Ações na saúde, protesto e críticas marcam reunião de comissão
A prestação de contas da Secretaria de Estado da
Saúde (SES) até o 2º quadrimestre de 2005; a manifestação de
servidores da área exigindo a abertura de negociações; e críticas do
presidente da Comissão de Saúde à compra de ambulâncias e alguns
remédios com preços que estariam acima do mercado. Essas foram as
questões marcantes na reunião da comissão, requerida pelo seu
presidente, deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), nesta quarta-feira
(5/10/05), que contou com a participação do secretário de Saúde,
Marcus Pestana.
Antes de apresentar o balanço das ações da
secretaria, Pestana entregou ao presidente um relatório sintético
com a execução orçamentária e financeira da Saúde no Estado. Segundo
o secretário, até setembro deste ano, de um orçamento de R$ 855
milhões, foram liquidados 55%, ou seja, R$ 471 milhões, e as
despesas já empenhadas atingem 62% (R$ 532 milhões). Pelos dados
apresentados por ele, até agosto de 2005 o Estado já teria cumprido
8,2% da sua obrigação constitucional de destinar 12 % dos recursos
orçamentários à Saúde. "Acreditamos que, até o final do ano, vamos
cumprir a Emenda Constitucional 29", enfatizou Marcus
Pestana.
Saúde da Família - O
secretário destacou o Programa Saúde da Família (PSF), para o qual o
governo estadual criou um programa de financiamento para municípios
com menos de 100 mil habitantes. São oferecidos para as cidades
interessadas R$ 160 mil para obras de infra-estrutura na construção
de unidades do PSF. Foi destacado também por Pestana que o Estado
vai doar um veículo para cada cinco equipes do programa criadas nos
municípios.
No setor de medicamentos, de acordo com Marcus
Pestana, o desembolso financeiro do Estado para a Saúde vem
aumentando ano a ano. Em 2002, o governo de Minas desembolsava R$ 6
milhões para essa finalidade e, em 2005, o repasse aumentou para R$
80 milhões, um crescimento de quase 13 vezes. Também na farmácia
básica, houve um aumento de 41 para 70 itens incluídos. Além disso,
na distribuição dos gastos nessa área, o Estado vai aumentar sua
contribuição de R$ 1,00 para R$ 3,00 per capita por ano, enquanto a
União entra com R$ 1,50 e o Município com R$ 1,00.
Servidores da Saúde se manifestam; deputados se
posicionam
Ao mesmo tempo em que o secretário fornecia as
informações, nas galerias do Plenarinho, servidores da Saúde, com
faixas e cartazes, gritavam palavras de ordem pedindo a abertura de
negociações e criticando a política do governo para o setor. O
deputado Dinis Pinheiro (PSDB) solicitou aos manifestantes que
fizessem silêncio para o secretário falar, uma vez que não estava
conseguindo ouvi-lo. Discordando da atitude, Adelmo Leão afirmou que
a intervenção de Dinis era inoportuna e que a manifestação era
democrática. Como Pestana apoiou Dinis Pinheiro declarando que
estava difícil se concentrar, Adelmo pediu que os servidores se
calassem para ouvir o secretário.
Negociação - Abrindo a
discussão salarial, o deputado Carlos Pimenta (PDT) reconheceu
avanços do Estado na Saúde, mas avaliou que era preciso avançar na
negociação, reabrindo o diálogo com a categoria. Já o deputado Fahim
Sawan (PSDB) registrou que a Assembléia já tinha feito algumas
melhorias nas tabelas, mas reconhecia que isso era pouco. Também o
deputado Doutor Ronaldo (PDT) pediu a valorização do funcionalismo
estadual. O deputado Célio Moreira (PSDB) afirmou entender a
situação dos funcionários da Saúde, mas condenou os excessos nas
manifestações: "com desrespeito, desacato, não vamos chegar a lugar
nenhum".
O deputado Edson Rezende (PT) declarou que a luta
por melhoria salarial na Saúde já é antiga e que a tabela atual está
aquém das necessidades. Para amenizar o problema, ele defendeu
esgotar as possibilidades de melhoria das tabelas, "para ver o que
se pode melhor agora"; e tentar vislumbrar melhorias futuras. Já o
presidente Adelmo Carneiro Leão considerou que "a forma como o
governo do Estado trata os servidores está aquém do possível, não
aquém do desejável".
