Comissão de Meio Ambiente faz audiência e visita
Cercadinho
Nesta terça-feira (18/10/05), a Comissão de Meio
Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa ocupou-se da
questão da reserva ambiental do Cercadinho, na região Centro-Sul de
Belo Horizonte. Pela manhã, deputados da comissão visitaram o local,
acompanhados por representantes da Associação dos Amigos do Bairro
Belvedere, Copasa e Prefeitura de Belo Horizonte. À tarde, foi
realizada audiência pública no Auditório da ALMG para debater o
Projeto de Lei 2.266/05, da deputada Lúcia Pacífico (PSDB), que cria
a Estação Ecológica do Cercadinho.
O deputado João Leite (PSDB), autor do requerimento
pela reunião e relator do PL 2.266/05 na comissão, reafirmou a
necessidade de o licenciamento ambiental para o empreendimento se
dar na esfera estadual, e não apenas municipal, como tem sido feito
até agora. Já o gerente da Secretaria de Meio Ambiente de Belo
Horizonte, Weber Coutinho, afirmou que o processo de licenciamento
prévio foi enviado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável (Semad). Mas como a reunião do Conselho
Municipal de Meio Ambiente (Comam) será nesta quarta-feira (19), a
Semad preferiu devolver o processo informando que não teve tempo
hábil para analisá-lo, segundo Coutinho.
Comam - Na avaliação do
presidente da Associação dos Amigos do Bairro Belvedere, Ubirajara
Pires Glória, o Comam é um órgão sem autonomia e formado por
funcionários da Prefeitura de Belo Horizonte, submissos ao prefeito.
Ele questionou também a pressa com que a PBH tem marcado as reuniões
buscando a aprovação do processo movido pelo empreendedor do
Condomínio Belvedere, a empresa Fernando Valle Construtora e
Incorporação de Imóveis Ltda. Compartilhando dessa preocupação, a
deputada Lúcia Pacífico sugeriu que a comissão tentasse suspender a
reunião do Comam desta quarta-feira (19). Foi aprovado, então, o
requerimento do deputado Laudelino Augusto (PT) solicitando que o
processo sobre o Cercadinho fosse retirado da pauta da reunião do
Comam.
Audiência anterior concluiu pela análise da licença
pelo Estado
O deputado Sávio Souza Cruz (PMDB) registrou que,
no parecer da Comissão de Constituição e Justiça para o PL 2.266,
constava uma defesa do Instituto Estadual de Florestas à criação da
Estação Ecológica do Cercadinho, numa das "últimas áreas verdes
preservadas da Capital". Sávio também lembrou que, há cerca de dois
anos, a questão do licenciamento para a obra foi discutida na
comissão e, àquela época, a conclusão foi a de que o processo
deveria ser submetido a análise dos órgãos estaduais. Referindo-se à
atual tramitação no Coman, o deputado ironizou dizendo que
tratava-se de um processo "Ben Johnson, que corre rápido e viciado".
Foi aprovado um requerimento de Sávio Souza Cruz
solicitando que a comissão encaminhasse mensagens aos conselheiros
do Comam pedindo que exercessem seu direito de pedir vistas ao
processo. Outro requerimento, assinado por Sávio, Laudelino e Lúcia
Pacífico, pede que a Semad assuma a responsabilidade pela análise do
processo de licenciamento para o empreendimento no
Cercadinho.
Área de Proteção - O
superintendente de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da Copasa,
Valter Vilela Cunha, valorizou a importância do manancial do
Cercadinho, para a geração dos 13 mil litros de água por segundo na
Região Metropolitana de Belo Horizonte. Para obter esse resultado, a
Copasa preserva 18 mil hectares na RMBH, inclusive no Cercadinho,
onde 247 hectares estão resguardados. De acordo com ele, em 1982,
através de um decreto estadual, a Bacia Hidrográfica do Cercadinho
passou a ser tratada como Área de Proteção Especial (APE). Com isso,
toda a área foi declarada como de preservação permanente e qualquer
loteamento ou parcelamento no local teriam que ser submetidos
previamente aos órgãos ambientais do Estado.
Empresa pretende construir condomínio com 600
apartamentos
Pela manhã, os deputados da comissão visitaram a
reserva do Cercadinho, a requerimento dos deputados Gilberto Abramo
e Adalclever Lopes, do PMDB. Eles foram acompanhados por
representantes da associação do Belvedere, Copasa e PBH. Já há um
projeto para construção no local de um condomínio de 11 torres, com
600 apartamentos, ao mesmo tempo em que o PL 2.266, se aprovado, vai
impedir a construção de prédios ou outros empreendimentos.
Na visita, o diretor financeiro da associação dos
moradores, Rommel Pires, disse que a luta deles é pela preservação
da área de 80 mil metros quadrados, onde se situa uma cava - uma
abertura no terreno - que recebe águas da chuva, e funcionaria como
uma área de recarga dos mananciais. Confirmando essa visão, o
biólogo da Copasa e gerente do Parque Estadual do Rola Moça, Paulo
Emílio Guimarães Filho, afirmou que a cava é uma vertente direta
para o manancial. Caso o empreendimento aterre o local, pode ser
comprometida, e até inviabilizada, a captação de águas na estação da
Copasa do Cercadinho, de acordo com o biólogo. Ainda segundo Paulo
Guimarães, essa estação, que capta águas no Cercadinho, em Fechos e
na Serra do Rola Moça, é responsável pelo abastecimento de 350 mil
pessoas na Capital.
Histórico - Originalmente,
a área onde se situa a reserva do Cercadinho pertencia ao Estado,
que a doou ao município de Belo Horizonte, em 1894. Em 1982, a Bacia
Hidrográfica do Cercadinho passou a ser tratada como Área de
Proteção Especial (APE). Em 1989, o município transferiu o terreno
para a Fratezzi Gonçalves Finelli Engenharia e Construção Ltda, como
pagamento de uma dívida. Nesse mesmo ano, essa empresa a vendeu para
a atual proprietária, a Fernando Valle S.A.
Em 1990, novo decreto redefiniu seu perímetro, com
o contorno atual. Na condição de APE, cabe ao Estado decidir sobre
qualquer projeto de parcelamento e desmembramento do solo em seus
domínios, conforme determina a Lei Federal 6.766, de 1979, e o
Decreto Estadual 39.585, de 1998. O decreto estipula, no parágrafo
1º do artigo 5º, que a anuência do Estado será precedida de licença
de instalação a ser emitida pelo Conselho Estadual de Política
Ambiental (Copam).
Presenças - Participaram
da visita os deputados Laudelino Augusto (PT), Doutor Ronaldo (PDT),
presidente e vice da comissão, além de João Leite (PSDB) e Carlos
Gomes (PT). Da audiência pública, participaram os mesmos deputados,
com exceção de Doutor Ronaldo, e ainda, Sávio Souza Cruz (PMDB),
Célio Moreira (PSDB), e a deputada Lúcia Pacífico (PSDB).
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