população mais pobre. Com o novo modelo, o governo federal espera reduzir os atrasos no repasse de verbas para as prefeituras, já que os recursos serão descentralizados e a análise de documentos pelo ministério será informatizada.

Patrus Ananias destacou os pontos positivos do novo modelo de assistência social implantado a partir do Suas. Para ele, o sistema está inserido num contexto de criação de uma grande rede de proteção e promoção social no País. "A consolidação do Suas está comprometida com o pacto federativo e possui uma linha suprapartidária, pois as parcerias entre União, Estados e Municípios são feitas sem critérios político-partidários", resumiu. O que é classificado como assistencialismo ou clientelismo, segundo Patrus Ananias, é política pública.

Expositores destacam principais desafios na implantação do novo modelo

A secretária adjunta de Assistência Social de Belo Horizonte e presidente do Colegiado de Gestores Municipais de Assistência Social, Rosilene Cristina Rocha, destacou que a implantação do Suas exigirá esforço, sobretudo, dos municípios. Isto porque já é conhecida a situação de escassez de recursos humanos e financeiros vivida pelas cidades mineiras, apesar de elas terem assumido muitas responsabilidades, após a Constituição de 1988. Entre os desafios, considerados por ela "poderosos", Rosilene relaciona: falta de estrutura e de profissionais e problemas de financiamento. Ela defendeu que o financiamento seja continuado e não apenas pontual, ressaltando ainda que compete também aos Estados o assessoramento técnico e financeiro aos municípios na implantação do novo modelo. O maior financiador dos programas de assistência social no País é a União.

Ajustes necessários - Apesar de destacar que o Suas é um modelo que recebe elogios unânimes, pois foi elaborado de forma participativa, o representante da União dos Conselhos Municipais de Assistência Social da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), Domingos Sávio Araújo, também ressaltou desafios para sua consolidação. Ele lembrou que as políticas públicas de assistência social são construídas pelos órgãos gestores, conselhos e entidades prestadoras de serviços. Se o setor sempre precisou do trabalho dessas entidades, a relação com elas tem problemas, como atrasos no pagamento de convênios e discrepâncias entre valores pagos pelo poder público pela prestação dos serviços e os custos apresentados pelas entidades. "A entidade finge que faz e o gestor finge que paga", ilustrou, para exemplificar os gargalos existentes.

Domingos Sávio Araújo também destacou a importância dos conselhos de assistência social, que protestam e reivindicam e devem sempre ser consultados. Afirmou, no entanto, que eles acabam "se submetendo" e chamou a atenção para o fato de que é preciso resolver os conflitos existentes no âmbito dessas estruturas.

Já o subsecretário de Estado de Trabalho e Assistência Social, Wander Borges, anunciou que, até o final de outubro, 70% dos municípios mineiros tinham sido habilitados nos diversos níveis de gestão do Suas - inicial, básica e plena. Ele informou que restam 253 municípios a serem habilitados, o que deve ocorrer até o final deste ano. Entre os requisitos para habilitação, estão a alocação de funcionários e recursos; a comprovação da implantação de conselhos; e a administração de serviços específicos. Outra informação prestada pelo subsecretário foi de que o Estado já disponibilizou recursos para a implantação dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) em 172 municípios mineiros. Como foi destacado por Rosilene Rocha, o Estado é co-financiador do apoio técnico aos municípios para implantação dos centros - conhecidos como "Casas das Famílias". Essas casas, destacou o ministro Patrus Ananias, são espaços de encontro das famílias beneficiadas.

Quanto à avaliação de resultados do Suas, Wander Borges informou que o Estado já contratou a UFMG para implantar um sistema de informações com esse objetivo. Os módulos do sistema de monitoramento e avaliação serão concluídos em 2007.

Deputados destacam importância do evento

O 3º-vice-presidente da ALMG, deputado Fábio Avelar (PSC), que representou o presidente Mauri Torres na abertura do ciclo de debates, destacou que o evento contribui para fortalecer o entendimento de que a assistência social é direito de todo cidadão e não uma ajuda ocasional. Ele lembrou que a democratização das informações e a troca das experiências, possibilitadas por eventos como esse, são fundamentais para a construção das políticas públicas.

