Marco regulatório para as regiões metropolitanas é defendido na
ALMG
A Emenda à Constituição (EC) 65, de 2004, é um
instrumento poderoso para que as cidades que compõem regiões
metropolitanas possam enfrentar de forma mais eficaz seus problemas
comuns, como saneamento básico, transporte e abastecimento de água.
Essa opinião foi compartilhada por todas as autoridades
participantes do Debate Público "Novo Marco Regulatório das Regiões
Metropolitanas", promovido pela Assembléia Legislativa de Minas
nesta segunda-feira (24/10/05).
A EC 65 cria uma Assembléia Metropolitana, um
Conselho Deliberativo de Desenvolvimento Metropolitano, uma Agência
de Desenvolvimento, um Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado e
um Fundo de Desenvolvimento Metropolitano. Atualmente tramitam na
ALMG, em 1º turno, três Projetos de Lei Complementar (PLCs) que têm
o objetivo de regulamentar as determinações propostas pela EC 65.
Todos são do deputado Roberto Carvalho (PT), que também é um dos
autores da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que deu origem à
Emenda 65.
O deputado e presidente da Comissão de Assuntos
Municipais e Regionalização da Assembléia, Leonardo Quintão (PMDB),
que coordenou os trabalhos, destacou os grandes desafios da gestão
metropolitana, resultado do modelo federativo. Segundo Quintão, esse
modelo "impõe a necessidade de articulação entre os governos
municipais e entre este e o Estado e a União, para superar a
fragmentação das políticas públicas". Ele reafirmou a importância da
integração entre os poderes públicos para que as necessidades da
população sejam atendidas.
O deputado Roberto Carvalho explicou que esses PLCs
ainda não foram aprovados pela Assembléia porque eles constituem a
parte crucial da questão, ou seja, vão ser decisivos para a eficácia
ou não da nova lei. O deputado manifestou sua esperança de que "a
Assembléia Metropolitana possa não só ver os problemas comuns como
também propor soluções para eles".
Emenda equilibra recursos e atribuições na gestão
metropolitana
Para o prefeito de Belo Horizonte, Fernando
Pimentel, com a Emenda 65, "estamos dando um passo à frente" para
diminuir o desequilíbrio entre os recursos e as atribuições da
União, dos Estados e dos municípios. Ele afirmou que o modelo
econômico atual garante, de um lado, um excesso de recursos e uma
escassez de deveres da União, diante de uma situação oposta colocada
para os municípios. "As verbas municipais são claramente
insuficientes para atender as atribuições constitucionais de
prestação de serviços ao cidadão, como saúde, educação fundamental,
transporte público e outras", disse Pimentel. Já os Estados, disse
ele, estariam com essa relação equilibrada, caso não sofressem
restrições no repasse de recursos federais.
Segundo o secretário de Estado de Desenvolvimento
Regional e Política Urbana, Manoel Costa, o governo de Minas e
prefeitos de 33 cidades que compõem a Região Metropolitana de Belo
Horizonte já assinaram o Plano Diretor Metropolitano, no qual se
comprometem a realizar uma série de ações em conjunto para combater
problemas comuns. Ele disse ainda que esse plano será, naturalmente,
enquadrado na regulamentação da EC 65. "Somos solidários a esse novo
marco legal, que poderá ser bastante aprimorado ainda, pois não
temos muitas experiências no Brasil e no mundo que nos possam servir
de modelo", afirmou. Manoel Costa advertiu ainda que os municípios
ainda não foram capazes de aproveitar todas as potencialidades que
regiões metropolitanas oferecem.
O secretário de Estado de Planejamento e Gestão,
Antônio Anastasia, apresentou um histórico da questão das regiões
metropolitanas desde a promulgação da Constituição Mineira, em 1989.
Ele também elogiou a Emenda 65 e disse que, a partir de sua
regulamentação, os interesses metropolitanos serão cuidados de modo
mais eficiente do que hoje. Para o secretário de Desenvolvimento
Econômico de Ipatinga, Marco Aurélio Sena, as ações integradas devem
substituir as fragmentadas que, segundo ele, dispersam recursos.
Segundo ele, as questões de transporte, lixo e saúde, por exemplo,
precisam de solução conjunta.
O papel da Assembléia Metropolitana da Região
Metropolitana de Belo Horizonte (Ambel) - de avaliação das planos
diretores, de elaboração do Plano Diretor Metropolitano, a criação
da agência de desenvolvimento e o debate sobre as questões de
interesse comum - foi tratado pelo presidente da entidade, Delmo
Antônio Pretinho dos Santos. Para ele, a criação da Sedru demonstra
o compromisso do governo do Estado com a gestão metropolitana.
