Produtores de leite discutem Instrução Normativa 51

Melhorar a qualidade do leite. Esse é o grande fundamento da Instrução Normativa 51, de 2002, do Ministério da Agricu...

18/10/2005 - 01:01
 

Produtores de leite discutem Instrução Normativa 51

Melhorar a qualidade do leite. Esse é o grande fundamento da Instrução Normativa 51, de 2002, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que dispõe sobre o controle higiênico e sanitário na cadeia produtiva do leite e seus derivados, objeto de debate em audiência pública conjunta das comissões de Saúde e de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa nesta terça-feira (18/10/05). A reunião, convocada a requerimento dos deputados Adelmo Carneiro Leão, Edson Rezende e Padre João, do PT, e da deputada Ana Maria Resende, do PSDB, discutiu também outras questões relacionadas à produção de leite no Estado, como a ameaça da empresa Danone de suspender a compra de leite de produtores da região de Barbacena.

Desinformação - A desinformação sobre o conteúdo da IN 51, que entrou em vigor no dia 1º de julho deste ano, gerou grande inquietação entre os pequenos produtores mineiros, receosos de serem excluídos do mercado por incapacidade de se adaptarem às novas exigências. Além de promover a substituição do leite tipo C, a IN 51 contém regulamentos técnicos para os diversos tipos de leite, normas sobre refrigeração do produto na propriedade rural e o transporte a granel, e fixa padrões mínimos e progressivos de qualidade microbiológica, física e química do leite. No caso do leite tipo B, no prazo máximo de três horas após a ordenha deverá ser resfriado a uma temperatura não superior a 4 graus centígrados.

Ao contrário do que foi erroneamente divulgado, o transporte em latão não será extinto, sendo permitido desde que o estabelecimento processador concorde em trabalhar com esse tipo de matéria-prima e que a entrega seja feita no máximo até duas horas após a ordenha. A ordenha manual também poderá continuar a ser feita, desde que com padrões de higiene adequados. "O problema maior é a limpeza, a higiene na ordenha e no transporte", enfatizou Marcos Damásio de Gusmão, veterinário e fiscal federal agropecuário do Ministério da Agricultura.

De acordo com dados do Ministério, 65% dos produtores mineiros atendem os padrões de qualidade vigentes. No Estado, 36% dos produtores ainda usam o transporte em latão, mas eles respondem por apenas 16% do volume de leite produzido. Os demais 64% dos produtores que trabalham com tanques de resfriamento ficam com 84% da produção. A utilização do latão varia conforme a região, sendo, por exemplo, superior a 80% dos produtores na região de Pouso Alegre, no Sul de Minas, e 60% em Barbacena.

Meta é melhorar qualidade

O Brasil produz cerca de 24 bilhões de litros de leite, sendo 14 bilhões inspecionados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura. Minas Gerais responde por 25% da produção nacional, 6 bilhões de litros. Segundo Marcos Damásio, o leite brasileiro apresenta sérios problemas de qualidade que precisam ser superados para que o produto possa competir no mercado internacional. Enquanto na maioria dos países a média é de 10 mil bactérias por mililitro, no Brasil essa média é de 1,2 milhão de bactérias por mililitro. A meta da IN 51 é baixar essa carga microbiana para 1 milhão até julho de 2008; para 750 mil até julho de 2011; e para 100 mil a partir de 2011. Para as regiões Norte e Nordeste, os prazos são um pouco mais dilatados. Outra novidade é o cadastro nacional dos produtores. A IN 51 prevê que cada produtor rural terá seu produto analisado uma vez por mês.

Os trabalhos do Programa Nacional de Qualidade do Leite (PNQL) tiveram início em 1996, e visam a promoção da melhoria da qualidade, a garantia de segurança alimentar da população e a agregação de valor aos produtos lácteos. A idéia é de que haja ganhos de qualidade na sanidade do rebanho, na higiene da ordenha, na refrigeração e no transporte, premiando-se o produto de melhor qualidade com melhor preço. "Quem produzir com qualidade, terá melhor remuneração, menor custo de produção e valorização dos animais, além de estar protegendo a saúde do consumidor", assinalou o fiscal do Ministério da Agricultura.

