Decadência econômica e degradação ambiental afetam Bacia do
Suaçuí
Como conciliar desenvolvimento econômico com
preservação da natureza? A questão preocupa autoridades e toda a
população de Guanhães, no Vale do Rio Doce. Para discutir
alternativas econômicas para a microrregião da bacia do Suaçuí, a
Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Assembléia
Legislativa promoveu audiência pública na cidade nesta sexta-feira
(14/10/05).
Uma das regiões mais pobres do Estado, a bacia do
Suaçuí tem economia à base da produção de carvão vegetal, e o baixo
dinamismo do mercado de trabalho é uma das causas do êxodo de jovens
para os Estados Unidos e do esvaziamento das cidades. Peçanha, por
exemplo, viu sua população diminuir de 25 mil habitantes em 1970
para 17 mil em 2002 (última estimativa do IBGE). A pequena Senhora
do Porto, que já teve 5,7 mil habitantes em 1970, hoje tem 3,4 mil
moradores.
"À exceção de Guanhães, todos os municípios da
região estão perdendo população. Hoje nós somos o vale do adeus",
disse o representante do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) na
região, Teófilo de Pinho. Segundo ele, Sabinópolis, que tem 16 mil
habitantes, tem cerca de mil nativos morando nos Estados Unidos. O
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da maioria dos municípios da
bacia do Suaçuí é de 0,67, equivalente ao dos países mais pobres da
África, de acordo com o representante regional da Emater, Túlio
César Menezes.
A Cenibra é uma das maiores empregadoras da região,
onde planta eucaliptos para a produção de celulose em Belo Oriente,
uma das cidades ricas do Vale do Rio Doce. Mas as condições de
trabalho de seus empregados no Suaçuí são muito ruins, na avaliação
do presidente da Federação dos Trabalhadores na Indústria Extrativa
de Minas Gerais, José Maria Soares. Ele acusa a empresa de pagar
baixos salários e submeter seus carvoeiros a jornadas de trabalho de
até 14 horas por dia. "A empresa faturou um bilhão de reais no ano
passado, mas o valor da folha de pagamento não chega a 6,5% desse
total", protestou.
Floresta foi derrubada para produção de
carvão
Mas a decadência econômica não é o único problema
grave da região. A degradação ambiental é cada vez maior e vem
preocupando as lideranças municipais e o governo do Estado. O vale
do Suaçuí abriga um dos poucos remanescentes de Mata Atlântica do
Estado, mas a floresta vem sendo derrubada para a produção do carvão
que abastece as siderúrgicas do Vale do Rio Doce.
O representante da Emater, Túlio César Menezes,
citou como exemplo o município de Virgolândia, onde a empresa
pretendia instalar uma área de proteção ambiental, mas não foi
encontrada nenhuma grande extensão de terra livre da degradação. A
derrubada indiscriminada da mata também pode representar ameaça para
o Rio Doce, que é abastecido pelas nascentes e pequenos cursos
d'água que nascem na bacia do Suaçuí.
Para o deputado Gustavo Valadares (PFL), a solução
para o problema passa pelo reconhecimento do Suaçuí como uma região
carente. Oficialmente, as empobrecidas cidades da região pertencem
ao Vale do Rio Doce, cuja média de IDH não é baixa por causa do
desenvolvimento das cidades localizadas no Vale do Aço. Ele defende
a inclusão do Suaçuí na área de atuação da Secretaria de Estado
Extraordinária para o Desenvolvimento do Norte de Minas e dos Vales
do Jequitinhonha e do Mucuri, para ter acesso mais fácil aos
programas federais de redução da pobreza.
Já a deputada Elisa Costa (PT), que pediu a
realização da reunião, cobrou maior responsabilidade social das
grandes empresas da região, como a Cenibra. Ela também propõe o
desenvolvimento de estudos para a formatação de projetos de
desenvolvimento sustentável do Suaçuí. Os debates sobre a questão
serão aprofundados em nova reunião que deve ser realizada em Santo
Antônio do Itambé em novembro.
Presenças - Deputada Elisa
Costa (PT), que presidiu a reunião; e deputado Gustavo Valadares
(PFL). Também compuseram a mesa o prefeito de Guanhães, Osvaldo de
Castro; o presidente da Câmara Municipal, Daniel Menezes; os
prefeitos de Santo Antônio do Itambé, Paulistas e Serro, José
Augusto, Geraldo Pereira e Guilherme Simões, respectivamente; os
representantes da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e
Esportes, Marcos César e Gerusa Morais Falcão; o representante
regional do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Hermógenes
Ferreira; o diretor regional do Ibama, João Alves; e o gerente do
Banco do Brasil em Guanhães, Carlos Roberto Nascimento.
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