Já a deputada Elisa Costa (PT), autora do requerimento para realização do ciclo, avaliou que o Suas é um "sistema em marcha" e significa uma revolução na assistência social. Repetindo Patrus Ananias, ela disse que o Sistema Único de Assistência Social é contrário ao assistencialismo, além de estimular o protagonismo de seus usuários.

Para o secretário de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes, Marcos Montes, a implementação do Suas pode ser demorada, mas o sistema já resolveu muitas questões: definiu competências entre os entes federados, valorizou os municípios e está dando uma nova feição para a assistência social no País.

Também participou da abertura do ciclo de debates o embaixador do Brasil em Cuba, Tilden Santiago.

Papel dos legislativos na implantação do Suas é discutido

No segundo painel, sobre "o controle social e o papel do Legislativo na implantação do Suas", o deputado André Quintão (PT) abriu sua fala com uma reflexão quanto à atuação do Legislativo, em todas os seus níveis, no Suas: "de qual parlamento estamos falando? O parceiro ou adversário na criação de políticas públicas de assistência social?" De acordo com o deputado, muitas vezes, os parlamentos tem sido adversários, adotando políticas de assistencialismo e não de construção coletiva de políticas públicas. Mas ele destacou, por outro lado, a atuação positiva do poder na aprovação da Lei Orgânica da Assistência Social. "Agora, sob a égide do Suas, os parlamentos estaduais e municipais devem fazer suas adequações", complementou. Quintão também apontou um outro caminho de atuação legislativa, que se daria com a aprovação de projetos de valorização dos profissionais da assistência social, atualmente subvalorizados, segundo ele.

André Quintão enfatizou também o papel dos legislativos na discussão e votação das leis orçamentárias, que incluem não apenas o Orçamento propriamente dito, mas também a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e o Plano Plurianual (PPA). Nesse sentido, ele destacou as audiências públicas do PPAG na Assembléia. Esse trabalho possibilitou avanços como a inclusão de um novo projeto estruturador e a aprovação de uma emenda popular, estabelecendo a revisão anual do plano. Na opinião do deputado, outra forma de atuação dos legislativos, além de legislar e fiscalizar, pode se dar no apoio ao controle social, em sintonia com os conselhos e outros órgãos da assistência social.

Tratando dos pressupostos para a construção do Suas nos municípios, o vereador de Juiz de Fora, José Sóter Figueroa, relacionou como importantes nessa empreitada: o respeito à diversidade regional e local, a compreensão do estágio em que se encontra a assistência social em cada níveis de governo, a busca permanente da gestão democrática, a luta articulada pelo co-financiamento do setor e a necessidade de capacitação continuada dos recursos humanos. Na visão do vereador, para que o Suas se consolide, deve-se priorizar três eixos de atuação que priorizam melhorias na gestão, aumento da participação popular e viabilização de financiamentos para o setor. Visando ampliar a participação, Figueroa defende a revisão na composição dos conselhos de assistência social, de modo a contemplar setores que vêm sendo alijados do processo.

Usuários do Suas não estão cientes da sua implantação

Eleonora Schettini Martins Cunha, da Coordenadoria de Direitos Humanos, Trabalho e Tecnologia da Pró-Reitoria de Extensão da UFMG, destacou que a maior parte da população para quem é destinado o Suas não está ciente de sua implantação. "Estamos discutindo políticas públicas num nível de competência técnica altíssima, mas me chama a atenção a ausência dos beneficiários dessas ações", refletiu. Na concepção dela, esse é mais um desafio da implantação do Sistema Único de Assistência Social: "como garantir a participação dos usuários nos órgãos deliberativos do Suas? Como capacitá-los?".

