Problema habitacional em Sabará se arrasta há quase dez anos

A indignação dos compradores e de deputados marcou a reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativ...

20/10/2005 - 01:02
 

Problema habitacional em Sabará se arrasta há quase dez anos

A indignação dos compradores e de deputados marcou a reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, nesta quinta-feira (20/10/05), na discussão do loteamento de Várzea do Moinho, terreno localizado em General Carneiro, Sabará. O motivo é a falta de solução para o problema que se arrasta há nove anos, entre as 800 famílias que compraram e pagaram pelos lotes, em 1995 e a prefeitura daquele município, que fez a desapropriação um ano depois. Como tentativa de encaminhar uma solução, os deputados aprovaram um requerimento de uma visita ao local e ao prefeito de Sabará. Antes da reunião, mais de 200 pessoas fizeram um apitaço na porta da Assembléia.

A reunião aconteceu a requerimento do deputado Durval Ângelo (PT), presidente da comissão, dois anos depois de um termo de compromisso assinado entre a prefeitura e representantes da Associação dos Lesados da Várzea do Moinho, na presença da juíza Maria Isabel Fleck, titular do Fórum de Sabará. Pelo documento, a prefeitura se comprometeu a assentar 400 famílias no terreno. O descumprimento desse acordo deixou indignado Durval Ângelo, para quem a reunião desta quinta-feira (20) "seria para discutir o problema das 400 famílias restantes e não das 800 iniciais".

O caso da Várzea do Moinho se arrasta desde 1996, quando a prefeitura desapropriou, via decreto, o terreno a fim de realizar assentamentos de urgência. A área, porém, tinha sido comprada por 829 famílias no ano anterior, mas o registro do imóvel ainda não havia sido transferido para seus nomes. Por isso, a desapropriação foi feita em nome dos antigos proprietários. A prefeitura depositou em juízo, à época, o valor de R$ 50 mil, dinheiro que ainda permanece sob a guarda da Justiça. O terreno de 420 mil m² foi adquirido em sistema de cotas, e o atual prefeito Sérgio Luís de Freitas, que foi convidado mas não compareceu, é o terceiro a passar pelo caso, sem solucioná-lo.

Processo judicial está no Tribunal de Justiça e pode voltar a Sabará

Depois do acordo, não cumprido, entre prefeitura e moradores, outra ação importante do caso foi a decisão da juíza Maria Isabel Fleck, que no ano passado extinguiu o processo de desapropriação. Mas a prefeitura recorreu e o processo está agora no Tribunal de Justiça. Segundo o advogado Willian Santos, que acompanha o caso, está para sair a decisão sobre o embargo declaratório interposto pelos moradores, que teve decisão favorável a eles na 3ª Câmara Civil. "Caso seja confirmada a sentença da juíza de Sabará, o processo pode voltar para o fórum local, para julgamento do mérito, e é o que queremos". O advogado explicou que os moradores não querem recorrer ao Superior Tribunal de Justiça, "porque isso atrasaria o processo mais três ou quatro anos".

A possibilidade de sensibilizar o atual prefeito foi destacada por outros participantes da reunião, como o engenheiro Walter Caetano, responsável pelo projeto de construção de moradias. Ele disse que o projeto não tem nenhum problema, tendo cumprido a legislação específica, o que inclui a destinação de área institucional para a prefeitura. "Vou procurar o prefeito Sérgio de Freitas e acredito na sensibilidade dele, porque a solução é política e não técnica". A mesma esperança foi manifestada por moradores e pelo deputado Roberto Ramos (PSDB), que dirigiu a primeira parte da reunião. O deputado lembrou que para se conseguir alguma coisa no Brasil é preciso muita pressão. "Nós já fizemos várias reuniões, espero que não precisemos de mais nenhuma, mas se precisar faremos mais cinco, dez", garantiu Roberto Ramos.

Famílias expressam angústia e desalento

Vários moradores foram ao microfone expor sua angústia pela falta de solução. A situação deles é praticamente a mesma: pobres que não têm onde morar, vivem com parentes ou ainda pagam aluguel. A compra do lote em Várzea do Moinho representou, para muitos, a economia de muitos anos, o sacrifício de toda a família, incluindo filhos pequenos. Todos pediram a solução, lembrando que não querem indenização, mas apenas o direito de usufruir daquilo que compraram. Eles denunciaram ainda que o terreno está sendo degradado pela prefeitura, que joga entulho no local, já tendo assoreado uma nascente de água. "Por que a prefeitura não cede o terreno para seus legítimos donos, será que o entulho é mais importante que a população?", questionou o morador Sidnei Nunes Franco. A presidente da Associação dos Lesados da Várzea do Moinho, Jaqueline Luzia de Lima Silva, disse que foi com muita angústia que os moradores compareceram a mais uma reunião. "Não queremos terreno em outro lugar, queremos o de Várzea", afirmou. A vereadora de Sabará Fabrícia Duarte disse que os moradores não podem ser penalizados pelos erros da desapropriação, "mas que é preciso conversar mais com o Poder Executivo".

Requerimentos: Alem do requerimento da visita ao local e ao prefeito, dos deputados Roberto Ramos e Durval Ângelo, a comissão aprovou ainda outro de Roberto Ramos para ser enviado ofício à Prefeitura de Sabará solicitando a retirada do entulho depositado irregularmente no local. Outros requerimentos aprovados: do deputado Durval Ângelo, solicitando audiências públicas em Galiléia e em Formiga. A primeira para debater a importância da defesa dos direitos humanos, em atendimento a pedido do promotor de Justiça local, Lélio Braga Calhau; e a segunda para discutir a construção de um presídio regional na cidade; dos deputados Paulo Cesar (PDT) e Durval Ângelo solicitando o envio de ofício à chefia da Polícia Civil, pedindo providências na apuração da morte do preso Renato Menezes Athui, na delegacia de Bueno Brandão; e dos três deputados: o envio de ofícios à Corregedoria da Polícia Militar e à Secretaria de Estado de Defesa Social. O primeiro solicita a apuração de fatos veiculados em matérias jornalísticas sobre desentendimentos entre moradores reclamantes de som alto e a PM; e o segundo pede providências quanto aos problemas constatados pelas Comissões de Direitos Humanos e de Defesa do Consumidor, na visita à cadeia de Governador Valadares.

Presenças: Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PSDB), vice; e Paulo Cesar (PDT), além dos convidados citados.

 

 

 

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