Emenda 29 - Vários
deputados manifestaram-se a favor da regulamentação da Emenda à
Constituição Federal 29, de forma a garantir o repasse do percentual
de recursos para a Saúde nos níveis federal, estadual e municipal.
Um deles, o deputado Domingos Sávio (PSDB), disse que era "a hora de
todos se unirem em prol da regulamentação da Emenda 29", no que foi
apoiado pelo secretário Marcus Pestana, também defensor da
causa.
Ambulâncias e remédios teriam preço acima do
mercado, segundo presidente
Baseando-se em análises feitas por seu gabinete,
Adelmo Carneiro Leão afirmou que muitos medicamentos teriam sido
comprados pela SES por preços acima dos valores de referência do
Ministério da Saúde. Outro desvio seria o preço de ambulâncias, que
estaria acima do custo definido pela revista "Quatro Rodas".
Continuando com as críticas, o deputado Adelmo Leão disse que "o
Governo de Minas está muito longe de aplicar na Saúde aquilo que é
determinado pela Constituição".
Ele cobrou também do secretário que prestasse
contas sobre os recursos não aplicados no ano passado, R$ 300
milhões, lançados como "restos a pagar". "Esses recursos precisam
ser gastos este ano", reforçou Adelmo. Ainda segundo ele, os dados
referentes a percentuais do orçamento aplicados na Saúde
apresentados por Marcus Pestana difeririam dos mostrados no Sistema
Integrado de Administração Financeira (Siafi). Para o deputado, no
1º e 2º quadrimestres de 2005, os gastos na Saúde seriam de 5 % e 11
%, respectivamente, abaixo dos 8,2 % anunciados pelo
secretário.
Resposta - Em resposta às
solicitações e críticas, Pestana declarou que, em relação às
negociações com a categoria, o diálogo nunca foi interrompido, mas
que se chegou a um impasse. "Existe um conflito distributivo. Temos
uma massa de recursos limitada que tem de ser alocada. Estamos
recuperando salários dentro da nossa realidade fiscal. O Estado
chegou ao limite máximo", reconheceu. Sobre as divergências nos
percentuais de recursos aplicados, Pestana avalia que "a discussão é
improdutiva", pois os parâmetros usados são diferentes. Ele rechaçou
qualquer erro nos dados do Siafi e afirmou que os "restos a pagar"
seriam totalmente executados.
Com relação aos preços citados por Adelmo Carneiro
Leão, o secretário refutou as acusações, informando que as
licitações foram feitas por pregão eletrônico. Segundo ele, todo
medicamento é comprado por consulta pública; o pagamento é efetuado
por ordem cronológica e não há manipulação de fila. Quanto às
ambulâncias, Pestana disse que foram compradas por pregão
eletrônico, da Fiat Automóveis. "Compramos barato e garantimos
empregos no Estado", reforçou, finalizando com a afirmação de que o
governo tem um compromisso irrefutável com a transparência e a
ética. Também presente à reunião, o 1º-vice-presidente da ALMG,
deputado Rêmolo Aloise (PSDB), sugeriu que as denúncias do deputado
Adelmo Carneiro Leão fossem formalizadas através de
requerimento.
Presenças - Deputados
Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente; Carlos Pimenta (PDT), vice;
Doutor Ronaldo (PDT), Fahim Sawan (PSDB), Edson Rezende (PT), Dinis
Pinheiro (PSDB), Rêmolo Aloise (PSDB), Antônio Júlio (PMDB), Márcio
Kangussu (PPS), Gil Pereira (PP), Alencar da Silveira Jr. (PDT),
Alberto Pinto Coelho (PP), Célio Moreira (PSDB), Domingos Sávio
(PSDB), Gustavo Valadares (PFL), Leonardo Moreira (PFL), Luiz
Humberto Carneiro (PSDB) e deputada Jô Moraes (PCdoB). Também
participaram da reunião o assessor técnico do Conselho de Saúde em
Orçamento e Finanças do Estado, Paulolinto Pereira; o médico fiscal
do Conselho Regional de Medicina, Luciano Wagner Reis; e o assessor
da SES, Antônio Jorge de Souza Marques.
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