Superintendente destaca inovações do marco
regulatório
O superintendente de Assuntos Metropolitanos da
Sedru, Gustavo Gomes Machado, defendeu a aprovação dos PLCs 65, 66,
e 67 na forma dos substitutivos já apresentados, afirmando que
configurarão o marco regulatório mais avançados do Brasil. Ele
destacou os avanços que já foram obtidos com a emenda 65 -
regulamentação da conceituação das regiões metropolitanas; definição
dos princípios que orientarão a gestão metropolitana; e o
restabelecimento de um modelo de gestão estruturado por órgãos
deliberativos, um fundo e uma agência de desenvolvimento. Ressaltou
ainda que os projetos de lei completar em tramitação também inovam
ao reconhecer que a lei deve estar sensível às diferenças de peso
populacional e econômico no modelo de gestão; além de introduzir o
conceito de cidadania metropolitana, inédito na legislação
brasileira.
Gustavo Gomes Machado fez também uma retrospectiva
dos debates sobre a RMBH e lembrou que, em 2003, quando a Assembléia
Legislativa realizou o Seminário Legislativo "Regiões
Metropolitanas", foi constatado que Minas Gerais possuía, naquele
momento, o gestão de regiões metropolitanas mais inoperante do País.
"O reflexo disso é a perda acentuada da qualidade de vida da
população, pois os custos são elevados quando consideramos uma
região metropolitana que funciona de maneira desarticulada e até
mesmo em regime de concorrência entre os municípios", explicou. E
continuou: "Temos que estabelecer uma discussão apartidária dessa
problemática: sem a participação do Estado e dos municípios, sem
proporcionalidade econômica e populacional não há possibilidade de
repactuação."
Cidadania - A necessidade
do efetivo envolvimento do Estado no complexo da metropolização foi
defendido pelo jurista e especialista em Direito Municipal e
Metropolitano, José Nilo de Castro. Para ele, a autonomia municipal
precisa ceder espaço ao interesse comum da região, conforme está
previsto na lei. "Os projetos que estamos discutindo respondem à
ansiedade de cidadania, porque isoladamente os municípios não
cumprem seus pressupostos constitucionais", concluiu.
Pesquisador afirma que BH vive momento de
estagnação
O professor do Centro de Desenvolvimento e
Planejamento Regional (Cedaplar/UFMG), Mauro Borges Lemos,
apresentou um diagnóstico que reflete que Belo Horizonte vive um
momento de crise de crescimento e social, estagnação econômica e
gargalos de infra-estrutura. Segundo ele, a cidade sempre cresceu
muito além da média nacional e agora é uma das que menos cresce
dentre as regiões metropolitanas brasileiras. Mauro Lemos acredita
que a raiz desse problema está na paralisação do crescimento
industrial e defendeu a diversificação. "Precisamos de uma base
produtiva mais sofisticada, indo além da metal-mecânica", afirmou.
Para ele, o maior patrimônio da cidade é o seu
acervo de conhecimento. O pesquisador também defende que tentar
deter o crescimento da cidade não é a saída. "É preciso enfrentar os
gargalos para que a cidade não se estagne, criando outros centros
para que a população não tenha que fazer grandes deslocamentos para
atender suas necessidades do dia-a-dia", sugeriu. "O que prejudica a
expansão não é a falta de espaço territorial, mas de crescimento
ordenado", concluiu.
O último palestrante foi o ex-presidente do
Planejamento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Plambel),
Benício de Assis Araújo. Ele ressaltou que o Plano Diretor
Metropolitano não pode ser um documento estático, ou seja, precisará
ser constantemente reavaliado e reorientado de acordo com a mudança
da realidade. Ele também frisou a importância da participação
efetiva da sociedade nas discussões. Outro ponto levantado por
Benício diz respeito à integração entre os planos municipais já
existentes. Segundo ele, o Plano Diretor não pode ser um substituto,
mas sim um complemento dos planos municipais.
Ao final do debate, o deputado Leonardo Quintão
manifestou seu otimismo em relação à tramitação dos PLCs na
Assembléia. Segundo ele, a aprovação das três matérias pelo Plenário
deve ocorrer ainda neste ano. Já o deputado Fábio Avelar (PSC), que
presidiu os trabalhos, anunciou que vai propor, na próxima reunião
da Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização, que haja uma
nova oportunidade para que os prefeitos e vereadores dos municípios
que compõem a Região Metropolitana de Belo Horizonte se manifestem
sobre a questão, uma vez que poucos deles participaram do debate
desta segunda-feira.
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