CNA aprova implementação da IN 51

Também presente à audiência, o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Rodrigo Sant'Anna Alvim, fez veemente defesa da necessidade de os produtores brasileiros investirem em qualidade e das metas previstas na IN 51. Ele disse que é inaceitável deixar de lado os cuidados com a qualidade quando se trata de produção de um alimento, e avaliou que a Instrução Normativa não vai retirar pequenos produtores do mercado. "O leite é um produto que viabiliza as pequenas propriedades, gera empregos e mantém o homem no campo. O gargalo a ser enfrentado é com treinamento e capacitação de pessoal, além da oferta de crédito para o pequeno produtor", analisou.

Para Rodrigo Alvim, o potencial de mercado mundial para o leite brasileiro é imenso, e é uma "irresponsabilidade" querer retirar as exigências da IN 51, como pretende um projeto em tramitação no Congresso Nacional. Ele também pediu aos deputados que cobrassem, do Ministério Público mineiro, uma resposta às graves denúncias apontadas no relatório final da CPI do Preço do Leite, que investigou problemas no setor em 2001 e 2002.

Produtores apontam dificuldades

Celso de Araújo Campo, presidente da Associação de Produtores de Leite da Mantiqueira, e Renato José Laguardia de Oliveira, presidente do Sindicato Rural de Barbacena, denunciaram o recente episódio em que a multinacional Danone anunciou, com apenas uma semana de antecedência, que deixaria de comprar 60 mil litros diários de leite, sob a alegação de problemas na qualidade do produto. Eles elogiaram a rápida mobilização de deputados, entidades do setor e autoridades, que conseguiu impedir a concretização da ameaça e evitar um sério problema social. A Danone comprometeu-se a continuar comprando pelo menos 60% da produção.

Mas, segundo os líderes dos produtores, o caso deixou seqüelas, uma vez que todos, mesmo estando organizados, sentiram-se reféns das indústrias, que ainda impõem os preços. Hoje, em plena entressafra, os preços pagos pelo litro de leite estão em queda. Outro reflexo negativo foi a frustração de quem investiu na melhoria da qualidade e se viu na iminência de, da noite para o dia, não conseguir vender seu produto.

Deputados destacam importância do setor leiteiro

Os deputados presentes foram unânimes em destacar a importância do setor leiteiro para o desenvolvimento do Estado. Para o deputado Padre João (PT), questões como a importação de soro de leite da Nova Zelândia precisam ser reavaliadas, em função dos prejuízos que causa aos produtores mineiros. Edson Rezende (PT) lembrou que qualquer crise no setor tem sérios reflexos sociais, defendeu a necessidade de se investir na capacitação e destacou a importância das cooperativas. Ana Maria Resende (PSDB) considerou que a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento está atenta para os problemas do setor e vai apoiar o enquadramento dos pequenos produtores às normas da IN 51. Paulo Piau (PPS) também acentuou a importância das cooperativas, que em outros países são responsáveis por 80% a 100% da comercialização do leite. Adelmo Carneiro Leão (PT) falou sobre a complexidade da cadeia do leite e enfatizou a necessidade da circulação de informações corretas entre os produtores, e Lúcia Pacífico (PSDB) manifestou-se sobre o direito dos consumidores a produto de boa qualidade.

Requerimento aprovado

Na reunião, foi aprovado requerimento do deputado Paulo Piau pedindo que seja incluído na ordem do dia do Plenário o Projeto de Lei (PL) 241/03, de sua autoria, que trata da inclusão do leite na merenda escolar, tendo em vista a agilização da tramitação e a proteção à saúde das crianças e ao desempenho econômico do pequeno produtor de leite de Minas Gerais.

Presenças - Deputados Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente da Comissão de Saúde; Padre João (PT), presidente da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial; Edson Rezende (PT); Marlos Fernandes (PPS); Doutor Viana (PFL); Luiz Humberto Carneiro (PSDB); Paulo Piau (PPS); Fahim Sawan (PSDB); Chico Rafael (PMDB) e Sávio Souza Cruz (PMDB); e deputadas Ana Maria Resende (PSDB) e Lúcia Pacífico (PSDB).

 

 

 

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