Como uma das soluções para essa dificuldade, a representante da UFMG apontou a atuação dos legislativos em conjunto com os órgãos da assistência social. Eleonora Cunha se referiu a uma pesquisa que fez sobre a produção legislativa da ALMG nessa área. Segundo ela, de 2000 para cá, tramitam 99 projetos que tratam de assistência social - 44% de utilidade pública, 31% sobre questões específicas e 25% tratando de questões fundamentais para a área. A professora destacou também a criação da Comissão de Participação Popular como um dos instrumentos para assegurar a cidadania dos usuários da assistência social.

Qualificação - A presidente do Conselho Estadual de Assistência Social (Ceas), Maria Ângela Rocha Pereira, enfocou os desafios do órgão diante da nova realidade. Para Ângela, o principal deles é "a qualificação para o exercício pleno do controle social da política pública de assistência social". Ela entende que para que esse controle seja efetivo é fundamental o envolvimento da sociedade nos assuntos do governo. "O governo tem que se tornar mais público e a sociedade, mais atenta, ativa e propositiva, zelando pela aplicação dos recursos públicos", completou. A presidente do Ceas mostrou preocupação com os municípios de pequeno porte (em Minas, mais de 600), afirmando que deve ser pensada uma estratégia diferenciada para preparar sua inclusão no Suas.

Capacitação de RH ainda é desafio

A questão do financiamento e dos recursos humanos foi abordada na parte da tarde do Ciclo de Debates, presidido pelo deputado João Leite (PSDB). A coordenadora da Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social de Belo Horizonte, Simone Elisabete Rocha Ribeiro, falou da importância da profissionalização e do aperfeiçoamento contínuo dos profissionais que atuam na área. Esse aprimoramento é fundamental, segundo ela, para que o cidadão necessitado possa contar com um serviço de melhor qualidade. "É preciso reconhecer que os usuários devem ser atendidos de maneira ética e criteriosa", ressaltou.

A mesma visão foi apresentada pela representante do Fórum Mineiro de Assistência Social, Maria Rosângela Pinheiro Dâmaso. Ela propôs, entre outras ações, que as entidades assistenciais monitorem constantemente os poderes Legislativo e Executivo, cobrando a implantação das propostas relativas à Assistência Social aprovadas nas reuniões de revisão do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG); vigilância quanto ao cumprimento das deliberações afirmadas durante a 6ª Conferência Estadual de Assistência Social; e assegurando recursos para a capacitação da mão-de-obra.

O subsecretário de Trabalho Wander Borges voltou à tribuna para mostrar valores do orçamento estadual destinados à Assistência Social. Ele afirmou que, para 2006, a receita estimada é de R$ 27 milhões, sendo que 31,85% desse valor representarão despesas com pessoal e encargos. Ele criticou a distribuição de recursos no Brasil, afirmando que apenas 14% do total de impostos arrecadados são destinados aos municípios.

Municípios mostram suas experiências

Em seguida, os participantes do Ciclo de Debates ouviram diversas palestras sobre experiências bem-sucedidas na implantação da proteção social básica. A primeira a falar foi a secretária municipal de Assistência Social de Itabirito, Denise de Cássia Cunha. Ela disse que, naquela cidade de 40 mil habitantes, o trabalho de reestruturação da área de Assistência Social começou em janeiro deste ano, com diagnósticos, levantamento de prioridades e definição de estratégias de atuação. Denise informou que, atualmente, já são 650 famílias atendidas com atividades diárias, e a meta para junho de 2006 é que esse número chegue a 1.200. Entre as atividades desenvolvidas estão oficinas e cursos de artesanato, música e modelagem, grupos de convivência de idosos e entretenimento para crianças carentes.

Já o vice-prefeito de Janaúba, José Benedito Nunes Neto, destacou que a continuidade da administração municipal (reeleição do prefeito) foi muito benéfica porque a política de Assistência Social não foi interrompida. Com isso, foi possível ampliar os programas de assistência desenvolvidos em parceria com diversas empresas e entidades. Entre as atividades desenvolvidas, Nunes Neto citou uma parceria com o Banco do Brasil, que atende a 120 crianças em situação de risco social, e a manutenção de uma fazenda, que ajuda atualmente 23 rapazes a se livrarem da dependência das drogas.

 

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