Grandes distâncias dificultam consórcios para tratar lixo no
Noroeste
Paracatu, cidade de 82 mil habitantes no Noroeste
de Minas, é o terceiro município mineiro em dimensão territorial e
fica a 500 km de Belo Horizonte. Paracatu sediou, nesta quarta-feira
(19/10/05), a sétima etapa regional do seminário Lixo e Cidadania -
Políticas Públicas para uma Sociedade Sustentável. A cidade possui
aterro sanitário inaugurado há três anos e está construindo, ao
preço de R$ 9 milhões, uma estação de tratamento de esgotos para
eliminar a poluição lançada no rio Paracatu, afluente do São
Francisco. A maior dificuldade no tratamento do lixo da região,
apontada pelos técnicos e admitida pelas autoridades, é a grande
distância que separa os municípios e inviabiliza medidas
compartilhadas de disposição dos resíduos sólidos.
Cinco municípios se fizeram representar nessa etapa
regional: Paracatu, Arinos, Unaí, Buritis e João Pinheiro, que
enviaram uma centena de participantes, além dos alunos das escolas
paracatuenses, atraídos pela maquete do aterro sanitário e a
exposição de produtos reciclados. A primeira mesa foi presidida pelo
1º-secretário da Assembléia, deputado Antônio Andrade (PMDB), e
composta pelo deputado Elmiro Nascimento (PFL), terceiro
vice-presidente; pelo prefeito de Paracatu, Vasco Praça Filho, pelo
vice-prefeito João Jesus Macedo; pelo vice-presidente da Câmara
Municipal, João Arcanjo Santiago; e pelo secretário de Meio Ambiente
da Prefeitura, Jueli Cardoso.
"Estamos diante de uma questão política, que é a de
enfrentar o desafio da destinação correta do lixo. A conscientização
de todos, autoridades e sociedade, é indispensável para chegarmos a
uma redução na produção de resíduos sólidos", disse o deputado
Antônio Andrade, destacando o compromisso da atual administração com
a preservação do meio ambiente.
"Nos primeiros dias do mandato do prefeito Vasco
Praça Filho foi realizado um mutirão para a limpeza da cidade, com a
coleta de lixo e detritos de casa em casa. Sabemos que muitos
municípios não enfrentam como seria recomendável a questão do lixo
por falta de condições financeiras. Devido às grandes distâncias que
nos separam, não é possível fazer aqui, como no Sul de Minas,
aterros sanitários que atendam a três ou quatro municípios",
argumentou o deputado Andrade.
No futuro, apenas 10% do lixo irá para os
aterros
A mesa técnica de trabalhos foi presidida pelo
deputado Elmiro Nascimento, que informou ser o objetivo do evento
"colher sugestões de todas as partes de Minas para elaborar
políticas públicas que dêem subsídios aos prefeitos para atender a
suas cidades. São raros os municípios que têm as condições
excelentes que vocês têm aqui em Paracatu. Precisamos de ação
política para mudar a consciência das pessoas e dos governantes em
relação a um meio ambiente mais sadio".
O engenheiro civil Santelmo Xavier Filho, da Câmara
de Dirigentes Lojistas, fez palestra revelando que 65% ainda é
disposto a céu aberto, e que é preciso evoluir, primeiro, para
aterros controlados e depois para aterros sanitários. "Mas a
situação ideal, a ser atingida no futuro, é diminuir a produção de
lixo, reciclar tudo o que for possível e enviar apenas 10% para os
aterros, multiplicando sua vida útil", antecipou.
Xavier Filho ilustrou sua tese com dados sobre a
duração de certos materiais na natureza até que se degradem. "Uma
pilha de rádio polui a natureza com metais pesados por 50 anos. O
aço dura cem anos, o alumínio até 500 anos, as gomas de mascar 5
anos, embalagens de leite longa vida e pets de refrigerente até 100
anos. Pneus, vidros e cerâmica têm durabilidade indeterminada",
disse o engenheiro, prevendo que, no futuro, a humanidade terá que
mudar de paradigma: "mais qualidade, menos quantidade; mais cultura,
menos símbolos de status; mais esporte, menos material
esportivo".
Dos 853 municípios mineiros, 202 ainda não foram
vistoriados pela Feam para conhecer as formas de disposição do lixo.
Há 453 lixões válidos somente até 30 de outubro, mas já existem pelo
menos 76 aterros licenciados. Apenas 8,2% dos municípios têm coleta
coletiva no Brasil.
