Biotecnologia e defesa da vida são abordados em ciclo de debates

"Estamos começando a ler o livro da vida escrito por Deus". A frase que o então presidente dos Estados Unidos, Bill C...

04/11/2005 - 01:00
 

Biotecnologia e defesa da vida são abordados em ciclo de debates

"Estamos começando a ler o livro da vida escrito por Deus". A frase que o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, disse em 2000, quando o cientista Collin anunciou a conclusão do mapeamento do código genético humano (Projeto Genoma), foi usada pelo assessor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Frei Antônio Moser, durante o Ciclo de Debates "Em defesa da vida". Frei Antônio Moser procurou desfazer a imagem de uma Igreja contrária ao progresso da ciência, mas ponderou: "O verdadeiro cientista é aquele que fica admirado com a complexidade e a beleza da criação."

O evento, realizado nesta sexta-feira (4/11/05) na Assembléia Legislativa, atendeu a requerimento do deputado Miguel Martini (PHS), para quem o debate em defesa da vida precisa ser feito levando-se em conta não só o aspecto religioso da questão, mas também os científicos e éticos. "Apesar de 80% da população brasileira ser contrária ao aborto, vários projetos abortistas tramitam no Congresso", alertou o deputado.

Igreja do sim - Na palestra sobre "Biotecnologia e Bioética - O início da vida humana e decorrências éticas", o teólogo Antônio Moser, afirmou que os pontos de tensão entre biotecnologia e fé encontram-se, principalmente, nas fases inicial e final da vida humana. Na primeira fase, ele destacou a oposição da Igreja à possibilidade de as pessoas começarem a escolher características dos seus descendentes. "A tensão está no momento em que começa a se formar a idéia de que a Terra é para seres perfeitos. Mas o que é ser perfeito? O que será feito daqueles que não se enquadrarem nesses critérios?", questionou.

Moser também criticou o tratamento que tem sido dado aos estudos com células-tronco. Para ele, está havendo o cultivo de uma ilusão de cura para todos os males. Outro aspecto da fase inicial da vida abordado pelo frei foi a situação dos anencéfalos. Ele defendeu que a questão não é fazer ou não o aborto. "O importante é saber por que os casos estão eventualmente aumentando e como prevenir a doença", afirmou.

Na fase final da vida, a Igreja também condena o apressamento da morte dos que podem ter se tornado um peso para as famílias ou para o Estado e o retardamento da morte de pessoas queridas. "Somos favoráveis ao respeito da vida até o fim, mas por métodos convencionais", concluiu. Para o Frei Antônio Moser, existem muitas concepções em jogo quando se trata de biotecnologia. As primeiras delas, as de ciência e de fé. Segundo o assessor da CNBB, não se pode falar de ciência no singular, mas de uma rede de ciências. "A verdadeira ciência é consciente de seus desdobramentos. O verdadeiro cientista sabe que nenhuma descoberta ou conquista é definitiva", afirmou.

Qualidade de vida vai além da genética

Frei Antônio Moser apresentou a igreja do "sim": ao direito de nascer e crescer em um lar; de ser original e irrepetível; à verdadeira política familiar e demográfica; à vida em todas as manifestações e em todas as fases; às pesquisas levadas adiante com seriedade; às pesquisas com células adultas; à transparência nos resultados das pesquisas; aos meios convencionais; à uma vida construída com realismo; e à qualidade de vida. De acordo com Moser, em um primeiro momento, a questão genética é muito importante, depois os hábitos de vida passam a ser mais importantes. "Não há código genético que resista à fome", afirmou.

Debates - Abrindo a fase de debates, o coordenador, deputado Célio Moreira (PSDB), afirmou que permitir a pesquisa com embriões era um retrocesso, e não um avanço, como tem sido divulgado. Isso porque, no seu ponto de vista, as pesquisas, como estão sendo encaminhadas, atentam contra a ética, a vida e a dignidade humana. O deputado João Leite (PSDB) disse que o debate era importante, para permitir que a sociedade ouvisse o lado da defesa da vida. "Temos visto muito só o outro lado, da banalização da vida", completou. Ele criticou também a atitude do Ministério da Saúde, que vem defendendo políticas de legalização do aborto.

Respondendo a uma pergunta sobre a escolha entre usar ou descartar os milhares de embriões congelados, o frei Antônio Moser declarou: "não me perguntem o que fazer com embriões congelados; para mim, a questão é não produzir mais". Sobre essa questão, a presidente do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFMG, Maria Elena de Lima Perez Garcia, referiu-se à afirmação de um ganhador do Prêmio Nobel. Ele afirmou que não se podia aplicar novas tecnologias sem antes refletir muito sobre elas, frase que fez Maria Elena lembrar o que ocorreu com a fertilização in vitro. "Foram gerados milhares de embriões. E agora, o que é mais ético: jogá-los pela pia ou utilizá-los em pesquisa?", questionou. Uma moça paraplégica criticou, no ciclo de debates, a falta de informações científicas sobre células-tronco, ressalvando que não se pode misturar esse debate com a discussão do aborto.

Missa - Ao final do ciclo de debates, o arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidiu uma celebração eucarística no Hall das Bandeiras. Também foi montada uma feira com estandes de comunidades católicas. Dois shows musicais com Eros Biondini e Banda e Eloísa Kênia e Banda do Céu fecharam a programação.

 

 

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