Conflito entre posseiros e IEF motiva nova reunião de comissão

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia, nesta quarta-feira (19/10/05), deu seqüência às discussões sobre a disp...

19/10/2005 - 01:01
 

Conflito entre posseiros e IEF motiva nova reunião de comissão

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia, nesta quarta-feira (19/10/05), deu seqüência às discussões sobre a disputa territorial entre 80 famílias de posseiros e o Parque Estadual do Rio Preto, em São Gonçalo do Rio Preto, região Central do Estado. O autor do requerimento pela reunião e presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), fez um relato sobre a situação, afirmando que a posição da comissão era pela preservação do meio ambiente, mas com a preocupação com os posseiros, seres humanos que precisavam da terra para sobreviver.

Durval lembrou a audiência no município vizinho de Felício dos Santos, em 4 de agosto. O problema começou em 29 de abril deste ano, quando os guardas do parque, com apoio da Polícia Ambiental, destruíram um curral reformado pelos posseiros, alegando que os mourões utilizados na reforma teriam sido roubados do parque. Os chapadeiros refizeram o curral com postes de eucalipto, mas novamente, foi destruído e o material confiscado, causando indignação.

Os posseiros, baseados em laudo de engenheiro registrado no Crea-MG, alegam que o curral e o pasto, utilizados por eles há mais de 50 anos, estariam fora dos limites do parque. Os responsáveis pelo parque, criado em 1993, assim como outros técnicos do Instituto Estadual de Florestas (IEF), contestam esse laudo. O parlamentar disse que recebeu, na reunião anterior, um dossiê com o histórico do conflito, onde se denuncia que as terras teriam sido adquiridas irregularmente pelo IEF do funcionário do governo estadual, Dilson Cosme Ramos.

MP não vê irregularidade na compra de terreno por IEF

Respondendo à acusação, Dilson entregou à comissão um parecer do Ministério Público (MP) Estadual, de 2002, que decide pelo arquivamento da denúncia de irregularidades na compra das terras pelo IEF. Ramos leu trecho do documento, em que se avalia não ter havido improbidade administrativa do IEF na negociação. De acordo com o parecer, o instituto teria adquirido as terras com verbas próprias, a um custo compatível com o preço de mercado, e a acusação de que a transação envolveria terras devolutas não se sustentava. Dilson informou ainda que foi proprietário da Fazenda das Boleiras entre 1982 e 1994 e que a vendeu para o IEF financiando em 10 anos. O ex-fazendeiro disse que toda a área do parque está somente no município de São Gonçalo do Rio Preto. Ele também afirmou que, no tempo em que foi proprietário da fazenda, só teve conhecimento de três posseiros na área, sendo que, de dois, ele comprou as posses. O único posseiro que ficou, segundo Dilson, foi Mozar Xavier, o que contraria a versão dos chapadeiros.

O gerente do Parque Estadual do Rio Preto, Antônio Augusto de Almeida, que não havia comparecido à primeira audiência, confirmou as informações prestadas por Dilson Ramos. E sugeriu que a comissão nomeasse peritos para analisar o caso. O gerente declarou também que o material do curral não foi roubado, mas apreendido pela Justiça. A superintendente da Amda (Associação Mineira de Defesa do Ambiente), Maria Dalce Ricas, dirigiu palavras de apoio a Antônio Almeida, e afirmou que, mesmo que o curral esteja fora do parque, ainda sim, será ilegal, uma vez que toda a área é de preservação permanente e, portanto, não pode sofrer exploração econômica.

Posseiros - O vereador de Felício dos Santos, Mateus Lima Leite, reclamou que, "outra vez, a população mais pobre paga pela questão ambiental". Para ele, a degradação promovida pelos posseiros no parque é mínima, tanto que estão lá há 50 anos. "Os chapadeiros não podem simplesmente ser expropriados", criticou. Ele questionou o fato de o IEF ter comprado apenas as terras de Dilson Cosme deixando vários outros posseiros de fora. O vereador também denunciou o preço da venda do terreno: enquanto irmãos do posseiro Mozart, já falecido, teriam recebido R$ 12 mil por 3.400 hectares de terreno, Dilson teria recebido por uma área de mesmo tamanho R$ 340 mil. "Esse processo do Ministério Público tem que ser revisto", reivindicou.

Requerimentos aprovados - Os deputados Durval Ângelo, Roberto Ramos e Paulo Cesar (PDT) requerem envio de ofícios: ao Comando Geral da PMMG, solicitando apuração de denúncia do Movimento Nacional de Direitos Humanos, de confronto entre policiais militares e estudantes grevistas da Universidade Federal de Lavras; e à Promotoria Especializada de Direitos Humanos e ao Secretário de Estado de Defesa Social, solicitando-lhes providências quanto à apuração da morte de Diego Jefferson Soares, em 22/08/05, na Penitenciária Dênio Moreira, em Ipaba.

"Pinga-fogo" - Na fase da reunião destinada a ouvir denúncias, o jornalista Pedro Tanagiro, de Rio Novo, Zona da Mata, relatou que vem recebendo ameaças de morte. O motivo seria a denúncia que fez em seu jornal de que o prefeito do município, Marco Aurélio Dias Ferreira, teria contratado, sem concurso, 130 pessoas. A denúncia chegou ao Ministério Público, que assinou acordo com o prefeito, ano passado, para que ele regularize a situação dos contratados. O prefeito, então, teria demitido esses funcionários, responsabilizando o jornalista Pedro. Os prejudicados estariam ameaçado o jornalista, que afirmou estar privado até de sair de sua casa atualmente.

Já a estudante de fisioterapia da PUC-Betim, Fernanda França Ribeiro, denunciou ter sido vítima de abuso de autoridade por parte do delegado da cidade, Geraldo Toledo. Fernanda foi a delegacia reclamar que a universidade vem impedindo que assista às aulas, devido ao problema genético que tem nas articulações. O delegado, que segundo ela, foi professor da PUC, algemou-a e a deixou presa de 9 às 17 horas. E ainda obrigou-a assinar um documento afirmando que ela tinha cometido um desacato à autoridade.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente da comissão; Roberto Ramos (PSDB), vice; Doutor Viana (PFL), Célio Moreira (PSDB) e Jayro Lessa (PFL). Além dos citados na matéria, participaram também: o coordenador de Regularização Fundiária do IEF, Silvério Seabra da Rocha; o diretor de Proteção de Biodiversidade do IEF, Célio Murilo de Carvalho Vale; e o supervisor Regional do IEF de Diamantina, Silvio de Castro Fonseca.

 

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