Asmare, de Belo Horizonte, promove a cidadania dos
catadores
Júnia Márcia Bueno Neves, presidente da Associação
dos Engenheiros e Arquitetos da Prefeitura de Belo Horizonte, disse
que o lixo é a grande preocupação das autoridades. Quanto maior a
produção, maior a preocupação. "Estamos preparando gestores
profissionais que extrapolem a parte interna da administração e que
interajam com a sociedade. Numa das pontas estão os catadores de
lixo, pessoas que têm papel importante na vida da cidade e com a
reciclagem promovem sua inclusão social. O exemplo é a Asmare, de
Belo Horizonte, que realiza um trabalho belíssimo. Os catadores eram
chamados de 'mulas' humanas, porque mulheres grávidas levavam
carrinhos com até 700 quilos de lixo. Hoje são pessoas que têm senso
de cidadania, e dizem que vieram do lixo, mas não são lixo"
Entre as fontes de recursos para tratamento do
lixo, Júnia Neves apontou os financiamentos do BNDES, consórcios de
prefeituras, utilização de fundos de financiamento para maquinários,
implantação do ICMS ecológico e a capacitação das associações
microrregionais para otimizar recursos. "O Brasil precisa correr
atrás da destruição que já fez. Ainda temos lastro ambiental,
estamos em situação melhor que muitos países civilizados que já o
perderam", disse Júnia Neves.
Ana Beatriz Marques e Aluísio Lopes, da Oscip Verde
Água, falaram sobre a necessidade de reciclar os conselhos
municipais de meio ambiente (Codemas) dentro dos preceitos do artigo
225 da Constituição Federal, segundo o qual "todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado". Lopes apresentou dados do
Crea-MG, de que na construção civil há uma perda de 30% dos
materiais, que vão se tornar entulho na paisagem, e também afirmou
que, no mesmo período em que a população brasileira cresceu 16%, a
produção de lixo cresceu 46%.
"O Fórum Nacional Lixo e Cidadania foi criado pelo
Unicef em 98, tendo como objetivo prioritário erradicar o trabalho
infantil no lixo. Em pouco mais de três anos, retirou 46.742 meninos
e meninas dos lixões. Hoje são quase 100 mil as crianças atendidas
dentro do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, com
bolsa-escola, bolsa-família, etc. Agora precisamos comprometer os
deputados federais e senadores com a inclusão social dos catadores",
disse Aluísio Lopes.
Grupos de trabalho apresentaram 18 propostas
novas
Os participantes do evento foram divididos em três
grupos de trabalho, que discutiram durante cerca de três horas os
pacotes de sugestões colhidos nas comissões técnicas
interinstitucionais. Ao final 18 propostas foram incorporadas ao
acervo e inúmeras receberam modificações. O Grupo 1, coordenado por
Ana Beatriz e Aluísio Lopes, discutiu 98 propostas e aprovou duas
novas, propondo a criação de centros de educação ambiental e a
inclusão da disciplina Educação Ambiental com conteúdo isolado, nas
escolas do segundo grau.
O Grupo 2, coordenado por Júnia Márcia e Pedro
Chagas, debateu 47 propostas, modificando 10 delas. Duas novas foram
aprovadas, tratando da criação de uma estrutura no Estado para
elaborar projetos na área ambiental para as prefeituras, e a criação
de equipes de fiscalização, acompanhamento e controle ambiental.
Por sua vez, o Grupo 3, coordenado por Santelmo
Xavier, debateu 130 propostas e acrescentou 14. Entre elas, Xavier
destaca como novidades a proposta de perfuração de poços exométricos
para aferir a qualidade dos lençóis freáticos, e também a sugestão
do uso de fibra de coco como material para a construção civil.
Cada grupo elegeu dois delegados. Vão representar a
região Noroeste Rosilene Silva, Évio Mendes Nascimento, Alceni Maria
Silva, Adão Isaías Batista, Fernanda Maria Oliveira e Daiana
Caroline Silva. Nesta quinta-feira, 20.10.05, realiza-se a oitava
etapa regional do seminário Lixo e Cidadania em Patos de Minas. As
etapas restantes estão marcadas para Montes Claros, Uberaba e
Ituiutaba. Os delegados eleitos em cada região se reúnem na
Assembléia Legislativa nos dias 21 a 23 de novembro, para o
seminário propriamente dito.
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